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sexta-feira, 7 de abril de 2023

as mamocas da tap

 

by MMF

Há coisas em que ninguém pensa. Ou não tem tempo para pensar. Ou que não imaginamos que possam ocorrer na nossa pacata vidinha de gente comum.
Acontece que nunca é bem assim e as coisas vêm ter connosco mesmo que acreditemos que controlamos a maior fatia do que fazemos.
Neste caso, a experiência dessa incómoda verdade passou-se há uns dias a bordo de um avião da TAP, daqueles que têm ecrãs nas costas da cadeira da frente, com umas fitas para nos distrair nos voos mais longos.
Escolhi uma dessas sem grande trama, com motas e acrobacias diversas, adequado à semi-sonolência do Zirtec tomado para não passar todo o voo com falta de ar e a pensar nos germes atrevidos dos espaços fechados.
Tudo ia bem até ser despertada por um daqueles anúncios da tripulação, a lembrar que a turbulência existe e que está tudo bem mas, pelo sim, pelo não, convém que nos agarremos com unhas e dentes ao cinto de segurança, não vá a coisa correr mal logo em cima do Mediterrâneo.
Tudo continuaria bem se alguém se tivesse lembrado que os ditos anúncios congelam o ecrã e a cena dos filmes durante uns segundos, mesmo após a comunicação.
O meu congelou numa cena em que um dos protagonistas da fita estava a ter uma escalada hormonal numa conversa virtual com uma prospectiva parceira de aventuras de quarto de hotel de beira de estrada, exactamente no momento em ela lhe mandava imagens do seu belo par de avantajadas mamocas. O som, felizmente, também congela.
Esfumou-se o alarme de qualquer possível desastre aéreo capaz de fazer amarar uma aeronave da TAP no Mediterrâneo. Outro muito maior tomou o seu lugar. Um par de mamocas congeladas na têvê, visíveis para uma boa parte dos passageiros que viajavam nos assentos atrás do meu.
A indecência entre adultos no mesmo comprimento de onda não é uma coisa que me moleste. Mas o voo vinha de Israel, com famílias inteiras de judeus ortodoxos preparados para uma semana diferente este ano, de santa comunhão entre a passagem e a páscoa de dois cultos irmãos.
Por isso aqui fica um singelo e honesto comentário para a nossa transportadora aérea: Not so kosher, guys.


domingo, 1 de abril de 2018

ovemos


É assim que se estabelecem as ideias feitas, com uma mão cheia de ovinhos simpáticos, decorativos e doces, tudo para dourar a pílula que, neste caso, é o coelho. Que vem carregadinho de ovos para as crianças, mas... Só para as boas, porque há criancinhas más e sem direito a festejar num dia para esse fim.
Claro que elas, com a sua clarividência natural, arregalam os olhos, confessam-se boas e o coelho lá as premeia com a desejável recompensa.
A moral da história é que existem sempre pessoas capazes de julgar e castigar as outras, que as crianças têm de ser todas boas, ou melhor, capazes de se fazer passar por tal para satisfazer um conjunto de julgamentos de valor imaginado como o adequado, mesmo quando só representam interesses parciais. 
Sobretudo, tenham medo, muito medo de desagradar aos outros. Um dia de festa não é para todos e para reestabelecer a comunhão entre todas as almas. É, pelo contrário, aproveitado lembrar que a espada continua pendurada sobre qualquer cabeça.
Na verdade, todos merecemos tudo, mesmo que às vezes não se faça muito para isso. Mas essa é a beleza da generosidade e da capacidade de ver além dos momentos em que erramos para aprender mais e mais. 
A meritocracia é sempre parcial, caprichosa e só se utiliza quando serve grupos de poder. Se nos agarramos a ela perdemos a visão de conjunto, em que reconhecemos o valor intrínseco de cada indivíduo.
Agora, ovemos: quantas mais vezes seremos capazes de estender generosamente uma guloseima a quem aparentemente não a merece, só porque queremos acreditar que também podemos ser melhores do que um coelho?