quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

continuem a sonhar

foto daqui
Nos idos anos 80, quando ainda era a única via de comunicação entre Lisboa e Cascais, alguns dos troços da belíssima Estrada Marginal estiveram sob ameaça de colapsar devido à erosão provocada pela água do mar.
A construção da autoestrada de Cascais, a partir de Caxias, foi acelerada para acautelar um iminente corte da circulação rodoviária. Na década de 90 a A5 passou a ser a grande alternativa à Marginal.
Agora, por causa do estado degradado da ligação ferroviária da Linha do Estoril, o grande plano é dedicar uma faixa exclusiva da autoestrada aos autocarros.
No entanto, alguns dos defensores dessa medida são os mesmos que se propõem construir mais uns fogos descaracterizados à entrada de Cascais, aumentando com isso a circulação automóvel nuns milhares de unidades, sem outras preocupações que as de 'plantar' mais imobiliário numa das zonas nobres da vila.
Dentro do mesmo obscuro raciocínio surge a venda do antigo hospital de Cascais para acolher o primeiro pólo universitário privado de medicina do país. Numa zona já há muito saturada em termos de circulação e estacionamento.
Farão estas medidas sentido para o benefício dos munícipes? Que capacidade real tem o centro histórico da vila para sustentar este tipo de projecto, quando estudos feitos se pronunciam contra as consequências do mesmo?
A quem interessam estes projectos megalómanos que enchem Cascais de betão e agravam as condições de vida de todos?
Não seriam estes projectos, e outros, como a mega escola de Economia, à beira-mar de Carcavelos, mais úteis no interior do concelho, onde o investimento teria um efeito bem mais benéfico para as populações, diminuindo as assimetrias em relação ao litoral?
Por que razão os cidadãos de Cascais não se pronunciam sobre estas questões, deixam vazios os lugares destinados ao público nas sessões camarárias e da Assembleia Municipal, vertendo todas as escolhas para as mãos de quem devia proteger os seus interesses mas, pelos vistos, não o faz?
Acham que depois destas e de outras aberrações decisórias os turistas vão continuar a chegar aos magotes para visitar o inferninho em que a Costa do Estoril se vai transformar?
Continuem a sonhar...

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

pequenos e grandes náufragos



Uma vez tive de explicar o que era isso da alma do fado, a amigos de diferentes partes do mundo, veio-me a lembrança deste poema de Cecília Meireles (Naufrágio), musicado por Alain Oulman e cantado por Amália.

Pus o meu Sonho no navio / E o navio em cima do Mar / Depois abri o Mar com as mãos (com as mãos) / Para o meu sonho Naufragar // Minhas mãos ainda estão molhadas / Do azul, (do azul) das ondas entreabertas / E a cor que escorre dos meus dedos / Colore as areias desertas // O vento vem vindo de longe / A noite se curva de frio / Debaixo d'água vai morrendo / Meu sonho (vai morrendo) dentro do navio // Chorarei, quanto for preciso / Para fazer (para fazer) com que o mar cresça / E o meu navio chegue ao fundo / E o meu sonho desapareça // [Depois tudo estará perfeito / Praia lisa, águas ordenadas / Meus olhos secos como pedras / E as minhas duas mãos quebradas]

Era o único que tinha na memória, por mor de se me ter atrasado um pouco a Portugalidade. Nada e criada em Moçambique, o género musical era-me quase tão estranho como aos ouvidos de outras nacionalidades. Mas esta letra em particular, que me encheu de incredulidade, ficou para sempre.
A sua tradução provocou a mesma reacção nos meus interlocutores. Em conjunto, interrogámo-nos sobre o possível sentido de ter um sonho e afundá-lo no mar. Ou em qualquer outro local.
Isso, ou a tremenda derrota que habitualmente se canta em muitos fados, como característica de um povo de que se diz ter dado novos mundos ao mundo, é um conceito estranho, ilógico, quase inexpressível.
Mais tarde aprendi a apreciar a fantástica capacidade portuguesa para abraçar todos os extremos, tão ilogicamente quanto possível, o que é, no fundo, uma forma de exprimir a grande tendência nacional para a aceitação.
Pelo meio fica o fado, às vezes brejeiro e leve, outras vezes trágico e desesperado. Ficam essas pessoas que apreciam a vida e a sua dualidade, expressa em poesia e música, ou choro e luto, nas ondas que a vida traz.
Queiramos ou não, o nosso fado são esses sonhos e esses naufrágios que endeusamos num género musical que tão depressa nos ensombra com tragédias, como nos empolga em fantasias.

sábado, 2 de dezembro de 2017

lua cheia


Hoje é dia de lua cheia. Ainda não decidi se vou virar bruxa, lobanil ou rã. Ou, mais simplesmente, se deixo o cardápio em aberto. Se dividir convenientemente a noite, osso ser tudo. Se não me perder para sempre nos prazeres de cada personagem...
É um erro recorrente na nossa vida, acharmos que devemos permanecer um determinado tipo de personalidade, só porque confundimos isso com força de carácter. Mas não é nada disso. Devemos perder o medo de mudar as facetas da nossa personalidade e deixar de exigir aos outros o mesmo.
Hoje é dia de lua cheia e de começar de novo. Hoje e sempre, comecemos muito e vejamos o que dá mais certo. E enquanto dura, vida doçura.

domingo, 19 de novembro de 2017

água e equilíbrio

Foto Mafalda Mendes de Almeida
Não se previnem secas deixando de regar jardins ou cortando a água às fontes. O deserto não pode tornar-se ainda mais árido porque falta a água. Ou melhor, a água não falta. Falta a vergonha de admitir que se faz com água o mesmo que se faz com as grandes fortunas, acumuladas nas mãos de um punhado de gente a quem falha o entendimento do equilíbrio de todas as coisas.
Faz algum sentido que pelo menos setenta por cento do corpo humano seja água e tenha surgido dessa forma num mundo com escassez da mesma? 
Também não faz sentido que as pessoas que se elegem para defender os interesses de todos não expliquem detalhadamente por que razão se fecham poços se proíbe a livre utilização de água e se esconda a informação devida sobre as reservas naturais de água.
Ou que não se eduquem as pessoas de forma a saberem gerir os recursos naturais nas suas casas, jardins, ruas, vilas, cidades e países.
Sobretudo, não se fecha a torneira para as zonas verdes para criar ainda mais hostilidade climática e desequilíbrio.
Quando é que se começará a exigir dos governantes que liberem a água dos lençóis freáticos, que não é nem dos governos, nem das empresas que escolhem para os/nos explorar? Quando se exigirá que além de uma aposta maciça na educação, implementem mais zonas verdes em todo o lado, cisternas e outros sistemas de recolha e tratamento de águas, para benefício comum e imediato de todos?
Em vez de secarem propositadamente o planeta, a missão de qualquer governo é fazer tudo ao seu alcance para evitar a seca que nada mais é do que o reflexo de todos os abusos que se habituaram a cometer sobre pessoas e espaços comuns.
E se um governante faz questão de nos assustar sobre este tipo de calamidade, sem qualquer proposta concreta, então faz parte do problema e deve ser erradicado como qualquer seca, crise e malfeitoria que se abata sobre a cabeça de todos.
A água é um bem de todos e todas as medidas que isso contrariam devem ser encaradas como um crime grave contra a Humanidade. Haja vergonha e mais acção concreta para manter um equilíbrio que nos é devido.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

