quinta-feira, 19 de julho de 2007

lápis azul


Houve um tempo em que, inocentemente, se encapavam os livros proibidos para que a PIDE não soubesse que os estávamos a ler. Era gato escondido com o rabo de fora e nem sei bem o que é que a polícia política pensava de tanta estupidez. Talvez a encarassem como um sinal de respeito, tipo: se lhe tirares a capa, prendemos-te. Ora bem...
Agora a política é polícia e manda que se subtraiam aos jornalistas os seus instrumentos de trabalho. Que toda a informação sobre crimes se torne ela própria crime. Que se persiga quem informa em vez de se ir simplesmente atrás dos criminosos.
Não tarda, serão os jornalistas a pedir, na redacção: "Ó chefe, passa-me aí o lápis azul? Acabou? Não faz mal, o vermelho também serve..."
Pois serve, porque a partir de agora os órgãos de comunicação social só vão dar receitas, escrever sobre festas e transcrever os discursos dos políticos. Também não é preciso muito mais, agora que a Internet menorizou o papel da informação, pondo-a ao alcance de qualquer teclado doméstico.
E não está mal, porque para todos os efeitos havia de se aprovar a censura mais tarde ou mais cedo. Por isso tinha de se arranjar outra forma de comunicação, social ou anti-social, não importa. O que importa é que se entreguem computadores ao povo e se eduquem as massas na literacia da rede.
Se a seguir os provedores de serviços conseguirem ganhar a batalha de serem eles a decidir os conteúdos a que devemos ou não ter acesso, isso são outros trezentos. Porque a alternativa a comer o que os outros escolhem é assumir a condição de pária e prescindir do acesso a todas as ferramentas de comunicação pela rede que, pouco a pouco, se vão instalando na nossa vida.