sexta-feira, 4 de maio de 2018

mansidão a donuts

by Leigh Anne Eagerton 

Diz quem sabe que ovelha mansa mama do seu e do alheio. E que o falar doce leva a água ao moinho certo. Deve ser por isso que tanta gente enfia um donut açucarado pela goela abaixo logo de manhã, na expectativa de não ter que engolir amarguras o dia todo.
Já sobre a mansidão se devia acrescentar que a esmagadora fatia vai para a que nasce do medo e paralisa. Não há donut que a salve se a sua acção se pauta pela falta dela. Porque não agir é uma escolha e, portanto, uma acção idêntica à do lobo com pele de ovelha. 
Os açúcares rápidos, o fast food e outros atalhos da vida são assim. Trazem o alívio breve da alienação, porque o que leva à sua escolha é a dúvida, o medo. E assim se remete a perfeição e a sua certeza para o território das malvas que, curiosamente, se podem usar para tratar as infecções.
Diz ainda quem sabe que há um tempo para tudo. Todo o processo tem o seu tempo e o maior pecado é sem dúvida o da impaciência. O fast food do espírito, num mundo tão esquecido da sua imaterialidade, exige mais mestria do a dos óleos ferventes e outras ilusões do Inferno.
A verdadeira mansidão não está em saldos, nem é uma pechincha. Exige atenção ao momento presente, o foco de quem sabe arredar a urgência alheia para fazer o exercício mental de entender onde estão as causas e os efeitos das propostas colectivas. Só então pode surgir a escolha que melhor serve o indivíduo. A pressa sempre foi péssima conselheira.
A seguir, venha de lá o donut, porque todas as doçuras humanas são permitidas, a seu tempo e a gosto de cada um. Já que é tão fútil como inútil ter a pretensão de viver pelo gosto dos outros.


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