o inquilinato tonto

Biscaia by MMF
Vimos a este planeta como uma mão cheia de terra, que usamos até o abandonar. Aqui dependemos da nossa ligação a todos os elementos para sobreviver. Os nossos pulmões de nada servem sem as árvores e outras plantas, o nosso corpo não funciona sem água e comida. E quando nos vamos embora, essa mão cheia de terra regressa à Natureza, ao seu estado primordial.
Esquecemo-nos com frequência do que somos realmente e não nos chega o que temos todos os dias à nossa frente. Inventamos uma espécie que gostaríamos que fosse única e atribuímos-lhe uma personalidade que imaginamos mais atraente do que a matéria de que somos feitos.
Se os nossos primeiros antepassados tivessem um vislumbre do que somos agora ficariam estupefactos com a ficção em que se tornou a nossa vida. 
Ficariam incrédulos com a exploração da água e das fontes de energia, que são do planeta e para uso de todos os punhados de terra existentes, porque nunca foram de ninguém, nem poderão jamais ser. Tentariam chamar-nos à razão sobre os instintos de posse e os loucos conceitos de propriedade que desenvolvemos. Como podemos arrogar-nos esses atributos, se para começo de conversa só estamos aqui de empréstimo, por umas escassas dezenas de anos e para seguir depois viagem?
Como seria possível entenderem o inferno em que transformámos a nossa passagem pelo planeta, com leis e regulamentos cada vez mais intrincados e disparatados, por não terem em conta a verdadeira natureza da nossa estada aqui?
Que sentido poderia possivelmente fazer a educação que recebemos de nascença, de uma identidade cega para o nosso planeta hospedeiro e para com a sua abundância e generosidade, que desbaratamos com a alucinação das medíocres ideologias que vamos construindo à medida dos nossos pequeninos desejos de posse?
A Terra não tem problemas e sobreviverá a todos os atentados que nela cometemos. Quando tornarmos a nossa vida insustentável aqui, retomará tranquilamente o seu equilíbrio e aguardará novas visitas, sem medos tontos de aniquilações várias.
O planeta também tem a sua alma/ânima e não se sustenta de dúvidas existenciais. Essas ficam para os seus destituídos inquilinos ocasionais, com as suas fúteis pretensões de poder e domínio sobre a matéria.
Como pode alguém pretender dominar um planeta, se não consegue perceber que faz parte dele?

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

tédio, tédio, tédio

"Spiritual pollution tv" by Ashoka
Como se não bastasse a confrangedora exibição de estupidez de que se compõem os intermináveis anúncios publicitários dos dias de hoje -- a sério, acreditam realmente que os consumidores são tão estúpidos como os conteúdos com que supostamente os vão induzir a comprar mais? --, há ainda a completa gonia de passar de canal para canal e assistir a 99 por cento de filmes de teor policial, crimes e violência. Sem escolha possível, assinando nove ou mais de trezentos canais.
Sem falar da anormalidade de programas sobre futebol -- nenhuma outra modalidade tem direito a qualquer tipo de programa de interesse, a menos que sejam os Jogos Olímpicos e outros eventos com bastantes direitos de transmissão garantidos.
Que tipo de direcção de programação acredita realmente que está a prestar um bom serviço, público ou privado, alimentando este tipo de tédio mental? Que culpa têm as pessoas de que haja gente muito limitada a escolher os conteúdos de todos os canais de televisão? 
Com um pouco de sorte, alguém um dia se lembrará de sacudir o marasmo embrutecedor da televisão com apostas mais variadas e saudáveis, com vantagem para os consumidores e para os bolsos de quem acredita que merecem melhor.
A produção nacional segue, infelizmente, o mesmo caminho. Não por falta de criatividade das propostas, mas por completa cinzentice de quem decide e escolhe o que há-de ocupar os tempos de antena.
Para quem acredita que um cargo de direcção tem prestígio, é difícil entender como conseguem prestar-se a tanta medriocridade.


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

cães selvagens na duna

Photo by Mafalda Mendes de Almeida

Começaram por ser abandonados na rua, os cães de grande porte que agora se refugiam na duna da Cresmina e se tornaram selvagens. Ainda hoje se avistaram dois, tranquilamente deitados ao sol.
O problema começa quando se junta uma matilha com pelo menos seis destes cães que se refugiam mos buracos e vegetação cerrada e buracos na faixa dunar que vai do Guincho à Costa da Guia, passando pela Quinta da Marinha.
São locais de lazer de que muita gente desfruta em passeios e visitas, sem suspeitar que a qualquer momento podem cruzar-se com estes animais que se habituaram a sobreviver sem a ajuda do homem. 
Passam a maior parte do tempo longe da vista dos humanos que, inicialmente, os acolheram nas suas casas e depois traíram a sua confiança largando-os na rua, quando deixaram de ter graça e a exigir mais do que os seus irresponsáveis "donos" acham que eles merecem.
Transformam-se assim em cães "selvagens", juntos numa matilha que por vezes assusta e ameaça quem caminha pelo passadiço.
Há meses que se alertam os rangers da Cresmina para a sua presença e se espera que uma equipa de resgate da Fundação Francisco de Assis consiga apanhá-los.
Com um bocado de sorte, evitarão os seres humanos de que aprenderam a desconfiar e, se tudo correr bem, ninguém terá de os enfrentar numa situação mais extrema.
Ficam as óbvias perguntas: não haverá mais a fazer do que aguardar que uma equipa de resgate consiga deitar a mão a estes cães? E que lhes acontecerá depois de serem "resgatados"? Estarão tomadas todas as medidas e cautelas para prevenir encontros indesejados com estes animais que também são vítimas involuntárias dos caprichos humanos?

domingo, 5 de novembro de 2017

deliciosos domingos

photo by Mafalda Mendes de Almeida
O que faz do domingo um dia tão delicioso? O pequeno-almoço na cama ou a sorna sem rotinas obrigatórias? A preguiça ou um filme que se vê no sofá? As almoçaradas com a família ou amigos?
A resposta não está na convenção de um dia de descanso, como o sábado, sugerido pelas linhas-guia dos escritos religiosos. Nem no código do trabalho. Ou no ritmo hiper galopante do que consideramos ser as rotinas obrigatórias dos nossos dias.
Domingos ou outros dias para esticar preguiçosamente as pernas são dias deliciosos porque temos tempo para pensar e estar connosco. Para repensar os rumos que tomamos e fazer um balanço do que realmente vale a pena. Ou simplesmente para relaxar e sentir o corpo, respirar e outras pequenas coisas essenciais que não nos damos ao trabalho de respeitar todos os dias.
Mesmo assim há quem se infernize com a antecipação de voltar ao trabalho na segunda. Sem dar conta que reiniciar mais uma semana também é um poderoso gatilho para mudar e começar de novo se alguma coisa não está a dar certo.
Afinal, somos todos cientistas de primeira água. ocupadíssimos, durante toda a vida, a falhar e a voltar a tentar, a aprender com os nossos erros. Por isso, todas as segundas-feiras são para ser naturalmente contabilizadas como novas fases de testes. Aproveitemos.
Voltando aos nossos deliciosos domingos, que bem sabe ficar a olhar para o tecto na cama, demorar a decidir o que se toma como pequeno-almoço, o que vai deixar de se fazer porque, de repente, se tem consciência de que somos livres e podemos mudar as nossas escolhas rotineiras como nos apetecer.
O problema é que não temos noção disso todos os dias, vá lá saber-se porquê...
Domingos são dias de nada e, como o nada não existe, são dias de tudo. De todas as possibilidades em aberto. Já pensaram bem nisso enquanto se arrastam de um lado para o outro a pensar como podem aproveitar melhor a folga para ser tudo sem ser nada?
Santa Abacate nos dê muitos domingos deliciosos para entendermos de uma vez que é possível ser e ter tudo quando não nos apetece fazer rigorosamente nada. 

