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sábado, 9 de junho de 2018

puro prazer


A saber, quantas coisas fazemos por puro prazer? Quantas outras lembramos pela sua natureza prazenteira? E quantas arruinamos a magicar aborrecimentos tidos ou imaginados?
Pedalar sem destino, andar descalço, aterrar a cabeça à noite na almofada, boiar, fechar os olhos um minuto, cantar, sentir o vento na cara. Prestar atenção a cada momento vivido.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

mansidão a donuts

by Leigh Anne Eagerton 

Diz quem sabe que ovelha mansa mama do seu e do alheio. E que o falar doce leva a água ao moinho certo. Deve ser por isso que tanta gente enfia um donut açucarado pela goela abaixo logo de manhã, na expectativa de não ter que engolir amarguras o dia todo.
Já sobre a mansidão se devia acrescentar que a esmagadora fatia vai para a que nasce do medo e paralisa. Não há donut que a salve se a sua acção se pauta pela falta dela. Porque não agir é uma escolha e, portanto, uma acção idêntica à do lobo com pele de ovelha. 
Os açúcares rápidos, o fast food e outros atalhos da vida são assim. Trazem o alívio breve da alienação, porque o que leva à sua escolha é a dúvida, o medo. E assim se remete a perfeição e a sua certeza para o território das malvas que, curiosamente, se podem usar para tratar as infecções.
Diz ainda quem sabe que há um tempo para tudo. Todo o processo tem o seu tempo e o maior pecado é sem dúvida o da impaciência. O fast food do espírito, num mundo tão esquecido da sua imaterialidade, exige mais mestria do a dos óleos ferventes e outras ilusões do Inferno.
A verdadeira mansidão não está em saldos, nem é uma pechincha. Exige atenção ao momento presente, o foco de quem sabe arredar a urgência alheia para fazer o exercício mental de entender onde estão as causas e os efeitos das propostas colectivas. Só então pode surgir a escolha que melhor serve o indivíduo. A pressa sempre foi péssima conselheira.
A seguir, venha de lá o donut, porque todas as doçuras humanas são permitidas, a seu tempo e a gosto de cada um. Já que é tão fútil como inútil ter a pretensão de viver pelo gosto dos outros.


segunda-feira, 30 de abril de 2018

entre mundos

"Entre Mundos" by MMF
Bruxos, feiticeiras, médiuns têm uma relação sui generis com a realidade. Em determinados momentos têm percepções que vão além da comesinha relação com os cinco sentidos. Um sexto, diz-se, se bem que poderíamos considerar que, se os outros são cinco, pelo menos mais cinco lhes podem ser acrescentados, porque as percepções extraordinárias se confundem livremente com qualquer das proporcionadas pelo corpo. E ainda um sexto, de sensações, emoções e manifestações sem gramática definida e autorizada, perfazendo pelo menos onze mágicas formas de reconhecer o que nem sempre é óbvio nem entendido.
Numa versão mais pragmática, todos viajamos entre mundos, realidades e entendimentos. Acontece, por exemplo, quando as explicações que se debitam não chegam para que alguém abandone uma forma de pensar e persista num modelo que para nós já é limitado. Nessa altura percebemos que o nosso mundo interior tem informação que não chega à outra pessoa.
Por alguma razão, nem sempre deixamos que o nosso universo interior se expanda e abrace novas formas de avaliar a realidade. Mas quando o fazemos, viajamos entre mundos, aceitando as novidades, as possibilidades em aberto.
Cultivando essa flexibilidade, que depende grandemente da nossa vontade, a viagem entre mundos é uma experiência estimulante e capaz de nos presentear com lufadas de emoções e súbitas descobertas.
Viajar entre mundos não têm de ser um mergulho na superstição, no medo ou nas ideias feitas sobre quem reconhece outras formas de realidade. É um exercício de consciência que se cultiva e nos faz ponderar sobre a infindável possibilidade de expansão da nossa experiência de vida.
Entre mundos é a criatividade que comanda e molda a acção.

terça-feira, 10 de abril de 2018

epifania, epifania, epifania



O propósito maior de todas as coisas: ser o que se é. E tudo assim se resume, sem necessidade de tentar lapidar a realidade com trabalho mental desgastante e frustrante. Sem sabotar o curso natural da vida com expectativas que não passam de coágulos terroristas o simples e perfeito esquema de todas as coisas.
A humildade de não pretender entender tudo de uma só vez é um privilégio da inteligência. Temos uma vida inteira para saborear o vaivém das correntes e a vertigem das mudanças, um prazer que produz, na altura certa, todas as epifanias de que precisamos para cimentar a alegria do conhecimento.
Que mais se pode esperar de uma manhã de terça-feira?

