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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

a vida moral dos autómatos


A vida moral dos autómatos é impecável: não saem da linha, cumprem as regras, todas as questões são a preto e branco, não se questionam, nem questionam ninguém.
Nenhuma resposta é desagradável quando se evitam as perguntas traiçoeiras, que põem em causa as regras estabelecidas, mesmo quando se revelam manifestamente inadequadas ao bem-estar de todos.
Ser um autómato feliz e moralmente resolvido pressupõe ver, ouvir e falar o menos possível. Desviar os olhos quando se observa um erro de programação capaz de arruinar décadas de felicidade contida em meia dúzia de parâmetros jamais verificados ou contestados.
A vida moral dos autómatos é plenamente justificada pelo que outros decidem como uma formatação adequada. Pouco mais é preciso para sustentar a sua felicidade.
Imaginem, no entanto, que determinadas situações, não planeadas ou simplesmente inesperadas, provocam um curto-circuito nestes compostos de regras pré-programadas. O resultado são autómatos a bater mal, desajustados das funções que lhes foram acometidas e, portanto, perfeitamente inúteis.
A sua condição de autómatos jamais lhes permitirá a liberdade de sacudir as regras e assumir uma nova programação. Ditaram-lhes a vida dessa forma, limitada, com um punhado de funções apenas, excluindo outras razões e alternativas.
Resta-lhes a reciclagem, a redução final às suas partes aproveitáveis. Sem consideração pelo resto que eventualmente poderão ser, pois o seu contrato prévio de funcionalidade neste mundo só contempla a utilidade para outros. Jamais a sua.
É tramado ser um autómato moralmente impecável.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

verdadeiro poder


Imagem daqui
Quando pensamos em poder, a imagem que nos ocorre de imediato é a de força, de qualquer coisa física potencialmente avassaladora e, se possível, até cerramos as mãos e retesamos os músculos, no nosso aprendido hábito de resolver tudo pela potência física, pela reacção que acreditamos capaz de derrubar todos os obstáculos, pela nossa crença orgulhosa em que podemos e devemos resistir até à última gota das nossas possibilidades.
O verdadeiro poder, no entanto, não está nos limites da força física que, por definição, têm um fim jurado assim que outras forças maiores se manifestam.
A subtileza, o que erroneamente não julgamos como força, é o poder autêntico. Quando nos afastamos da manifestação da força e do físico, quando entendemos que a fluidez contorna todos os obstáculos, e compreendemos que a força e o poder vêm da harmonia e do não engajamento na reacção, que nos toma tempo e energia esgotáveis, aí estamos a apontar na direcção certa.
Ficar livre para descobrir os caminhos de menor esforço, que unem em vez de desunir pela competição, é um passo inteligente para praticar a verdadeira força, o verdadeiro poder.
Se não mudarmos os nossos hábitos limitativos para a visão correcta, os triunfos serão sempre limitados e inconstantes. As consequências imprevisíveis pelos resultados que nos frustram, de tão afastados da verdade e do desejável.
O verdadeiro poder reside na capacidade de nos orientarmos pela leveza, pelo que é naturalmente fácil e compensador. É um ganho mental e, portanto, não sujeito às vicissitudes de um mundo físico moldado por ideias redutoras e geradoras de esforços que jamais sentimos compensadores.
Por isso nos confrontamos agora com um mundo caótico, regido por leis que não seguem a subtileza criativa. E, no entanto, privado da emoção que nos guia na direcção certa ou errada, o universo é criativo e acompanha com fidelidade o nosso constante desejo de evolução. Assim, obedece cegamente à nossa errónea noção de poder, esmagando pela força tudo o que se materializa.
Mais do mesmo e não o paraíso que desejamos, visto que o investido se resume às limitações da força bruta em que preferimos acreditar, em vez de exercermos a subtileza da inteligência e da fé no que decorre facilmente de não passar a vida a tentar derrubar montanhas usando a matéria em que são pródigas e superiores.
Há um outro mundo além da montanha, que não se atinge nem sequer com a força de explosivos ou outros engenhos similares. Apenas porque não são subtis, nem necessários. O mundo além da montanha atinge-se com inteligência e vontade de ver as coisas de outra forma, de desistir do orgulho que nos impede de partilhar com os outros o que é de todos, o que nunca deixou de ser propriedade universal.
Em algum ponto do nosso percurso perdemos esse bom senso vital que nos permite viver em paz, sem o medo constante da perda, sem a fé de que temos sempre tudo aquilo de que necessitamos, para respirar, fruir e aumentar todas as nossas experiências.
Que poder têm os outros sobre nós nessas circunstâncias? Onde está então o verdadeiro poder?