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

mea, mea culpa

photo by Mafalda Mendes de Almeida
Há coisas que são demasiado sérias para se ignorarem. Como acções que nunca se devem permitir e silêncios incompreensíveis sobre elas.
Diz a lei que o respeito pelos representantes do povo é um dever. O que é de grande sensatez, visto que não é apenas o indivíduo visado que é desrespeitado, mas o conjunto de pessoas que o elegeu.
Por isso é tão dolorosamente estranho observar a forma como os vereadores da oposição são tratados em sede das reuniões da Câmara Municipal de Cascais. E como ninguém se manifesta contra isso.
É sabido que há uma coligação maioritária no poder, mas isso não justifica o desrespeito pela lei e pelos valores humanos que nos conferem dignidade.
Na última reunião do executivo, os vereadores da oposição foram sistematicamente tratados como caloiros ignorantes pelo representante da referida coligação, cuja obrigação é defender, no mínimo, todos os cascalenses, independentemente da sua orientação partidária.
Em vez de esclarecimentos, rebaixam-se os intervenientes, como se de cidadãos de segunda ou terceira classe se tratassem. Sem o mínimo sinal de reconhecimento do abuso verbal da parte de qualquer dos presentes, com assento na mesa ou entre o público.
Como se o bullying fosse aceitável num sistema que se quer democrático. Se não estamos num regime totalitário, que medo é esse que se sente em sessões públicas dos poderes locais? Que se passa no consciente e inconsciente colectivo dos cascalenses? Que paralisia é esta a que se assiste?
Na mesma sessão, um vereador da oposição foi três vezes chamado desonesto, como se um insulto desonroso fosse uma coisa aceitável numa reunião oficial e pública. Na última votação dos trabalhos, foi liminarmente recusada a declaração de voto a outro vereador, sem outra justificação que o "Não lhe dou a palavra" de quem presidia aos trabalhos. (Ver aqui.)
Não havendo capacidade de reacção pública a este tipo de conduta, resta concluir que, por força do hábito repetido do abuso, abusadores e abusados estão inexplicavelmente enredados em dúvidas  e confusões sobre o que é certo e o que é errado na generalidade.
Se a consciência de uns e de outros não encontra forma de reagir e prevenir estes factos, não nos resta outra hipótese senão a do bom exemplo:
  • Pedir publicamente desculpas pela injustiça perpetuada pelo conjunto de indivíduos que lidera a coligação maioritária no concelho, porque erradamente confundem o abuso de poder com a honra de servir com humildade e honestidade todos os munícipes. 
  • Pedir desculpas porque, pessoal e individualmente, somos todos responsáveis pela permissividade que infectou a auto-estima geral e permitiu que este tipo de situações tenham lugar.
  • Reiterar publicamente o compromisso de adoptar todos os meios ao nosso alcance para que não se repita o sucedido e se restaure a dignidade das reuniões do executivo que dirige os destinos da nossa terra e, por conseguinte, a sua imagem pessoal e pública.

A bem de Cascais.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

o que se sabe sobre as bruxas



O que toda a gente sabe sobre as bruxas é que elas são feias, têm narizes disformes e aduncos, verrugas nos sítios mais improváveis e que dão umas gargalhadas horríveis. 
Também se sabe que as mulheres ruivas são bruxas, como dizia a inquisição, que aqui por terras lusas se encarregou de matar umas dezenas de milhar de mulheres por essa razão. Só ficou por explicar que outras razões levam pessoas aparentemente normais a queimar mulheres, seja por que razão for.
É igualmente sabido que as bruxas são as que empatam as fadas, se bem que hoje já se tem consciência de que as fadas se fartam de empatar as bruxas, mas elas é que ficam com a fama.
Hoje, que é o dia das bruxas, temos de convir que elas são é umas grandes malucas, com propensão para voar por aí soltas em vassouras, coisa que mais ninguém se atreve a fazer. Vão passar a noite na maior farra, a beber e a comer como se não houvesse amanhã, a explorar prazeres que a maior parte de nós nem se atreve a pronunciar.
Será isso mau? Se fosse, mesmo a sério, por que usaríamos um dia, ou melhor, uma noitada de bruxas para nos lembrar que é possível enlouquecermos um bocadinho de vez em quando. Na minha opinião, o dia destas criaturas aparentemente horrendas celebra-se para provar que nem o horrível é permanentemente mau, nem o bonito é permanentemente bom.
É possível ver bom e mau em todo o lado e gozar um pouco à maneira dos que se permitem essa liberdade, apesar dos preconceitos e das moralidades apressadas com que gostamos de nos armar em santinhas e santinhos.
Ter um dia para fazer da farra o único sentido da vida é ou pode ser tão bom como ter outro para enterrar a cabeça no trabalho (e há muitos mais dias para isso). Não é por nos concedermos essa liberdade que perdemos a face e podemos continuar a ser uns chatos entediantes e entediados o resto do ano.
Portanto, feliz dia das bruxas. Farremos!

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

a vida moral dos autómatos


A vida moral dos autómatos é impecável: não saem da linha, cumprem as regras, todas as questões são a preto e branco, não se questionam, nem questionam ninguém.
Nenhuma resposta é desagradável quando se evitam as perguntas traiçoeiras, que põem em causa as regras estabelecidas, mesmo quando se revelam manifestamente inadequadas ao bem-estar de todos.
Ser um autómato feliz e moralmente resolvido pressupõe ver, ouvir e falar o menos possível. Desviar os olhos quando se observa um erro de programação capaz de arruinar décadas de felicidade contida em meia dúzia de parâmetros jamais verificados ou contestados.
A vida moral dos autómatos é plenamente justificada pelo que outros decidem como uma formatação adequada. Pouco mais é preciso para sustentar a sua felicidade.
Imaginem, no entanto, que determinadas situações, não planeadas ou simplesmente inesperadas, provocam um curto-circuito nestes compostos de regras pré-programadas. O resultado são autómatos a bater mal, desajustados das funções que lhes foram acometidas e, portanto, perfeitamente inúteis.
A sua condição de autómatos jamais lhes permitirá a liberdade de sacudir as regras e assumir uma nova programação. Ditaram-lhes a vida dessa forma, limitada, com um punhado de funções apenas, excluindo outras razões e alternativas.
Resta-lhes a reciclagem, a redução final às suas partes aproveitáveis. Sem consideração pelo resto que eventualmente poderão ser, pois o seu contrato prévio de funcionalidade neste mundo só contempla a utilidade para outros. Jamais a sua.
É tramado ser um autómato moralmente impecável.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

parolismos e finezas

 Elephant in the Room – Claire Morgan – Hull UK City of Culture 2017 (Photo by Tom Arran)
Lembrava-me um amigo, aqui há dias, que a cultura não tem que ver com as artes, mas com uma fórmula mais abrangente de estar [Edward B. Tylor: cultura é "todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade"].
Algumas pessoas desenvolvem, durante a sua vida e por motivos que não vale a pena enumerar aqui, uma insegurança que as leva a considerar a sua cultura sempre aquém do que outras culturas fazem ou desenvolvem. A galinha dos vizinhos parece-lhes sempre mais gorda que a sua.
Temos então os parolismos, que são aqueles considerandos que levam as pessoas a aclamar cegamente o que se faz "lá fora" como o cúmulo do moderno e desenvolvido. E a desdenhar o que se desenvolve à porta como coisas sem valor e sempre abaixo dos modelos de outras bandas e outras culturas.
Não havendo nada de errado nas ideias e nas formas como se desenvolvem as culturas estrangeiras, não deixa de ser um parolismo negar a própria e condenar a criatividade local às catacumbas da inutilidade.
Por exemplo, Cascais tornou-se nos últimos anos, um exemplo de parolismo extremo. Confunde-se o cosmopolitismo com a imitação cega, compram-se mundos e fundos de ideias e espectáculos estrangeiros e não se aproveita a matéria-prima local.
O contacto com culturas diferentes nada tem de despropositado e é até estimulante. Mas dar-lhe a primazia enquanto se enche a boca com as características qualidades locais, é no mínimo insensato e arrisca uma amálgama descaracterizante que, no final, só prejudica a cultura local. Quem, no seu perfeito juízo, viria para Cascais ver o que pode ver nas suas cidades de origem?
É o talento e a cultura local que atraem gente de outras culturas. É desnecessário mostrar-lhes mais do mesmo, porque não é isso que buscam.
O medo de não ser suficientemente bom para os outros é um parolismo a evitar. O que nos faz bons é o respeito pelo que somos e fazemos, assim como o respeito pelo que os outros fazem e sabem. Conjugar as duas coisas é uma fineza de espírito que nos torna excepcionais.
[A fineza de espírito consiste em pensar com honestidade e delicadeza - François Rochefoucauld]