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

excessos e conflitos

Fotografia de Maria Isabel Mota
O conflito nasce sempre da noção que temos de estarmos separados. Como indivíduos, como corpos diferentes, é difícil lembrarmo-nos de que pertencemos todos à mesma consciência, ou ao mesmo material divino, poderoso e ilimitado.
Quando o conflito surge, o alerta é para a demonização que estamos a fazer do outro, ou dos outros. Não nos vemos como indissociavelmente ligados, a outra escala, e que a beleza está em, apesar da possibilidade da experiência pessoal, não deixarmos de ser um.
A extrema identificação com alguma coisa é sempre uma limitação. Um clube de futebol, um país, uma região, uma raça, uma religião, têm balizas definidas que as separam das outras coisas. E nessas balizas não cabem mais do que alguns pormenores.
É um erro confundir algumas identificações com o potencial ilimitado de que dispomos. E essas identificações excessivas, pouco dispostas à maleabilidade, é que suscitam o conflito. 
Assim como as rochas que, com a sua aparência de invencibilidade, se sujeitam à erosão de ventos, águas e areias, também sofremos na pele o desgaste dos limites que nos impomos. No final, como as rochas, desfazemo-nos no pó e no resto dos elementos, voltando à natureza que nos deu corpo, mais uma vez parte indissociável do todo.
Devíamos entender o conflito como a nossa resistência ao entendimento do nosso papel no conjunto das coisas. E ter a coragem de alterar de imediato a nossa postura, para eliminar o sofrimento e o desgaste em que nada se ganha.
Pensar ainda que, como consciência colectiva, não é só a nós que prejudicamos com os nossos limites. Como uma infecção, contaminamos tudo à nossa volta. Inocentes, espectadores passivos e quem participa do conflito. Todos perdemos.
Evitar o conflito é assumir que os resultados jamais serão os que esperamos, uma vez que não há acordo possível. Não será então mais inteligente prescindir dos limites excessivos e rendermo-nos a uma paz sem sofrimentos adicionais?

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

causa e efeito


Perceberam agora por que está tudo mal na vida, no planeta, nas politiquices e outras mesmices? Anda tudo em cambalhota e o que se faz vira efeito e esse vira uma acção ainda mais disparatada do que a anterior. A boa notícia é que se pode parar a qualquer instante e fazer melhor para receber um efeito igualmente melhor.
Agora saiam lá de casa para depositar a vossa confiança em dirigentes que atropelam tudo e lançam o mundo no caos. Ou não e comecem a fazer o que vos interessa para mudar o que também é do vosso interesse.
Mais simples do que isto é difícil. Mas parece muito mais interessante perder tempo com especulações fúteis e aparentemente muito inteligentes, não é?

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

let it rain


"Podemos criar qualquer aliança que desejemos com o universo." Portanto, que venham, que chovam. E que correspondam exactamente ao que desejamos. Sentir é receber. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

paz


A paz é um direito. A ser reclamado com insistência. Só em paz somos capazes de recuperar a nossa lucidez e a nossa experiência de uma vida sem o massacre constante de grupos de pressão apoiados pela propaganda a que indevidamente se chama hoje informação. Paz para usufruir de um tecto, de um trabalho, de uma refeição, de experiências mais felizes. Não é tudo, mas é o princípio essencial para se atingir o resto.  

