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quarta-feira, 27 de março de 2019

ciclones da vida

MMF - "Moçambique 2019"

Os ciclones da nossa vida têm o condão de relevar o pior e o melhor em nós. Como a solidariedade exemplar por todos demonstrada na ajuda a Moçambique e a quem calhou a devastação do Idai. Há esperança, pensamos, quando a capacidade de correr em auxílio do outro se manifesta com esta grandeza.
O pior, no entanto, é esquecermo-nos de nós. O que aconteceu em Moçambique e noutros países é o que já está a acontecer em todo o mundo. A forma como tratamos o planeta que nos acolhe revela-se nestes desequilíbrios e manifestações de forças naturais.
De nada nos vale toda a tecnologia de ponta se não entendermos, de uma vez por todas que, sem árvores os nossos pulmões não funcionam, sem água não poluída não conseguimos manter qualidade de vida, sem respeito pelo solo que pisamos ele devolve-nos a violência a que o sujeitamos.
Esquecemo-nos, sobretudo, que para um Idai provocar tamanha devastação, o mal está feito e já comprometemos irremediavelmente o nosso futuro. E continuamos à espera que a delegação do poder nos outros, que já provou ser inadequada, nos salve miraculosamente.
Os ciclones não são avisos. São consequências. E na altura em que chegam é melhor que as nossas consciências se apurem e despertem de uma vez por todas. A bem das possíveis mudanças estratégicas de rumos, de formas de pensar e de viver.
O Idai não foi o único responsável pela catástrofe que se abateu sobre Moçambique. A falta de capacidade de ordenar o território e as populações, a ocupação desenfreada dos solos, o lixo e detritos acumulados, a falta de prevenção deram, ao longo de décadas, uma considerável ajuda aos seus efeitos.
Nada que não se passe em todas as outras regiões do planeta. Mesmo quando os governos consideram que têm tudo controlado. Até que um Idai se manifeste e mostre que não é apenas limpando o lixo das ruas nas cidades que se respeita a Natureza.
A prevenção começa em nós e no entendimento de que, mais um dia a usar desenfreadamente os recursos do planeta como se não houvesse amanhã, significa isso mesmo: inexistência de amanhã. Para nós. Porque a Natureza segue o seu curso e reequilibra-se, sem necessidade de nós para sobreviver. Aqui só estamos como hóspedes e toda a gente é capaz de imaginar o que acontece a quem não se porta bem em casa alheia.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

como num jogo

"como um jogo" by MMF

Como num jogo, leva-se o absurdo a um novo nível de dificuldade, no sentido em que lhes falta cada vez mais o sentido. E, no entanto, condenamo-nos a permanecer no jogo e a insistir em encontrar-lhe algum sentido. A verdade é que, se ele existe, está tão camuflado em camadas e camadas de hipóteses, que só como na lotaria e com uma improvável sorte acertamos na mouche. 
Ora veja-se, por exemplo, os serviços públicos que já nada têm de uma coisa ou outra, entregues que estão à cupidez privada; um sistema político inoperante e desacreditado, que apesar disso se mantém como uma regra de jogo de tabuleiro, em que o acaso dos dados decide arbitrariamente a jogada seguinte; uma comunicação social que virou entretenimento e, para todos os efeitos, de muito mau gosto e qualidade duvidosa; marcas e companhias internacionais de uma venalidade sem limites.
Pior ainda, jogadores que batem com a mão no peito e reclamam uma honra que não podem sustentar, num sistema desenhado para nunca terem razão, a menos que isso sirva os interesses de alguém que não tem a mínima intenção de os partilhar.
Gente, voamos num ninho de cucos em que o jogo de casino para os pobres de espírito é que está a dar. E para os outros, resta-lhes sorrir e fazer de conta que concordam, que é o que fazem os subjugados antes de cortar os bofes aos cães raivosos dos seus donos. É o princípio da sublevação, o sinal que correm ventos de mudança e, um dia, ao acordar, o mundo está às avessas e pronto para a turbulência da imposição de novas regras.
Nem sequer de novos paradigmas, porque esses são dependentes de honestas epifanias correspondentes a um apuramento de consciência, um processo pessoal que não se deve esperar de movimentos de massas.
Como num jogo, se não nos diverte, não nos serve para nada.