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

grandes tempestades emocionais


Gosto de tempestades, da violência que ocorre fora de mim e a uma distância que me coloca na tranquila posição de observadora. 
Já nas grandes tempestades emocionais que se desenvolvem dentro de nós, é praticamente impossível manter a neutralidade e não ter engajamento efectivo nas golfadas de sensações que nos provocam.
Há sempre outra forma de ver as coisas, diz gente sábia. E parece que é isso mesmo que a distância proporciona: um desligar de um certo tipo de realidade para entender que não é só desses picos emocionais que vivemos. Ou que temos de viver.
Dito de outra forma, é como se pudéssemos entender de imediato que é possível sair da sala quando a estridente ópera italiana em que a vida se transforma começa a cansar-nos e a colidir com a nossa sensibilidade ao ruído e ao excesso de drama.
Este entendimento é, de facto, a base de alguns dos momentos mais libertadores que conseguimos viver. Como um interruptor, permite-nos desligar de pedaços de realidade que não precisamos de alongar, quando tudo o que desejamos é respirar fundo e levantar voo para outras paragens.
Se calhar, as grandes tempestades emocionais estão aí para nos lembrar e treinar na arte da libertação. Soltar amarras e seguir noutras direcções. Abandonar o sofrimento e escolher caminhos mais felizes.

sábado, 14 de outubro de 2017

"fun loving birds"


Porque tudo o que precisamos na vida é de cor e animação. Não precisamos do veneno destilado vinte e quatro horas pela auto-intitulada comunicação social, nem das redes sociais. (Já repararam como se assemelham cada vez mais, sem controlo e sem regra?)
Também não precisamos das pessoas que, pessoalmente, invadem o espaço que temos com elas para destilar amarguras e fel, doenças e problemas, conflitos e raiva.
Tudo o que precisamos é de silêncio, risos, tranquilidade, alegria. E como se estivéssemos a navegar num mar de escolhos trazidos pelos acidentes e tragédias alheios, evitar a todo o custo embates com essa realidade.
É impossível recordar como chegámos a este mundo de horrores, em que ninguém tem espaço para coisas normais e amáveis. Ao ponto de já se levar a mal que alguém esteja feliz e normal, que se achem os namoros ridículos e descabidos, a boa disposição um insulto para quem já acorda em fúria com o mundo.
A cada um o seu tipo de masoquismo preferido. Ou colorido, bom humor e convicção de que se pode viver num mundo e numa realidade completamente diferentes, em que os problemas e catástrofes também existem, mas não definem os nossos dias nem o que somos.
Resgatemos a velha convicção de que também vale a pena viver bons momentos. Felicidades!

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

discriminar clientes?

foto daqui
Ao fim de mais de dois anos de reclusão forçada por incidentes de saúde, a minha mãe, com oitenta e quatro anos, foi ontem pela primeira vez ao Lidl fazer compras. Porque ainda não se aguenta muito tempo de pé, levei-a na sua cadeira de rodas.
Ficou encantada e prestou-se imediatamente a levar pela mão uma das cestas, visto que preciso das duas mãos para conduzir a cadeira. Foi dizendo o que queria, de lista em punho e, finalmente, dirigimo-nos a uma das caixas. Era a que tinha menos gente, porque apesar de haver uma em que dão prioridade a grávidas, acompanhantes de crianças de colo e idosos, não havia necessidade de recorrer a esse privilégio visto estar a minha mãe confortável e protegida das suas fragilidades.
Na caixa, voltei a colocar as compras na cesta, uma vez que é impossível manobrar a cadeira de rodas e sacos de compras. Não é costume, disse o rapaz da caixa, mas compreendeu.
À saída, o cesto apita e vem o segurança dizer que o cesto não pode sair. Expliquei a situação. Respondeu-me que para isso existiam os carros. Voltei a explicar que não consigo manobrar uma cadeira de rodas e um carro ao mesmo tempo. Expliquei que tinha o carro mesmo ali à frente e ele podia verificar que ia pôr as compras no porta-bagagens e devolver o cesto.
O rapaz tinha ordens claras: não, porque as pessoas roubam os cestos. A minha mãe indignou-se, porque não íamos roubar nada e perguntou se, afinal, não tinha o direito de ir fazer compras. O rapaz sorriu, complacente e explicou-lhe que o mercado não estava preparado para as pessoas com deficiência.
Ou seja, o mercado está deficiente em igualdade de oportunidades, porque se nem encara a possibilidade de facilitar a vida aos consumidores com menos mobilidade, e dos quais também dependem, imaginem o que sucede quando se trata de proporcionar oportunidades de trabalho...
Tudo acabou em bem porque o rapaz da segurança acabou por deixar sair a cesta e vê-la retornar tranquilamente. 
A minha mãe é que não gostou e lá se foi a alegria de voltar a fazer as suas compras, apesar da ajuda de que ainda necessita.
Pergunta final: é minha impressão ou os supermercados nacionais não estão a cumprir uma obrigação legal e, portanto, a discriminar clientes?

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

a pandemia da tristeza

foto Mafalda Mendes de Almeida
Fica-se com a impressão de que, depois de umas eleições, está tudo a postos para mais quatro anos a sonhar acordado. Há um curto pico emocional em que as pessoas se empolgam e deitam cá para fora os seus ressentimentos a propósito do que está mal.
Esse mesmo pico pode ser o suficiente para as levar às urnas, mas a seguir instala-se de novo a depressão resultante do descrédito nos resultados, nas suas consequências efectivas. Devia ser possível processar os responsáveis por esta pandemia [substantivo feminino; med.: enfermidade epidémica amplamente disseminada] de desânimo, de consequências incalculáveis a nível individual e colectivo.
Em Cascais, onde a paisagem natural tem artes de cenário de encantos e promessas, é fácil distrair a mente com a beleza. A falta de consciência dos líderes é substituída pela contemplação passiva do que é mais belo e afinal ainda vale a pena.
Este tipo de tristeza paralisa e impede a reacção necessária para mudar e tratar a raiz do problema. Não tendo em que acreditar, os cascalenses fecham-se na sua redoma e temem o insucesso de iniciativas diferentes, que proporcionem resultados diferentes.
A pandemia aqui, à semelhança do que acontece em muitos outros sítios, é uma morte silenciosa que extinguirá a beleza natural e, em seguida, os que a admiram mas não têm coragem para dar um passo na direcção certa. Continuarão a sonhar, convencidos de que é bom e que é tudo o que lhes resta.
No entanto, o sonho existe para se pôr em prática, para sacudir a poeira e para nos encher de ânimo. Há um remédio para tudo, mesmo para a tristeza. E saber por que razão ela se instala é o primeiro passo para a combater e exigir o resgate das coisas verdadeiras e que valem a pena.
A bem de Cascais e de todas as pessoas de bem, vamos curar esta pandemia?

