terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

esperança, coragem e êxito

Não há ninguém mais duro consigo mesmo que um português. De onde vem tamanho espírito crítico, não sei. Mas desconfio que, de tanta mistura de origens, se tornou fácil e natural apontar o dedo ao vizinho.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

combinações imprevisíveis

Os pais transmitem aos filhos o que acham correcto. A combinação disso e do que eles já trazem consigo é praticamente imprevisível. O importante é que todos estejam a fazer o melhor, no limite das suas capacidades e das circunstâncias. Mas o desafio também nos faz crescer, apesar dos ocasionais murros no estômago. A Natureza é como um gato à espreita da melhor oportunidade para se lançar sobre nós.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

mais mais abril

Zeca Afonso morreu há vinte e cinco anos. Foi professor no então Liceu Pêro de Anaia, na cidade moçambicana da Beira, e um dos professores a interrogar-me durante o exame de admissão. Tinha eu nove anos e vi-me grega quando, depois de me perguntar por que razão perdera Portugal o Brasil, descartou a minha resposta para me esclarecer: Mamou demais na vaca! Anos depois, à entrada no mesmo liceu, às sete da manhã para mais um dia de aulas, vimo-nos de súbito fechados dentro dos páteos e cercados pela PIDE e pela polícia. Alguém tinha pintado uma cruz suástica na entrada do liceu e continuado a obra pelos corredores, com frases dos Vampiros, de Zeca Afonso, escritos nas paredes. A vaca continua a ser explorada hoje e precisávamos de outro Abril em Portugal, na Grécia, na Europa e em muitos outros lugares. Venham mais cinco!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

grega e passada

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A língua portuguesa tem coisas muito peculiares. Será que a expressão vejo-me grega para já estava a anunciar a actual conjuntura?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

gente

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Lixo, gregos, caloteiros, improdutivos, gastadores, desgovernados. Lê-se e ouve-se de tudo um pouco nas notícias. Parece um concurso de palavrões, a ver quem descobre um adjectivo pior para nomear gente que, na pior das hipóteses, é de facto vítima de um sistema económico que parece um jogo de monopólio de uma mão cheia de inescrupulosos chicos-espertos que arranjaram uma forma de extorquir legalmente dinheiro ao mundo inteiro.
Será de facto legal combinar uma série de normas de funcionamento das transacções de mercado e financeiras com o único propósito de, no final do jogo, ter o controlo absoluto da riqueza ou pobreza de toda a gente? Não haverá um juiz, um país, alguém que denuncie a má fé e a grotesca ganância que tornam a simples existência de milhões de pessoas um inferno?
Não haverá, sobretudo, quem se ache suficientemente livre para falar e dizer o que realmente se passa, em vez de colaborar com a propaganda da crise e contribuir de forma culposa para a persistência deste fenómeno?
Não são os cidadãos de um ou de outro país os culpados desta situação; não foram eles que gastaram e puseram as poupanças no sítio errado; mas os eleitos para por eles zelarem pela sua segurança e bom governo. Esses são, de facto, o lixo apontado pelas agências mercenárias, os caloteiros, improdutivos, gastadores e desgovernados.
Viragem à direita? Mais um ciclo de ditaduras, como reza a História? Só que a História nunca antes esteve ao alcance de um clique de computador ou de uma mensagem de telemóvel. Tal como nunca nenhum autor de ficção científica previu o aparecimento da Internet, acreditam mesmo que esta geração de políticos, que nem os bilhetes de autocarro lê, tem capacidade para prever as consequências da mesma Internet e da comunicação maciça dos dias de hoje nos ciclos da História?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

o poder de uma relação


Sou um universo dentro de um universo. E se quero dar-me bem nessa relação, tenho de entender as suas regras de funcionamento. Para isso tenho de aprender algumas coisas. O conhecimento científico concentra-se nos pormenores para, um destes dias, chegar ao Grande Esquema de Todas as Coisas. Eu, que não sou cientista, uso modestos modelos à minha escala. Olho, por exemplo, para o João, que é um universo como eu. Quero dar-me bem com ele, por isso fico atenta aos sinais que me envia e tento alinhar a minha actuação por esses sinais. Não posso chegar ao pé do João, que é o universo, e acotovelá-lo, empurrá-lo, suprimir partes de que não gosto. Isso tem consequências que, sem dúvida, serão desagradáveis e incontroláveis para mim. Por isso, chego-me, mansa, e observo, aprendo, não faço nada que não gostasse que fizessem no meu próprio universo. E consigo a tal relação. Creio que é esse o sentido que se atribui às leis universais: procurar uma relação harmoniosa com o universo. É claro que a fé também desempenha aqui um grande papel. O meu mundo/universo só evolui na medida exacta do que eu acredito que ele se pode tornar. Se eu acreditar que o universo é uma coisa caótica e temível, então essa é a opção que faço e vou à procura da confirmação necessária. Num instante, toda a minha energia e atenção se focam nessa opção e o meu universo transforma-se, num instante, na coisa caótica e temível que me dei ao trabalho de imaginar e escolher. No entanto, há mais opções. E entre elas também está a minha possível opção de viver num universo cheio de potencial, harmonioso e feliz. O meu livre arbítrio molda, nesse caso e todos os dias, o meu universo. Tudo se resume à relação que criamos com as coisas e com os outros: uma boa escolha traz sempre bons resultados; o medo e as suas fantasias apocalípticas, traz o equivalente para a nossa vida. É difícil escolher? Nem por isso. Mas as décadas de propaganda de desgraça com que nos bombardeiam produzem frutos e fazem-nos acreditar que nada mais há senão isso. Perceber que sim, que há sempre escolha, pode ser difícil quando passamos a vida com medo que o céu nos caia em cima da cabeça. Mas façamos como o Peter Pan: viremos as costas à Maldade; não a vemos, não a ouvimos, não lhe reconhecemos a existência. O que fica? Tudo isso, mas num palco vazio, sem público, sem um espelho para lhe devolver as maldades.