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

sobre fogos e consciência


Vemos apenas um por cento (ou muito menos) do que na realidade existe. Acreditamos que rodamos pacíficamente em torno do Sol, quando na verdade circulamos a uma velocidade difícil de imaginar atrás dele. Achamos que há espaço vazio entre nós e o que existe à nossa volta. Não temos consciência da energia que nos enforma, nem da sua interacção com a energia dos outros e de tudo o que nos rodeia. Temos uma paupérrima percepção do que é realmente a vida e ainda pior das razões pelas quais existimos nesta e noutras formas.
Somos escassos. Nos nossos modos, na nossa forma de pensar, na curiosidade com que devíamos orientar a existência. Ver para crer é uma máxima perigosa quando as limitações são reconhecidamente a coisa coisa mais abundante de que nos munimos durante a vida.
Não por falta de escolha, mas porque não prestamos qualquer atenção ao que se passa no presente. Achamos que devemos dar muita atenção ao passado, que depende de uma forma de memória de que não conhecemos realmente os contornos e usamos mais ou menos como nos dá jeito e com a ajuda de muita imaginação para preencher as brancas. 
Preocupamo-nos um horror com o futuro, como se ele realmente existisse no presente, desperdiçando um tempo precioso a adiar dessa forma a vida de todos os dias.
Mais grave ainda, acreditamos que devemos expiar culpas passadas, nossas e colectivas, sem nenhuma alternativa ao que está feito e não tem remédio. Sem sequer pôr a hipótese de que a culpa não interessa nada, porque o passado produz efeitos, mas os efeitos que produzimos não agindo agora sobre o que nos prejudica é que nos condenam. Sem perceber que as acções passadas não deviam induzir culpa, ams sim acções presentes que nos libertem dos efeitos criados no passado.
Não acreditamos em milagres, mas no fundo, esperamos todos que eles aconteçam porque, por alguma incompreensível razão, algo nos diz que isto não pode ser tudo, que tem de haver alguma coisa que iguale o paraíso existencial com que sonhamos e conversamos todos os dias nas nossas cabeças. 
A verdade é que não somos educados para questionar o que os outros nos transmitem como sendo um conhecimento seguro dos factos básicos da vida. Pelo contrário, somos consistentemente encorajados a aceitar a experência dos outos como o pilar básico da nossa. Não pôr isso em causa é mesmo considerado uma espécie de bóia de salvação para todas as situações. Como se a imaginação de que dispomos para preencher a nossa ignorância não existisse também nos outros e não fosse também o elemento alienador da realidade de que todos sofremos.
Porque acreditar na nossa imaginação é o único elemento de fé e esperança que nos permitimos, cegamente. Pouqíssimas vezes caímos na realidade e nos permitimos admitir o carácter suicida do desespero que nos faz aceitar a imaginação como realidade, em vez de a usarmos como um instrumento para questionar as verdadeiras causas e efeitos do que está de facto a acontecer.
Viramo-nos para a nossa versão idealizada do misticismo em busca de salvação, esperando ainda e porque quem espera sempre alcança, sendo o que se alcança uma miragem de um oásis num deserto que não nos inspira nunca uma total confiança.
Portanto, não prestamos grande atenção ao que o momento presente nos mostra, gastamos todo o nosso precioso tempo a cirandar entre passado e futuro, incapazes de firmar os pés no presente, de parar e de concentrar os nossos sentidos no segundo que passa e que é o ponto de partida de tudo o resto. Nada mais interessa, nada mais é controlável, nenhum outro momento é tão importante como aquele em que podemos tomar a decisão de mudar os contos de fadas do passado e do futuro e começar a viver. A aproveitar a vida como ela se proporciona na realidade.
Ora, se alguma coisa o conhecimento das religiões e dos misticimos nos ensina, é que essa a forma de disfrutar a existência plenamente é possível e está à disposição de qualquer um. Os métodos têm muitas roupagens, aparentemente diferentes, mas convergem todos no essencial: há uma outra forma de 'ver' a realidade; há todo um mundo além dos nossos escassos cinco sentidos, para entender e descobrir o sentido da vida.
A nossa escolha, no entanto, é ignorar a sensatez dessa informação. Por uma razão bem clara: é verdadeiramente assustador compreender que fazemos parte de um todo, de que dependemos e que depende de todos os nossos ínfimos passos para se manifestar da forma a que assistimos todos os dias.
É realmente difícil de engolir que não podemos alancar todas as responsabilidades a um ou vários deuses, que determinam sozinhos as causas e efeitos de todas as nossas acções, do nosso carma ou do nosso fado.
É quase insuportável compreender que a nossa responsabilidade no que se passa connosco, e no mundo que estamos permanentemente a criar com as nossas escolhas e actos, é afinal a grande mão divina na nossa existência. E não dessas criaturas de superpoderes que a nossa imaginação criou para viver irresponsavelmente o seu dia-a-dia.
Há provavelmente mais forças além das nossas, há com certeza um mecanismo superior de equilíbrio que se sobrepõe ao nosso instinto suicida de deixar rolar tudo pela encosta abaixo e seja o que deus quiser. 
E para início do entendimento, há sem dúvida uma consciência global e em que podemos encontrar a clareza suficiente para agir de acordo com os nossos melhores instintos e experimentar felicidade e harmonia em vida, sem atirar para outra misteriosa existência o desejado paraíso.
Podemos começar por não destruir outras partes do mundo que sustentam o nosso corpo nesta existência, como a flora de que dependem os nossos pulmões para subsistir. Podemos resistir a correr atrás de uma economia imaginada por quem não distingue a realidade da ficção, dos mundos virtuais em que para uns ganharem outros têm de perder.
A nossa acção neste momento é a fundação do que se passa a seguir e, se queremos que isso seja bom, então temos de produzir coisas boas. Sementes boas dão frutos bons e esse é todo o mistério necessário à vida. Só nesse equilíbrio de causa e efeito teremos a paz necessária para pensar e usufruir de uma existência de sonho e não de pesadelo.
Somos constantes criadores da nossa realidade, com as nossas acções e os nossos pensamentos. É essa a experiência que queremos viver e é bom que a moldemos de acordo com os melhores propósitos e as melhores intenções. Conscientemente.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