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

avanquemos com serenidade

foto daqui
Cascais amanheceu com novos cartazes nivea men a agradecer o renovado avancamento da terra de reis e pescadores. Parece que por ser agora de patos mansos a contemplar mais umas urbanizações de luxo, que vão brotar como cogumelos mágicos e enriquecer os boys que já não vão arranjar tachos na multinacional que desistiu de assentar arraiais por cá. E de patos mais bravos bravos do que esses, que vão despejar mais cimento na paisagem de excelência que tantos prémios internacionais tem conquistado.
Admirável concelho novo, este em que a paisagem e os marcos históricos têm como destino futuros espectáculos multimédia projectados em ecrãs gigantes estrategicamente posicionados nas rotundas e em troços de auto-estradas. São deslumbramentos compreensíveis.
Voltando aos cartazes, é bom constatar que, mesmo em tempos de crise e grandes dificuldades, a ordem é rica e a prodigalidade dos irmãos mais do que certa.

sábado, 30 de setembro de 2017

simples mudança


A mudança é simples. Está sempre a acontecer. Basta que entendamos que, de instante a instante, estamos a fazer escolhas que estão sempre a reflectir-se no rumo das nossas vidas. Coisas simples como beber um copo de água em vez de um sumo, vestir primeiro uma peça de roupa em vez de outra, conduzir por uma rua ou parar numa esquina.
Todas as acções produzem um efeito e é estar mais ou menos consciente disso que produz a nossa capacidade de mudança. Entender isso é aprender a apreciar as voltas e reviravoltas que a vida dá. O constante movimento da nossa vida. E que somos os omnipotentes autores da mudança.
Claro que não é possível adivinhar todas as consequências das nossas escolhas, porque somos, todos juntos, um imenso organismo vivo a produzir toda a sorte de novos movimentos. E apenas podemos ter alguma consciência dos nossos.
Assim dito, parece não haver controlo sobre os efeitos das nossas escolhas, mesmo as mais simples. Mas há sempre uma chave para qualquer puzzle, um sentido para a forma de jogar qualquer jogo.
No nosso caso, o truque está em jogar com o coração. Seguir o nosso instinto, acreditar no que faz sentido para nós e para os outros.
É na simplicidade que encontramos o efeito mágico da vida. Nas escolhas elementares entre o que nos serve e o que sabemos que nunca nos servirá.
A mudança é simples quando tomamos consciência de que está nas nossas mãos, em todos os gestos , em todas as decisões que fazemos e tomamos.  

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

o que importa é o coração

"O que importa é o coração" by MMF
No final do dia, o que importa é o coração. É a sensação de bem-estar por um dia bem cumprido, por se ter feito tudo o que foi possível fazer, em entrega total. Esse é o maior dos objectivos.
Não é fazer mais, mas o melhor possível. Sentir a alegria do instante em vez de ocupar a mente e o coração com objectivos irreais. Aproveitar cada momento vivido como uma dádiva que não se repete.
No final de tudo, é com o coração que queremos viver, é por ele que queremos tudo: a felicidade, as paixões, a entrega e a vertigem dos grandes saltos.
O bater do coração é o compasso certo para a nossa vida. Quanto mais erramos, mais oportunidades temos de rectificar o ritmo, de recomeçar mais e melhor.
No final do dia, tudo foi feito com honestidade, na melhor das nossas capacidades e podemos devolver a cabeça ao travesseiro com um suspiro de satisfação e a certeza que, de manhã, tudo volta a ser possível.
O que importa, sempre, é o coração e o que dele irradia. E assim seja.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

coragem, ditam elas

foto daqui
Isabel Magalhães​ e Gabriela Canavilhas​, na arruada que, segundo as más línguas, quase nem aconteceu. Entre outras alegações de escassa veracidade.
É o que acontece quando o patrão de vários órgãos de comunicação social entende que pode imiscuir-se no poder local e apadrinhar uma candidatura. Apesar de serem mais do que notórios os seus efeitos nefastos na qualidade de vida da terra em que cresceu. E a despeito do clima de terror criado para quem não alinha no compadrio local.
É por essas e por outras que se tentou sempre que o jornalismo não se deixasse contaminar pelos encantos do poder, e que constituísse, por si só, o quarto poder: com capacidade para investigar e informar sobre tudo com credibilidade e honestidade, de forma a manter uma coexistência equilibrada para todos.
Ainda vivi num tempo em que pude admirar a capacidade de um cidadão construir um império de imprensa e de televisão. Alguém assim devia ter algum valor. Enganei-me.
Verifiquei que o excesso de bens materiais se sobrepõem, ao fim de algum tempo de alguns vícios de comportamento, ao respeito pela vida, pelos outros e pelo futuro de todos os nossos descendentes.
A vergonha extinguiu-se e essa é a única justificação para o tratamento que a informação se julga no direito de pôr por escrito e dito. Uma mão cheia de rapazolas deslumbrados e influenciáveis são o suficiente para fazer contra-informação (esta sem graça, nem humor) e lançar boatos.
É de uma profunda tristeza verificar que já não existem homens e mulheres de bem que defendam o jornalismo pelo que deve ser. Milhares de carteiras profissionais estão silenciadas pelos salários de fome de que dependem. E pela vontade sem vergonha dos patroezinhos e novos-riquinhos. 
Com todo o respeito, chegou a altura do surpreendente Plutão, em viagem por Capricórnio, lhes mostrar o que é realmente responsabilidade, frugalidade e parcimónia na gestão dos recursos que são de todos e que a todos se impõem.
Valham-nos as mulheres como a Isabel e a Gabriela, que contra ventos e marés, resistem aos naufrágios e aos escolhos que lhes põem no caminho e insistem em mudar alguma coisa. É desta coragem que precisamos, não da flacidez e da flatulência de quem não larga as cadeiras do poder.

acessos condicionados

foto MMF
Há cada vez mais placas de acesso condicionado. O que se justifica quando se trata de proteger zonas sensíveis a grandes alterações. Ou pessoas em momentos de fragilidade.
O condicionamento ideal tem apenas uma tradução: a consciência de que determinados passos ou acções podem prejudicar alguém ou alguma coisa.
Como gente consciente, sabemos que não devemos ultrapassar ou eliminar os limites que vão traduzir-se em consequências nefastas para nós e para os outros.
Apesar disso, estes avisos de condicionamento tornaram-se tão comuns, que começou a ser muito fácil confundir o papel de guardião de um certo bem-estar com o de poder e posse sobre os bens que são de todos.
Por exemplo, as empresas que tornam possível a utilização de águas por todos, não são donas da água. Prestam apenas um serviço público que serve, mas que não deve ser usado para extorquir economicamente as pessoas. O mesmo se passa com as empresas que exploram a electricidade, o gás, o petróleo e outros recursos naturais. O planeta e os seus recursos são de todos e não se deve confundir um serviço com propriedade.
O mesmo se passa na política. O serviço de gerir os recursos de todos não é sinónimo de poder, mas de humildade, dedicação, honestidade. A confusão é contrária a uma consciência saudável do mecanismo próprio de todas as coisas.
O dinheiro também não é dos bancos, mas das pessoas que o ganham e o confiam a uma instituição para o manterem protegido e disponível para as suas necessidades. Não é justificável que se use como forma de chantagem e variadas imposições sobre quem é realmente dono de todo o dinheiro produzido.
As leis que defendem este estado de coisas não passam de uma súmula de regras inventadas por quem afinal defende uma péssima consciência dos direitos e deveres fundamentais, e não o verdadeiro espírito de liberdade, bem-estar e justiça para todos.
Todas estas coisas de senso comum parecem hoje, sob imposição de muita manipulação ideológica e emocional, fruto de ingenuidade em relação ao poder instituído. Mas não é verdade.
O que se passa de facto é que o verdadeiro poder é subtil e não esmaga ninguém. Quando se manifesta, garante a simplicidade e a satisfação de todos. Não complica, nem ameaça para tornar a vida cada vez mais insuportável e intrincada, uma espécie de carcereira desagradável, sombria e ameaçadora que nos traz a todos descrentes e desanimados em relação ao nosso propósito de vida.
É necessário que os novos líderes comecem a restaurar os valores autênticos que nos orientam. É imperativo e urgente que nos façam acreditar de novo no bem e na alegria de viver. 
O maior condicionamento de que sofremos é o de estar de mal com a nossa consciência. Tenhamos a coragem de o admitir e deixar que o coração nos guie, na direcção certa, com o pensamento e a acção que merecemos.
Não se deixem levar pela conversa dos papões, esses homenzinhos cinzentos e assustados com tanto medo da sua própria sombra que vivem apenas com uma crença: a da sua imposição sobre os outros como forma de se salvarem. Que cresçam e façam os seus trabalhos de casa: ninguém e nada é de ninguém, nem sequer a felicidade pessoal. 
Falai no mau, pegai num pau. Falai no bem, que ele vem também. Sejamos benéficos a maior parte dos nossos dias, para contentamento de todos e, sobretudo, do nosso.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

