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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

a vida segundo muñoz



Passeando pela retrospectiva de Juan Muñoz em Serralves como num universo paralelo, podemos apanhar-nos a espreitar momentos que não nos pertencem, mas em que reconhecemos sensações familiares.
Há a agonia das figuras suspensas pela boca e em constante movimento sobre si próprias, abandonadas à impotência perante um mundo que não se domina. E um momento de harmonia libertadora sugerido pelo mesmo movimento que, pela sua inevitabilidade, ilustra a sujeição de tudo e todos a um ritmo universal.
Junto à janela, as figuras com a metade inferior resumida a um saco informe e imobilizador, a lembrar os pesadelos infantis em que o pânico nos assalta e não logramos vencer o peso que nos prende ao mesmo sítio. No entanto, as esculturas inclinadas e de rostos quase inexpressivos ordenam-se num peculiar instantâneo de acções que não chega a desenrolar-se. A janela aberta sobre o jardim dá-lhes um sentido adicional nesta mostra.
Uma pequena multidão de homens cinzentos, rostos sorridentes e idênticos, remete-nos ao uniformidade do colectivo, às pequenas perdas momentâneas de individualidade. O que se altera de imediato quando as observamos de cima e tomamos consciência do papel único de observadores, benesse conferida pela organização do espaço da exposição.
Continuamos a espreitar por buracos de fechaduras ao ouvir repetidamente um diálogo em frente a duas pequenas figuras sentadas lado a lado, viradas para a parede ou sentadas em círculo com tambores de silicone à maneira de extensões dos corpos, armários povoados de objectos e pequenas esculturas, navalhas de ponta em mola escondidas em corrimões.