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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

curto-circuitos de desentendimento


Falar sem para não é ser comunicativo; pelo contrário, é tentar evitar a comunicação. Andar sempre atrás dos outros a despejar episódios da vida própria e da alheia também não é partilhar ou socializar é massacre levado a cabo por gente que não faz a mínima ideia de como se pode estar com os outros.
Também não é sinceridade despejar tudo o que passa pela cabeça em qualquer circunstância; é apenas falta de senso comum e muito má educação.
Se as pessoas tivessem aproveitado mais a escola, evitariam muito do caos que se desenrola nas suas vidas. Por exemplo, aprendendo um pouco mais de gramática e a entender a estrutura da língua que falam e que é, afinal, um espelho da forma como pensam.
Muitos dos atritos e conflitos actuais são, sobretudo, resultado da fraquíssima compreensão da língua que a maioria esmagadora dos indivíduos tem. Não são capazes de interpretar correctamente o que ouvem ou lêem, não compreendem frases idiomáticas e, além da cultura, falta-lhes imenso vocabulário. Não lendo, além da informação que não têm, também não ganham prática de pensar de forma correcta, nem de estar em contacto com ideias e a forma como se formulam.
O resultado é, numa era de comunicação avassaladora como a que decorre, um constante ruído de mensagens que a maioria esmagadora das pessoas não tem capacidade para decifrar.
Para compensar isso, a resposta mais utilizada é criar mais ruído pessoal, como um eco e como alguns fazem quando, em presença de quem não fala o mesmo idioma, aumentam o volume da emissão de voz à laia de tradutor automático.
Ruído, sobre ruído, sobre ruído. Calem-se. Pelo menos o tempo suficiente para entenderem o imenso valor do silêncio. Para o sentirem e compreenderem a paz e a clareza que traz.
Se possível, comprem uma gramática pequenina e leiam duas páginas por dia. Alguma coisa há-de resultar do exercício que não se deram ao trabalho de fazer na escola.
Ter uma multidão barulhenta sempre agarrada aos novos meios de comunicação, sem capacidades básicas para os utilizar, não faz do conjunto uma sociedade mais informada. O retrato mais honesto é o de um gigantesco armazém de aparelhos em constantes curto-circuitos de desentendimento.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

furacões e conspirações

foto daqui
Furacões e conspirações rimam. E rimas são padrões. Com os padrões aprendemos coisas interessantes, porque nunca estão lá por acaso.
Assim, podemos pegar no Irma e na explicação que o cientista Michio Kaku tentou dar sobre a possibilidade de se alterar as condições climatéricas com a ajuda da tecnologia.
O tempo em televisão não prima pelo rigor científico, como se comprova diariamente. Com uma ajudinha das redes sociais, as mensagens que sobrevivem não têm geralmente nada que ver com nada lógico ou irracional.
Uma entrevista que se pretendia esclarecedora virou, instantaneamente, uma 'prova' de que o Irma e os seus congéneres José e Katia tinham mão humana. E está lançada mais uma teoria da conspiração.
Aqui há uns séculos as tempestades e outras grandes comoções naturais provinham da fúria divina e de algum pecado mortal. Actualmente, a sua fonte é uma qualquer conspiração de ricos e poderosos, envolvendo, no mínimo, muita culpa. Não se vê aqui um padrão?
Para manter a desejada humildade, não descartaremos o poder do divino ou dos conspiradores, não vá o céu cair-nos sobre a cabeça sem outra explicação que a de um não entendido, mas mesmo assim merecido, castigo.
Convenhamos, no entanto, que a reacção perante as explosões divinas e as das conspirações são tremendamente semelhantes, indicando sempre que o grande mal é sempre de natureza exterior à nossa responsabilidade individual. Há ou não há aqui um padrão?
Outro padrão consistente é a nossa falta de juízo e de compreensão da Terra e da Humanidade como um ecossistema altamente sofisticado e intrincado, muito implica com estas 'disfunções' naturais. 
No fundo, não faz diferença que sejam fúrias divinas, homenzinhos de negro ou o comum dos mortais que atira lixo para o mar. Tudo o que fazemos tem consequências e a nossa negligência individual pode muito bem ser o suficiente para criar um furacão. Ou deixar que tome forma tangível uma conspiração.
Não nos preocupamos o bastante, não nos responsabilizamos o suficiente. E temos o mesmo descuido com o ecossistema que sustenta a nossa vida que usamos no dia-a-dia. Varremos o lixo para debaixo do tapete quando permitimos que se façam, todos os dias, coisas que sabemos estarem erradas, quando fazemos o que não gostamos, quando permitimos que nos faltem ao respeito, quando não votamos porque achamos que não vale a pena.
Descuidos atrás de descuidos. Causas mais do que suficientes para grandes desastres. Não vêem aqui também um padrão? E não é que rima igualmente com furacão e conspiração?
Quem diria que um bocadinho de gramática tem tanto que ver com a forma como tudo funciona?