a estranha natureza humana

foto MMF
A estranha natureza humana, na relação com o que lhe dá materialidade, é um fenómeno a observar com atenção. 
Para escapar à intrincada colmeia social que se tornou o obrigatório tecido da vida, procuram-se os espaços ao ar livre para recuperar um equilíbrio natural, que devolva uma perspectiva mais equilibrada e tranquila da nossa passagem pelo planeta.
A surpresa consiste em constatar que, nessa busca, poucos prescindem, por exemplo, do telemóvel para o seu contacto com a Natureza. É vê-los passar de auscultadores nos ouvidos e a falar sem parar numa altura em que deveriam confiar o seu tempo e a sua atenção ao ambiente que os rodeia.
Ou a tirar fotografias em vez de usar os olhos para apreciar e gravar o melhor da paisagem. E em animadas altercações com quem os acompanha, tal é o vício de jamais estar em silêncio.
Aos fins-de-semana, então, atropelam-se em estradas, carreiros e, à falta deles, matos, dunas, rochas e declives, abordados como se de ruas e passeios se tratassem. Indisponíveis para o reconhecimento dos atributos próprios das zonas selvagens e cegos para os avisos estrategicamente colocados um pouco por todo o lado.
As zonas protegidas são encaradas como mais um jardim citadino, cães e crianças alegre e inconscientemente à solta, por correrias e perigos insuspeitados. O divórcio da Natureza não se resgata com ocasionais passeios de fim-de-semana.
Falta a consciência de que somos um com a terra e o planeta, de que o corpo que nos transporta nesta viagem a que chamamos vida é parte integrante de todo este ecossistema. De que de nada nos servem, por exemplo, os pulmões, sem as árvores e as plantas. De que o respeito por essa e outras realidades é essencial para manter a vida.
Em vez disso, aborda-se a Natureza com o "cinto de segurança" da ligação permanente às redes sociais, igualmente sem consciência de que não se trata afinal de segurança, mas de um aprisionamento voluntário a um sistema virtual, de que não se é capaz de prescindir. 
Assim se viaja pelo meio natural, a fazer de conta que é um passeio de verdade. Pois embora o corpo, os ténis e vestuário da moda estejam presentes, a mente não tem capacidade para apreciar o momento em modo de experiência física e directa.
O lixo fica para trás, como se os sistemas de recolha por ali passassem todas as noites, à semelhança do que proporcionam as vilas e cidades. Como se apenas outros, que nunca os próprios, fossem responsáveis pelo desequilíbrio e caos criado sobretudo em reservas e zonas protegidas.
Eis a estranha natureza humana, que tanto anseia por alternativas mais saudáveis e de qualidade, sem nenhuma ideia do que isso possa ser. Apesar de toda a informação actualmente disponível em milhares de páginas virtuais. E não só.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

bem plantar para melhor colher


Não voto, não dou confiança a esses palermas, disse-me alguém. Esses palermas decidem o que podes ou não fazer, que qualidade tem a tua vida, quando é que te reformas e se vais ter protecção e justiça quando precisares dela, pensei.
De que estamos a falar afinal? De comer menos batatas fritas ou mais fruta e salada? De ter filhos, escrever livros e plantar árvores? Ou de tudo isso como se fosse apenas um comentário de café, só para fazer conversa, só para mostrar como conseguimos ser deliciosamente nonchalant até com coisas sérias?
Votar é depositar uma semente na terra e esperar que cresça e dê frutos. É uma relação que se estabelece com a organização da nossa vida. É uma questão e uma acção séria, que deve ser tanto mais ponderada quanto a importância que acaba por ter em toda a nossa vida.
Não é um kleenex que se descarta, nem um concurso de caras e figuras para escolher como num álbum de fotografias: esta gosto, esta não gosto, esta é mais ou menos.
O nosso voto vai para pessoas que ficam obrigadas a tomar contada nossa casa, da nossa integridade, da nossa segurança. Alguém entrega isso a estranhos, gente menos confiável ou deixa a sua casa à mercê do acaso? Do voto dos outros?
Tanto descontentamento não merece já alguma atenção e acção? De que valem a lamúria e a raiva se não motivarem acções para a mudança? Se há tanto para protestar, por que não se faz alguma coisa para mudar?
Chega o momento em que é preciso ser coerente e prático. Em que nos levantamos para fechar a maldita torneira que pinga há anos e nos dá cabo da paciência e do orçamento.
Deixem de fingir que não se importam, porque tudo o que se houve é o que todos sabemos que está mal. Mas onde estão as pessoas dispostas a dizer que vão votar porque chegou a altura de mudar realmente alguma coisa?
Cascais foi um dos três concelhos com maior abstenção nas últimas autárquicas. Querem ver que a vocação desta terra é para a criação de avestruzes de cabeça enterrada nas dunas?

terça-feira, 19 de setembro de 2017

nas costas dos outros vemos as nossas

foto daqui
Use the right tool for the job, que é como quem diz: use a ferramenta certa para o trabalho. O que faria alguém normal, honrado, responsável, seria procurar uma fórmula própria e original de chegar as outros.
Isso seria mesmo o ideal, mas não é o que acontece quando, à falta de ideias, se pegam nas dos outros e se faz de conta que são originais. Tipo, usar cartazes com cores familiares para criar empatia com os eleitores. Ou usar as medidas anunciadas por outros como se fossem suas para preencher um programa inexistente.
Com a conivência, claro, dos órgãos de comunicação social. Esses, que tendo o dever de proporcionar igual espaço e atenção a todos, seleccionam pretensas notícias e eventos de modo a que a visibilidade contemple apenas uns e jamais outros.
Haverá realmente quem ainda acredite na decência deste tipo de intervenientes?
Pode, afinal, dizer-se use the right boys for the job, que é como quem diz: use a gente certa para o trabalho. E se o trabalho fosse bom e decente, seria ouro sobre azul.
O que se passa, no entanto, é que nenhum trabalho pode ser bom, e muito menos decente, se deita a mão a todo e qualquer estratagema para manipular a opinião pública e tapar o sol com a peneira. 
Não é bom usar nenhum poder para abusar dos outros, seja ele informativo, politico ou financeiro. Não é bom nem aceitável mentir, manipular ou usar indevidamente os instrumentos legais para conseguir pôr em prática uma agenda pessoal e de interesses privados. Não dignifica nem as empresas, nem as instituições. Não contribui para o bem geral e deve ser correctamente identificado como um comportamento anómalo, perverso e condenável.
Os meios não justificam os fins porque, em termos de efeitos, são os meios que os determinam e não os fins imediatos. Pode sempre construir-se uma bela casa na duna, mas a sua beleza nunca estará segura, pois as suas fundações não são confiáveis.
Também não é bonito nem credível mentir ou menorizar os outros, só porque têm opiniões diferentes das nossas. Porque nas costas deles vemos o que nos vão fazer e o que nos espera a seguir. Por isso, antes de escolhermos as pessoas que nos vão representar, devemos ponderar demoradamente as suas acções.
Se queremos realmente que alguma coisa mude, temos de fazer escolhas diferentes. E, sobretudo, não deixar que escolham por nós.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