saltos no escuro

"Vertigem" de Fabio Giampietro

Careço de alguma coisa que não está às claras por aí, que não é óbvia, nem específica. Que me impele em direcções contrárias a todo o bom senso, a toda a certeza. É uma vertigem, uma ansiedade que troca as voltas a qualquer plano anteriormente gizado. 
Isso torna-me previsível, nas palavras de quem se incomoda com as constantes guinadas dos meus impulsos, vistos pelos olhos de quem gosta de se ater a caminhos usados e descobre a previsibilidade no meu imprevisível. 
Na verdade, é a busca do imprevisível que me captura e me afasta das tramas calculáveis. O apelo incontrolado de todas as outras possibilidades ainda por criar é, cada vez mais, o meu motto
Esvaziado de perigo, surge em intensidade crescente num mundo em que os modelos previsíveis esgotaram há muito a capacidade de nos encantar. Os modelos de pensamento comuns têm o efeito de multiplicar a infecção do tédio e do desânimo.
A tristeza não é um caminho, mas um sinal. De que temos de perseguir essa inclinação para outras dimensões que não nos exponham a mortes prematuras.
Careço pois do que não está por aí e que apenas depende de mim para ser criado. E é nessa vertigem desconhecida, nessa inclinação para me lançar no que ainda não existe que se desenha o alargar da minha experiência.
Prefiro um salto no escuro e na turbulência ao sufoco de limites a que se associa absurdamente a segurança, pois a falta de ar e de tudo não é um conceito de vida nem de felicidade. Nem que se teime em transmitir como bom para os outros.


segunda-feira, 21 de abril de 2014

a consciência de Bruno



"A ordem e o poder da luz e das trevas não são iguais, pois a luz difunde-se e penetra as trevas mais profundas, mas as trevas não alcançam as mais puras regiões da luz.Assim, a luz compreende a treva, domina-a e conquista-a, através do infinito." - Giordano Bruno, 1591
A consciência do que é de facto a realidade custou a Bruno a sentença de morte pela igreja que devia disseminar essa mesma consciência. O medo e a sede de controlo têm levado a melhor sobre as religiões que, na ausência de fé nos seus próprios ensinamentos, transformam a vida no inferno que deviam evitar.

