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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

o monopólio de deus
























(Igreja metodista de Bishop's)


Nunca fui tão assediada por toda a espécie de credos como desde que cheguei a Inglaterra. Anda muita gente perdida por aí a oferecer-me consolo de que não necessito.
Eles são metodistas, evangelistas, muçulmanos, qualquer deles com um activíssimo corpo de recrutadores, missionários e outros activistas que não nos largam.
O pior, no entanto, é a sua inabalável fé no monopólio de Deus pelo seu nicho de companheiros de crença. Com tanta reivindicação da verdade absoluta por parte de templos e congregações, qualquer incauto candidato a crente se sente dilacerado entre tantas forças, qual condenado a desmembramento atado a uma quadra de cavalos apontada a quatro diferentes direcções.
O monopólio de Deus é quase como um clubismo, uma facção, uma claque. É fantástico o número de missionários empenhados na salvação de almas, de tal forma que a evangelização tem vindo a adaptar-se aos tempos modernos, recorrendo a sofisticadas técnicas de divulgação e captação de fiéis com canais satélite, panfletos, CDs e DVDs, acções de rua e intercâmbio de adeptos.
Os canais religiosos de televisão dispensam inclusivamente várias horas diárias à explicação e demonstração de exemplos de sucesso financeiro. Deus providencia.
Entre as sensatas leis inglesas de liberdade religiosa, não discriminação e direitos de minorias, as múltiplas profissões de fé encontram confortáveis nichos protectores que exploram até às últimas consequências. Até à intolerância e abuso da sua liberdade, no insistente assédio a tantos quantos se cruzem nas suas empenhadas cruzadas por Deus, Alá e qualquer outra entidade a quem se reconheça qualquer espécie de autoridade sobre ímpios e quaisquer outros a quem se não reconheça capacidade para levar a sua vida em consonância com os ensinamentos divinos livremente interpretados por qualquer líder religioso.
Aos fins-de-semana Londres enche-se de gente vestida de branco ou de preto, de cabeças cobertas a caminho dos locais de culto. Enchem-se anfiteatros de crentes que protestam o seu amor ao Divino e reivindicam os Seus milagres.
De repente, o monopólio de Deus é um movimento de proporções assustadoras que ameaça transformar as democracias em estados da Idade Média.
O monopólio de Deus tem estado a angariar fundos para missões em África e noutros continentes a troco de votos em líderes políticos conservadores, que garantam a erradicação de conquistas legislativas de direitos individuais suadamente conseguidos nas últimas décadas.
E se esses líderes vencerem as próximas eleições norte-americanas, a Europa nada fará para contrariar a super-potência mundial nos seus ímpetos radicais de conservadorismo.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Azul e branco




















Sempre foi claro para mim que existe uma aliança sagrada entre o branco e o azul. Não consigo imaginar maior suavidade, maior complementaridade, maior profundidade. Gosto da ideia de que no branco cabem todas as cores e depois, não resisto à elegância do azul. Ao romantismo. Àquela qualidade que o identifica com o infinito, com a eternidade, com a única e verdadeira natureza das coisas. Se eu tivesse criado o mundo, era assim que o fazia, azul e branco, quase monocromático mas, também, muito mais seguro do que o imenso universo de todas as cores. Suponho que assim é mais alegre. Mas eu amo o azul e o branco. Ou o branco e o azul. Já não sou capaz de sentir o mesmo pelo preto e pelo branco, mas confesso que exerce sobre mim atracção. E não posso deixar de admitir que toda a vasta gama de cinzentos, em contrastes crus com pretos e brancos tem uma elegância aterradora. No entanto, prefiro a suavidade, a sensualidade dos azuis e brancos, o sabor que quase me invade a boca ao vê-los escorrer, em grossas golfadas de tinta, sobre uma tela. O cheiro frio e arrebatador dos brancos, o calor contido dos azuis. Que fazer? Amo os azuis e brancos. São para mim como a complementaridade no amor, a paixão e a serenidade, o vento e a água. Um amor que surja entre azuis e brancos tem uma delicada definição. Equilíbrio, beleza e força, elegância. É contenção sem escorregar para o folclore multicolor. Emoção sem o desequilíbrio de notas demasiado altas ou desencorajadoramente baixas. Gosto mesmo dos azuis e brancos.