outros perigos na duna

foto mmf
Recebemos avisos constantes mas, regra geral, não lhes ligamos nenhuma.
Na Cresmina há várias placas que avisam ser proibido caminhar fora do passadiço, gente ou respectivos bichos de companhia, sob pena de se ser multado, blá, blá, blá.
O que não dizem os avisos é que as piores consequências não são apenas para a duna, mas para quem irresponsavelmente a desafia.
O que presenciámos há tempos atrás foi disso um exemplo inesquecível: um jovem cozinheiro apanhado desprevenido pelo corte de trânsito na manhã de um evento desportivo, decidiu atravessar rapidamente o passadiço para chegar ao restaurante do Guincho onde trabalha.
A certa altura decidiu que fazer um atalho pela duna; era a sua hipótese de poupar algum tempo, visto o atraso que já levava. 
Conseguiu correr numa zona de pedras com alguma segurança, mas quando enveredou pela zona de areia e vegetação rasteira, a uns escassos dez metros das traseiras de um restaurante que confina com a duna, aconteceu o que podia ter sido uma inacreditável tragédia.
De repente, começou a cair e a desaparecer em buracos que não se viam, repetidamente, tendo conseguido, de todas as vezes, levantar-se e prosseguir.
Foi um espectáculo de cortar o coração ver o rapaz a tentar vencer os poucos metros que o separavam da estrada do Guincho em quedas sucessivas. Algumas delas levaram-nos a correr pelo passadiço na direcção dele, para o caso de se ter de chamar por socorro.
Ao fim de longos minutos o rapaz conseguiu chegar ao muro do restaurante e ficar em segurança. Via-se que estava exausto, mas escapou de ferimentos e de uma queda mais grave que o tivesse impedido de continuar.
Nem toda a gente terá, eventualmente, a sorte deste jovem cozinheiro. Mas continua a haver quem se aventure fora do trilho, sem qualquer consciência do que está verdadeiramente em risco.
Na presença de uma equipa da Cascais Ambiente, chamámos a atenção para o sucedido. Falaram em reforço de sinalização. A que existe nada diz, de facto, sobre a possibilidade do descrito acima.
Será o suficiente para evitar acidentes insuspeitados?

domingo, 17 de setembro de 2017

o silêncio dos descontentes

foto mmf
Há um silêncio estudado em relação às eleições autárquicas que estão à porta. É o que têm mantido os auto-denominados órgãos de comunicação social. E por estes entendam-se indústrias de entretenimento através das quais é impossível distinguir notícias verdadeiras de manipulações descaradas da realidade. 
Há um silêncio assustador que é o do Estado e o do poder em relação à aberração em que se tornou a comunicação social. Parece que ainda contam com ela para trazer a lume alguma revelação ponderosa, como se ainda acreditassem numa reviravolta do jogo, e que quem domina a indústria pudesse ainda escolher outro lado que não o do dinheiro e dos grandes negócios.
Há o silêncio amarfanhado e raivoso dos jornalistas forçados a praticar um ofício que em nada se parece com o prometido nos seus sonhos, nas escolas e na honra de qualquer profissão. E como se vingam, na primeira oportunidade, esses humilhados escribas do poder...
Há o silêncio dos pobres de espírito que saem de casa todos os dias apenas para, como antenas de uma só função, apanharem no ar partes do diz que disse e reproduzirem essas amálgamas de aleivosias em gostos e bonequinhos nas redes sociais.
Há o silêncio dos descontentes, que mesmo podendo votar ou protestar, se deixam manietar pelos seus medos e exibem a negação como se de um traço de grande carácter se tratasse. Não se manifestam  e, de preferência, sonham passar despercebidos, com a cabeça enterrada na areia, a sonhar com o milagre que um dia lhes vai acontecer e tornar a sua vida no grande sonho que escondem dentro de si. E que apenas eles conhecem, esquecendo-se de que os aplausos por tão grandes sonhos e sucessos só pode dar-se com a colaboração dos outros.
E há também o silêncio amordaçado de quem quer mudar alguma coisa no meio destes silêncios todos.
Há uma qualidade sombria neste silêncio que não é de ouro porque alguém acredita que o ouro não é para todos. Mas é.
O silêncio vale a pena quando é para fazer orelhas moucas às más intenções alheias e agir com o coração, com verdade e com honra. Quando se deita a mão às poucas armas disponíveis e se faz cm que elas contem. Em votos ou em qualquer outra intenção manifesta.
Tudo o resto é fingir que se anda vivo quando já se aceitou uma morte antecipada. 

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

furacões e conspirações

foto daqui
Furacões e conspirações rimam. E rimas são padrões. Com os padrões aprendemos coisas interessantes, porque nunca estão lá por acaso.
Assim, podemos pegar no Irma e na explicação que o cientista Michio Kaku tentou dar sobre a possibilidade de se alterar as condições climatéricas com a ajuda da tecnologia.
O tempo em televisão não prima pelo rigor científico, como se comprova diariamente. Com uma ajudinha das redes sociais, as mensagens que sobrevivem não têm geralmente nada que ver com nada lógico ou irracional.
Uma entrevista que se pretendia esclarecedora virou, instantaneamente, uma 'prova' de que o Irma e os seus congéneres José e Katia tinham mão humana. E está lançada mais uma teoria da conspiração.
Aqui há uns séculos as tempestades e outras grandes comoções naturais provinham da fúria divina e de algum pecado mortal. Actualmente, a sua fonte é uma qualquer conspiração de ricos e poderosos, envolvendo, no mínimo, muita culpa. Não se vê aqui um padrão?
Para manter a desejada humildade, não descartaremos o poder do divino ou dos conspiradores, não vá o céu cair-nos sobre a cabeça sem outra explicação que a de um não entendido, mas mesmo assim merecido, castigo.
Convenhamos, no entanto, que a reacção perante as explosões divinas e as das conspirações são tremendamente semelhantes, indicando sempre que o grande mal é sempre de natureza exterior à nossa responsabilidade individual. Há ou não há aqui um padrão?
Outro padrão consistente é a nossa falta de juízo e de compreensão da Terra e da Humanidade como um ecossistema altamente sofisticado e intrincado, muito implica com estas 'disfunções' naturais. 
No fundo, não faz diferença que sejam fúrias divinas, homenzinhos de negro ou o comum dos mortais que atira lixo para o mar. Tudo o que fazemos tem consequências e a nossa negligência individual pode muito bem ser o suficiente para criar um furacão. Ou deixar que tome forma tangível uma conspiração.
Não nos preocupamos o bastante, não nos responsabilizamos o suficiente. E temos o mesmo descuido com o ecossistema que sustenta a nossa vida que usamos no dia-a-dia. Varremos o lixo para debaixo do tapete quando permitimos que se façam, todos os dias, coisas que sabemos estarem erradas, quando fazemos o que não gostamos, quando permitimos que nos faltem ao respeito, quando não votamos porque achamos que não vale a pena.
Descuidos atrás de descuidos. Causas mais do que suficientes para grandes desastres. Não vêem aqui também um padrão? E não é que rima igualmente com furacão e conspiração?
Quem diria que um bocadinho de gramática tem tanto que ver com a forma como tudo funciona? 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