"Nós declaramos esse espaço infinito, dado que não há qualquer razão, conveniência, possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um limite." (Giordano Bruno, Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos, 1584).
Uma sabedoria tão radical nos nossos dias como herética à luz dos conhecimentos da sua época. Mas o pensamento e a obra de Bruno está recheada de detalhes sobre a magnífica consciência que tinha da realidade:
"O mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar que Deus , ser infinito, possa ter se limitado a si mesmo criando um mundo fechado e limitado?" 
"Não é fora de nós que devemos procurar a divindade, pois que ela está do nosso lado, ou melhor, em nosso foro interior, mais intimamente em nós do que estamos em nós mesmos." (A ceia de cinzas, Giordano Bruno, 1583).
Giordano Bruno nasceu em Nola, Reino de Nápoles, em 1548. Morreu em Roma, a 17 de Fevereiro de 1600, queimado na fogueira pela Inquisição.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

sintonia



Há uma força infinita na contenção, na delicadeza, no saber esperar pelo momento certo para deixar fluir a energia que brota dentro de nós. A acção, a explosão súbita é apenas consequência de um culminar de energia, de preparação para um determinado bem. E não se compara com a plenitude ou a renovação proporcionada pela sintonia com a nossa fonte interior.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

birras das crianças


Quando as coisas não lhes agradam, as crianças queixam-se, choram, fazem birra. Não têm outra forma de se manifestar, nem outras ferramentas para o fazer. Têm adultos que agem por elas, no sentido de lhes proporcionarem aquilo de que precisam.
As queixas deixam de ser uma opção quando crescem e passam a ter à mão as mesmas ferramentas das pessoas que delas cuidaram. Portanto, passar a vida adulta a fazer queixas e escolher não utilizar meios de gente crescida para resolver a vida é uma opção discutível.
É imaturo passar a vida ao lado de alguém de quem se diz mal, fazer queixas do patrão e do trabalho e não fazer nada para mudar de emprego ou a situação, protestar contra a injustiça e os políticos corruptos e não sair de casa para ir votar quando chega a altura.
As queixas são pretextos e desculpas para não se fazer o que está certo, o que é lógico e correspondente a quem cresceu e tem ferramentas para resolver as suas questões. Acontece que não há desculpa para não se fazer aquilo que nos apetece e nos parece justo. 
Passar o dia em queixas e protestos é extenuante. Até podemos começar por aí, mas o que vai mudar realmente alguma coisa é agir de acordo com o que queremos. 
Escolher a acção é mudar a nossa vida de um momento para o outro, sair do pesadelo e começar a andar na direcção do que queremos. 
Será assim tão difícil investir nas soluções o mesmo que investimos nas queixas? Será tão extraordinário viver como adultos em vez de estar sempre a fazer a birra das crianças?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

gritos de ajuda

Michelle Obama teve direito a mais pano na parte superior do vestido na foto da cerimónia de atribuição dos Óscares distribuída no Irão. Em Angola, aquando da sua candidatura à presidência, Hillary Clinton foi interpelada por um estudante que queria saber o que o marido, Bill, pensava sobre o facto. Isabel Magalhães, do Movimento Ser Cascais, teve direito a um "tiro" na testa, barba farta, nome travestido para o masculino e um coração negro em lugar do "sem" partidos.
Continua enraizada a crença de que a política é coisa para homens de barba rija e perigosa para o sexo fraco. A mudança assusta, sobretudo quando feita no feminino e demarcada dos interesses estabelecidos.
O mais caricato é verificar como esse susto cresce de forma igual entre gente que não partilha a mesma visão solidária e reparadora do que aflige as sociedades actuais, e gente que, mesmo sofrendo ou por isso mesmo, não se concede o direito de mudar.
Em Cascais, Isabel Magalhães propõe um novo modelo: governo local de independentes, divorciados de filiações partidárias e outras. Ou seja, quer mostrar que governar sem o jugo do compromisso de grupos de interesses vários é o condimento essencial para mudar o desastroso estado de crise financeira e social. Quer arrumar a casa e provar que o dinheiro de todos é mais do que suficiente para transformar o concelho num exemplo a seguir. E que o que está mal é que o dinheiro de todos esteja, há décadas, a servir para enriquecer franjas parasitárias da sociedade.
No dia a seguir à inauguração informal da sede da sua candidatura, um cartaz lança um aviso à mudança. Um grafiteiro, provavelmente desempregado e sem perspectivas, desenhou os contornos dos medos colectivos no cartaz colocado à porta da sede. O vandalismo gratuito toma o lugar da esperança, e soa como um pedido de ajuda. Atacado o mensageiro e a mensagem, o que se segue?
A mudança assusta, sobretudo quem grita por ela.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

quem tem medo do lobo mau?

