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segunda-feira, 28 de maio de 2018

isso faz-se marinheiro?



Há mais marés que marinheiros e há tantos marinheiros (quase oito mil milhões, sempre a crescer) que nos é difícil fazer uma ideia do verdadeiro sentido das marés. Mal mergulhamos numa chega logo outra e outra. 
Não admira que nos sintamos arrastados de um lado para o outro sem controlo e sem pé. E com uma irresistível vontade de bater asas e voar. Porque ser marinheiro não basta. Também é bom alapar numa rocha e sentir a segurança de um porto. Ou enterrar a cabeça na areia para não ver nem ouvir nada.
A Natureza não dá descanso, à imagem e semelhança da tempestade de pensamentos em constante desfile em cada mente humana. À cautela, deixam-se aqui de fora as restantes mentes, não vá o diabo tecê-las e conferir o mesmo poder aos animaizinhos, insectos, plantas e por aí fora. Aí é que a porca torcia o rabo e o caos ficava oficialmente estabelecido.
Somos umas coisas inconstantes, sempre a sonhar com ordem e tranquilidade, mas a deixar que a mente assuma livremente todos os nossos desejos, sem qualquer direcção definida. Somos o caos cá dentro, mas não o admitimos dentro de nós e espantamo-nos com o que se manifesta fora.
Uma cambada de inconscientes e marinheiros de água doce é o que somos. A estabelecer que não desejamos a ordem interior, mas a apontar o dedo à de fora. Isso faz-se, minha gente?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

o estranho mundo das causas e dos propósitos

Foto daqui
A forma como escolhemos indagar as razões dos furacões que assolam as nossas vidas define a qualidade do impacte que têm em nós. Por quê, ou para quê, são as questões. 
Enquanto na primeira (por quê, por que motivo, por que razão) se procura uma causa, na segunda é a intenção e o propósito que orientam a busca. A diferença entre estas formas de questionar a vida faz toda a diferença.
No porquê, ou na causa, tendemos a atribuir a explicação (ou culpa) a algo exterior a nós, subtraindo-nos a qualquer implicação pessoal no acontecido. Mesmo que se tenha passado connosco e, logo, haverá que questionar por que motivo nos alheamos tão convenientemente da questão.
No para quê, ou na intenção, no propósito, a questão busca de imediato a compreensão de um certo mecanismo das coisas que, com certeza, se traduz numa verdade universal e capaz de se manifestar de forma idêntica para todos.
Por um lado, não gostamos de nos identificar com as causas dos furacões, e por outro, procuramos sempre explicações universais que expliquem tudo. Por alguma insondável razão, aceitamos a incoerência de nos subtrairmos de uma questão e de nos tentarmos identificar com a outra.
O mais simples seria compreender que não faz sentido, aceitando que existem verdades e leis universais que nos afectam, e fazendo nós parte desse universo global, a tentativa de nos excluirmos do que nos acontece, e de encararmos determinadas manifestações como totalmente alheias a nós.
Entender a intenção e o propósito é muito mais importante do que procurar causas exteriores que fogem ao esquema compreensível das coisas e, portanto, ao nosso controlo. Mas se acreditamos em leis universais, por que insistimos em colocar determinados acontecimentos fora do seu âmbito? Se há verdades universais, por que razão queremos alienar delas algumas manifestações? Fará isso algum sentido?
O caos e os furacões surgem destas arbitrariedades que insistimos em defender, contra toda a lógica e todo o senso comum. Sonhamos muito com a ordem, mas teimamos em escolher pensar nas coisas como incompreensíveis e fora do seu âmbito. Complicamos por falta de fé na simplicidade.
Os furacões dão-se na nossa cabeça e teimamos em acreditar que estão lá fora, num sítio de que nos excluímos e que vemos, mas não queremos que faça parte da nossa vida. Mesmo estando à frente dos nossos olhos.
Estranho mundo o nosso, em que antagonizamos causas que elegemos em vez de propósitos. E nas quais investimos mais do que na clareza que organiza o caos. Parece tão mais fácil fazer a escolha certa...