o triunfo dos homenzinhos

© rumoresdenuvens 2017
Já não há homenzinhos desagradáveis de lápis azul a riscar letrinhas no papel. Tornaram-se obsoletos, substituídos por gente muito mais importante: donos de pretensos órgãos de comunicação social que partilham a estranha crença de que são donos de tudo. São igualmente desagradáveis e homenzinhos, mas usam bons fatos e as unhas tratadas, em vez de roupa modesta e cinzenta e mãos sujas de tinta de impressão. 
Há quem diga que são poderosos porque podem, porque são de organizações secretas e obscuras, de partidos políticos influentes, ou empresas milionárias, ricos de nascença, porque têm amizades influentes, ou se associam ao grande capital, etc.
Até pode ser tudo isso, mas a verdade é que estes homenzinhos não são é pessoas de bem. Acreditam que umas quantas oportunidades e muitos mais atropelos lhes conferem direitos e privilégios que ninguém tem.
Por exemplo: decorre a pré-campanha eleitoral mais discreta de que há memória desde os tempos da ditadura. São autárquicas, mas o menino bonito das televisões é um ex-primeiro ministro, talvez pela grande escassez de ideias e argumentos que lança para o éter, enquanto visita locais em que não se passa nada.
Será a era dos telejornais das alforrecas? Da matéria gelatinosa, pegajosa e falha de conteúdo? Salpicada com muitos incêndios e borrascas, que parecem vir de encomenda para a abertura dos noticiários... O Crime, o Correio da Manhã e o 24 Horas fizeram, afinal de contas, escola e sucesso, apesar do desprezo público a que foram votados pelos mesmos jornalistas que hoje os copiam.
Voltando à eminente campanha eleitoral, sem menção de nota pelos serviços noticiosos, limitam-se a um o outro debate cuja finalidade é dar alguma vantagem aos candidatos favoritos dos donos de tudo isto. Mesmo assim, escasseiam, não vão os visados conseguir estragar, mesmo assim, a fraca imagem que já trazem como bagagem.
Todos os outros desapareceram do mapa, à excepção dos cartazes nas rotundas e das arruadas organizadas localmente e jamais relatadas.
São tempos de um estranho protagonismo desses homenzinhos tão bem sucedidos que até temem a própria sombra. Tempos de censura que nem o Estado tem coragem de denunciar. Ditaduras na surra, para ninguém comprometer e não comprometerem ninguém.
É triste observar como a elite dos nossos dias é afinal um montinho de gente pequenina e com medo de ser politicamente incorrecta, uns trumpinhas que nem cortes de cabelo ridículos se atrevem a usar. Aprenderam a deletar os outros a coberto dos teclados virtuais e outras tecnologias de ponta, mas na vida real não há ponta por onde se lhes pegue.
Neste momento o seu maior atrevimento é dissolver uma campanha eleitoral e esperar que cinco mil votos sejam suficientes para manter a legalidade da governação da minoria. 
Até marcam jogos de futebol televisionados para o dia das eleições, para garantir que os poucos prospectivos votantes ainda acordados sejam convenientemente distraídos dos seus direitos e deveres. Mais valia oferecerem livremente bolinhos de maconha a toda a população no dia de reflexão antes do acto eleitoral.
É a censura dos homenzinhos, mais uma vez, e não há quem nos acuda. Desta vez estão em todo o lado, como um vírus extreminador. Sem vacina preventiva.

a importância de se chamar Gabriela

Gabriela Canavilhas

O defeito imediato que se lhe apontou à cabeça foi o de não ser de Cascais e, portanto, de não conhecer o território que se propõe governar. Gabriela Canavilhas provou rapidamente que há contras que são, afinal, vantagens: nada tomando por garantido, estudou a fundo o concelho, visitou-o, rodeou-se de quem vive e conhece a região, falou com muita gente e avançou com segurança com propostas que assume como compromissos.
Neste momento, Gabriela conhece melhor o concelho do que a maioria esmagadora dos cascalenses, que vive trancada nos transportes e nos empregos fora do concelho durante o espaço em que entra e sai de casa. 
Como mulher, constantemente menorizada pela condescendência com que os candidatos masculinos descartam a importância dos adversários do sexo 'fraco', recusa o papel de vítima e não se atrapalha no que exige dos seus rivais. Afinal, é uma discriminação perigosa, a demonstrar que há quem não tenha pejo em exibir publicamente a falta de respeito que tem por metade da população votante.
Gabriela Canavilhas sabe perfeitamente que os seus direitos não estão ameaçados apenas porque um punhado de de indivíduos acredita que as velhas crenças hão-de ajudá-los a manter indefinidamente uma ordem que exclui os interesses de todos em favor de alguns e desonra todos os valores meritórios de humanidade e serviço aos outros.
Porque é de serviço aos outros a proposta que traz para a mesa do governo de Cascais. E após dezasseis anos de maquinações partidárias do mesmo sinal na nossa terra, nem o ónus da ligação aos grandes interesses económicos lhe podem apontar. Emerge assim duplamente capaz de atacar os problemas de raiz com que o concelho se depara.
Gabriela, par feminino do arcanjo mensageiro dos Céus que esteve presente em todos os momentos prenunciadores de uma grande viragem para a Humanidade, é neste contexto a anunciadora das mudanças que, de uma forma ou de outra, ocorrerão em Cascais. 
Pois caso vos tenha falhado um dos seus belíssimos lemas de campanha, pelos velhos mapas não se chega a novos destinos, é fácil perceber como Gabriela Canavilhas abraça a mudança de paradigma (modelo ou padrão a seguir) de que tantos falam e tão poucos entendem, ou fazem tenção de pôr em prática.
Uma nova mentalidade e uma nova atitude são exigências mandatórias para os líderes actuais. Já não há complacência possível para com quem anuncia maravilhas e produz aberrações. 
Gabriela, como artista que é, tem a tenacidade e o ânimo necessários para, nestas circunstâncias aparentemente adversas, acreditar que nada está perdido quando estamos dispostos a recomeçar em qualquer altura.
Como alguém habituado a criar e a confiar no seu instinto, não lhe é difícil imaginar um Cascais completamente diverso do actual. Muito diferente do que é possível na imaginação de quem limita a criação a novas tabelas de taxas municipais e à crença de que se pode abusar impunemente dos cidadãos, em vez de os servir.
A cultura e a boa educação fazem diferença num cenário de jogo viciado em que tudo se reduz, há anos, a impulsos básicos de sobrevivência. De um lado dirigentes demasiado preocupados em manter os seus poleiros que pouco mais conseguem fazer; por outro, uma população votante massacrada por contas astronómicas e uma vida muito diferente da que mostram os anúncios sobre a qualidade de vida da região.
Nem os ricos disfrutam Cascais. Entram e saem ao ritmo das fanfarras popularuchas criadas à imagem e semelhança de quem dirige os tristes destinos da nossa terra. Aos restantes cabe a penosa tarefa de pagar cada vez mais pela estada numa zona de embustes e de banha da cobra televisiva.
Gabriela Canavilhas pode não ter eco nas televisões que apoiam os poderosos por serem dos poderosos. Mas sabe que não são esses que pagam com o seu esforço diário o estilo de vida cascalense.
Sabe que há pelo menos mais uma centena de milhar de votantes com vontade de mudar o que os outros vinte e sete mil impuseram nos últimos quatro anos. Tem uma visão para Cascais que não é um simples avancamento descontrolado.
É com o coração e com muita inteligência que se propõe mudar o que entristece e revolta o coração dos cascalenses. Que as boas obras inspirem o seu trabalho e o futuro de quem delas possa e queira beneficiar.