Art image by Marita M. Ferreira
O medo sugerido é uma grande arma. Porque se nos pintam um cenário terrível, imaginamos o pior. Nem sequer o que os nossos inimigos conseguem imaginar como pior para nós, mas aquilo que nós próprios sabemos de que temos medo.
É o que acontece quando o Governo e as muitas troikas exteriores nos dizem que a crise está má e ainda vai piorar. Infelizmente, o Governo é democraticamente eleito por nós, para nos governar, mas apenas governa segundo os interesses dos outros. Os governantes são, por isso, pagos por nós, mas assalariados de corporações internacionais. E com elas nos ameaçam, com o maior dos descaramentos.
Ora, o que aconteceria se não aceitássemos o cenário de terror do Governo? Que aconteceria se deixássemos de pagar a dívida que nos impuseram? O apocalipse?
Não. Nem sequer isso. Claro que ficávamos mal, sem o crédito alheio, mas mal já nós estamos e ainda vamos ficar pior. Mas podemos escolher entre ficar mal, mas sermos donos do nosso destino, ou ficar mal e nunca sermos donos de nada, condenados a ser os fantoches de todas ascorporações internacionais que põem e dispõem da nossa vida e do nosso esforço.
O mundo acaba? Não. O País acaba? Não. As dificuldades acabam? Não. Mas acaba a pressão e aquilo com que tem de se lidar é muito mais humano, muito mais pragmático, muito mais certo.
Alguém alguma vez ouviu dizer que um país desapareceu do mapa por não ser capaz de pagar a dívida externa? Não, pois não? As pessoas desse país morreram todas? Desapareceram no espaço escuro? Não. Então o que lhes acontece? Nada, absolutamente nada. Continuam na bancarrota, mas os chupistas escolhem outros países para extorquir e deixam-nos em paz uns tempos.
Por isso, quem tem medo do lobo mau? O Governo? Então que tremam eles dos pés à cabeça. Os outros podem encolher os ombros e abandonar a brincadeira, porque deixou de ter graça.

quinta-feira, 8 de março de 2012

tranquilidade

Deve ser desta luz estupenda, deste excesso de estímulo. Os portugueses, mais ou menos como os outros povos latinos, não têm o hábito da tranquilidade. Estão sempre em modo irrequieto e inquieto, com as vidas cheias de tragédias e imprevistos, sem o hábito do controlo e sem lhe reconhecer as qualidades.
A verdade é que, não perder a cabeça ou não deixar que os acontecimentos se apropriem de nós, condicionando-os à nossa vontade e não à contrária, nos concede pulso e domínio, controlo e menos enredos.
Basta o que basta e um pouco de tranquilidade dá-nos, pelo menos, oportunidade de pensar e de avaliar tudo sem estar debaixo de fogo. Não há que confundir paixão com o caos. Pelo contrário, a paixão tem sempre um objectivo, um fim, um objecto. E é nesse sentido que gosto de caminhar, não às cegas por acontecimentos e desenvolvimentos que me são impostos por outros.
Um estado previdente deveria obrigar os seus cidadãos a uma hora de recolhimento tranquilo por dia. E com isso certamente reduziria os seus orçamentos de saúde pública e de organização para níveis mínimos. Ninguém consegue levar uma vida satisfatória sem um momento de tranquilidade ajuizadamente aposto à sua rotina diária.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

das alturas

Por vezes é preciso sermos como as palmeiras, apontadas para o céu e acima de todas as alturas. E uma vez lá em cima, evitar olhar para baixo e fixar apenas as nuvens, nada menos. Olhar para cima é como respirar fundo, como deixar de inclinar o pescoço para baixo, como se um jugo qualquer nos obrigasse a manter a cabeça baixa e a atitude em igual altura. Para se fazer uma revolução basta olhar para cima, recusar essa pressão para baixo a que nos querem sujeitar outros-sem-eira-nem-beira, parecidos com aquelas aves estridentes que tudo repetem sem dar realmente conta do que significam os sons que produzem. E é preciso ter pena de quem nada mais sabe senão escrever e dizer cem vezes, à laia de castigo, aquilo que os/nos torna mais pequenos. Perdoemos, compreendamos que não é culpa nem nossa responsabilidade, e sigamos em frente