quarta-feira, 30 de maio de 2012

justiça

A única coisa verdadeiramente em crise a nível global é a Justiça. Por alguma insondável razão, as pessoas que neste momento se concentram a dar forma a esta nova Idade Média, subjugando biliões de pessoas a uma nova escravatura, acreditam que vão sair para sempre impunes dos seus crimes.
Porque é crime sujeitar um ser humano a uma vida de sofrimento e exploração, sem lhes dar sequer a oportunidade de acreditar que há outras formas de existir. É crime retirar toda a forma de subsistir e de esperança, de se defender e de ter uma participação activa nas decisões para a sua vida.
A conjuntura não explica mais do que a capacidade de uns milhares subjugarem todos os outros. E de terem organizado um sistema de leis em que as suas acções não são jamais sancionadas, enquanto tudo o que seja da livre iniciativa dos outros esteja limitado por regras incapacitantes.
A Justiça é a maior executada neste sistema imaginado para produzir o terror e inibir o livre arbítrio. Caiu nas mãos de uma gigantesca operação de marketing e é fuzilada todos os dias por milhões de regras criadas para a manietar e a lançar contra aqueles que deveria defender.
Precisamos de uma OPA sobre a Justiça, orientada para os desclassificados do sistema, de forma a que se crie uma corporação de direitos que sirva de facto o indivíduo e não essa gigantesca máquina neo-feudal que já ninguém governa nem sabe como parar.

terça-feira, 22 de maio de 2012

os xamãs de hoje

Artwork by MMFerreira
 Na secura do materialismo dos dias de hoje, os artistas são os únicos xamãs aceites e autorizados pela sociedade. Repositórios de conhecimentos esquecidos e ligações misteriosas com mundos paralelos de imensa riqueza, materializam-nos em manifestações artísticas que nos devolvem visões surpreendentemente belas, equilibradas e arrebatantes da realidade.
Em oposição a quem considera a arte fútil e inútil, quando vejo as multidões que acorrem a concertos, espectáculos e outras realizações criadas por gente capaz de ver e viver além da parca economia de sobrevivência, regozijo-me sempre com a eterna capacidade para sonhar e reinventar a realidade de que são capazes os artistas.
Toda a gente sabe que a arte não dá de comer porque o ouve repetidamente ao longo de toda a vida. No entanto, poucos são os que resistem ao arrebatamento de uma canção, de uma representação, de uma pintura, de palavras ditas e escritas.
É magia, sim, essa forma de comunicar com o que dentro de nós explode quando se encanta com uma peça artística. É magia essa coisa de pegar em sentimentos, objectos inertes, irracionalidades e transformá-los em coisas que fazem sentido, sendo embora intraduzíveis mesmo quando é nas palavras que desenrolam a beleza pela qual todos suspiram.
É magia essa capacidade de apelar com tanta autoridade ao que dentro de cada ser humano grita por algo mais.
O artista é o xamã que, com olho mágico, escrutina a alma e arranca dela ansiedades incontroláveis, desejos profundos, novas visões. Momentaneamente despojado das amarras materiais, mergulha no inconsciente colectivo como um caçador de pérolas para trazer à superfície minúsculas porções de riqueza.
Pode passar uma vida inteira sem o reconhecimento material do seu trabalho ou dos seus pares, mas dedica teimosamente toda a sua energia ao que é a sua função nesta vida. O seu trabalho aparentemente irracional e louco completa lacunas e é em geral tolerado. De vez em quando, censurado, porque também há quem nele intua a capacidade de uma arma. Não das que tiram vidas, mas das que a renovam e revolucionam.
Sem o peso do controlo humano que onera crenças e religiões, o xamã-artista circula quase livremente entre nós, contribuindo decisivamente para a contínua transformação de ideias e conceitos. É um visionário cujo rótulo de inutilidade é, de facto, o seu melhor escudo contra o controlo do estabelecido.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

hoje, o foco

Artwork by MMFerreira
Hoje fiz umas curvas e acabei por reencontrar um caminho. Com facilidade, diga-se. Basta olhar em volta, identificar, enumerar e verificar que padrões nos chamam mais a atenção. E hoje foram estes, em laranjas, amarelados, cremes e verdes. É fácil deixar fugir uma ideia central quando tanta coisa à nossa volta parece empenhada em distrair-nos do foco principal. Afinal, não é nada do que está à volta. É apenas falta de foco. Somos nós que temos de agarrar uma ideia e mantê-la sob apertado controlo. E todo o caos se organiza como por milagre à nossa volta.