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domingo, 21 de setembro de 2008

colonização do império

No passado dia 1 de Setembro, o canal de televisão britânico Channel 4 transmitiu o documentário "Undercover Mosque: The Return". Uma repórter muçulmana, com uma câmara escondida, dirigiu-se à maior mesquita londrina, em Regent's Park, para se juntar ao grupo de mulheres que ali assiste regularmente à cerimónia religiosa numa galeria separada dos homens. A seguir, horas de doutrinação, com Amira, uma muçulmana educada na Arábia Saudita, a instigar simplesmente à morte de todos os que estão contra o Islão - cristãos, que segundo ela são repugnantes, mulheres adúlteras, homossexuais e pessoas que abandonam a fé muçulmana. "Kill, kill, kill", é a frase com que a doutrinadora termina cada explicação e exemplo.
O documentário mostra também o acolhimento, na mesma mesquita, de grupos de jovens e pessoas de outros credos, no âmbito de um programa que teve o aplauso do governo britânico e destaque nos principais meios de comunicação social do país. A iniciativa destina-se a dar a conhecer o Islão aos não muçulmanos para uma melhor integração entre as diferentes comunidades. A seguir às sessões, o discurso da doutrinadora muda radicalmente e volta ao original catecismo extremista e instigador de violência.
O documentário é uma visão parcial e desconcertante da Inglaterra de hoje, em que vários grupos religiosos, que não apenas os muçulmanos, ao abrigo das estritas leis britânicas de defesa dos direitos à liberdade de culto e de minorias, usam esses mesmo direitos para se instalar na Grã-Bretanha, doutrinando e instigando contra as liberdades de outras minorias.
Igrejas de todas as denominações proliferam por todo todo o lado. Há uma constante circulação de grupos, missionários e crentes que, com vistos de estudantes, multiplicam os seus números com imigrantes de todas as nacionalidades e de todos os cantos do mundo. Não se sendo britânico ou europeu, os estudantes só podem trabalhar um máximo de 20 horas semanais, cobrindo os grupos e comunidades religiosas parte das suas necessidades básicas com alojamento mais barato e trabalho prestado dentro das comunidades, muitas vezes em condições muito pouco dignas, mas validadas pelo "espírito de missão".
O afluxo de imigrantes não qualificados, tornado em mão-de-obra barata, tem as simpatias das grandes cadeias retalhistas do Reino Unido, que o usam como uma "best practise" de "management" e as tornam mais competitivas em relação ao comércio tradicional. No entanto, a força de trabalho barato que parecia ser um "eldorado" para economia britânica já a sentir os efeitos da recessão global, está a revelar-se um acelerador da crise económica e das mudanças irreversíveis da nova ordem mundial.
Quem ganha pouco também compra pouco e isso não se aplica apenas aos imigrantes. Os cidadãos britânicos com poucas qualificações vêm-se agora obrigados a competir em termos de igualdade com a mão-de-obra barata e também estão a perder o seu poder de compra, obrigando as empresas a ainda maiores medidas de contenção para manter os seus lucros à tona.
Entre a religião e a economia, o Império Britânico enfrenta hoje uma das maiores vagas colonizadoras de que há memória, em consequência directa das conquistas sociais das últimas décadas.

sábado, 3 de maio de 2008

um boris em londres

(Discurso de Boris Johnson, novo mayor de Londres)

Podia estar a pensar no Outono em Pequim e no Boris Vian, com pneus que empalidecem de susto e outras alucinantes viagens pelo imaginário livre de um criador. A realidade é que nada tem de criativa a loucura que se pressente no carismático líder conservador que acaba de ganhar a corrida pelos destinos da nova Londres.

Boris Johnson faz-me lembrar Samora, Fidel, Mugabe, Chavez e outras explosivas estrelas que prometiam novos luzeiros em céus de mudança e afinal arrastavam consigo a morte e a decadência nos seus rasgos luminosos de estrelas cadentes.

Talvez precisemos destas estrelas moribundas para entender a necessidade de mudar radicalmente a nossa vida. E entende-se assim um Boris em Londres, uma metrópole em profunda mudança, onde as dissonâncias sociais se tornam cada vez mais patentes e reflectem o novo Reino Unido.

Uma economia forte que soube atrair imigrantes e aproveitar a mão-de-obra barata de todo o mundo, está em queda virtiginosa e a braços com uma tradição democrática agora engenhosamente usada por esses mesmos imigrantes para fazer valer os seus direitos de uma forma que ameaça preverter algumas das mais importantes leis britânicas sobre a liberdade e direito de expressão.

E agora um mayor conservador, com a habilidade de nos desconcertar com as suas saídas pouco convencionais, tão semelhante aos novos inquilinos de Londres, capaz de cativar simpatias de um eleitorado ainda mal definido à luz da recente demografia da capital de todas as nações.

Porque é preciso passear por Londres durante o dia para assistir ao desfile de todas as nacionalidades ali representadas. É preciso circular ao fim da tarde para ver a cidade transformar-se como do dia para a noite, observar o êxodo dos ingleses para a periferia, o recolher dos trabalhadores diurnos e a lenta chegada dos que vivem de noite na cidade.

À excepção de dois ou três bairros boémios, Londres nocturna pertence a bandos, bolsas de indivíduos que se aprende a evitar. Cinemas e teatros têm sessões "tardias" que começam às sete da tarde e terminam às nove, a tempo de se apanhar os transportes que saem da cidade e nos conduzem às zonas suburbanas mais rurais e tranquilas.

Durante as manhãs dos fins-de-semana bem podíamos afirmar estar num país muçulmano, sikh ou africano, a julgar pelas massas de gente vestida a rigor, burkas e turbantes incluídos, que se movimentam a caminho dos cultos e reuniões étnicas para todas as medidas e gostos. E para as novas igrejas que enchem o Reino Unido de imigrantes missionários munidos de vistos de estudantes que lhes permitem trabalhar apenas 20 horas semanais para se sustentar, a uma média de 100 libras semanais onde os quartos alugados cobram no mínimo esse montante para alojar tantos quantos caibam em dois metros quadrados de espaço.

É neste ambiente que o Boris londrino cai como um arcanjo salvador, sabe-se lá de que maiorias ou minorias. E que o senhor Brown luta para convencer os britânicos de que ainda é capaz de dar a volta a uma economia que afinal apenas espelha uma novem ordem mundial para a economia e para a sociedade.

Digam lá se não é o mesmo que tomar chá de cogumelos e esperar em fugaz delírio que tudo acabe, de uma maneira ou de outra. Não me espanta pois que as igrejas, mesquitas e outros locais de culto se encham de gente à procura da vida com que sonham numa qualquer terra prometida.

O prometido é devido sim, mas há que ler as letrinhas menores do contrato...