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domingo, 25 de abril de 2021

abril justo

 

"Abril Justo" by MMF

Devíamos estar todos sentados na relva, num parque, a sentir uma brisa calma e a fruir os benefícios da Revolução de Abril. A navegar suavemente nas benevolências da democracia e da justiça para todos. E a sentirmo-nos felizes como quando realizamos uma paixão.
Em vez disso angustiamo-nos com a possibilidade de alguns fazerem mau uso da liberdade e, à boa maneira dos porcos triunfantes, aproveitarem para reivindicar a razão da força para os seus desejos menos idílicos.
Em defesa dos factos, a escolha e a capacidade de alterar a realidade a que agora assistimos como um desfecho possível e indesejável, é a mesma que permitiu Abril de 74 e a mudança significativa nas nossas vidas desde então.
O sistema é justo e funciona para qualquer lado. Os sonhadores devem contemplar simplesmente a possibilidade de agir bastante mais em prol da manutenção das suas adoradas utopias. Sonhos vigilantes e concretizados no dia-a-dia deixam menos espaço a pesadelos totalitários.
Ter por garantida a felicidade é não entender nada da natureza das coisas. É como não abrir o guarda-chuva durante as primeiras gotas da tempestade.
Este mundo é um calvário de trabalhos e é preciso aprender a gozar as alegrias da participação activa nos sonhos. Acabar o dia com a satisfação de o ter passado a depositar mais um tijolo na fundação certa é a garantia de que o amanhã nunca nos parecerá desanimador.
Viva Abril e a sua justiça.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

à espera de tudo


Sonolências benignas atacam quando chega a altura de fazer uma lista de desejos, votos ou compromissos para o próximo ano. Naturalmente. Porque o que queremos é tudo. Tudo o que somos e desejamos, para nós e para os outros. Como é possível pôr isso numa lista? Sem esquecer coisas importantes que por aí vêm e que ainda nem suspeitamos o que são?
Como adivinhar o que nos vai acontecer ao dobrar uma esquina, com quem nos vamos cruzar ou os desejos que estão tão escondidos cá dentro que nem sequer sonhamos que lá estão?
É mais fácil descansar a cabeça e esperar que tudo aconteça sem as distrações dos improváveis delírios da imaginação. O que nos acontece todos os dias é bem mais surpreendente do que se pode esperar e há que estar livre para ver tudo sem reservas. 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

amigos

friends, by rumoresdenuvens/maritamorenoferreira - digital painting
Amigos são a nossa terra natal. Fazem parte da solidez das nossas convicções, emoções e certezas. Mesmo quando não estão próximos, nunca deixam o espaço mental que habitamos. Não precisam de ser como nós, nem de concordar connosco em tudo. Existem apenas e não desaparecem. Às vezes nem são próximos, nem muito conhecidos. Mas fazem parte da muralha em que nos apoiamos.



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

o valor real de não se ser santo

emotion - rumoresdenuvens
Para que serve o nosso estudo e a nossa compreensão da espiritualidade se, como os outros tão prontamente observam, não conseguimos ser tão espirituais como isso?
A primeira questão que se põe é a formulação da pergunta. Porque o conhecimento da espiritualidade é uma necessidade que se sente e se põe em prática. Mas o facto de sabermos que somos seres espirituais não anula em nada a experiência material ou manifestada pela qual estamos a passar.
Apesar de entendermos que somos espírito, ficamos a saber que escolhemos esta experiência de um mundo de manifestações que não parecem tão espirituais como isso. Mas que o são e está tudo relacionado, tudo ligado de uma forma que é impossível desfazer.
Esta experiência é diferente, sim, mas também tem tudo que ver com o espírito que somos. E a nossa compreensão do espiritual não tem que ver com a imagem dos santos e outros conceitos preconcebidos que abundam por aí.
Não experimentamos coisas diferentes para ser santos, mas sim para apreciarmos a diversidade e expandirmos a experiência com todas as voltas e reviravoltas que surgem pelo caminho, criando a parti daí novas oportunidades de nos expandirmos.
O conhecimento espiritual é uma ajuda suplementar, que nos permite apreciar a beleza dessa criação e dessa expansão contínua, sem o peso do julgamento dos preconceitos. É isso que ganhamos com a aprendizagem da forma como funciona o espírito, não uma aura dourada e circular em cima da cabeça, como a dos santos da Igreja.
Todas as experiências contam, das melhores às piores. Os santos que conhecemos tiveram as suas, porque foram ditadas pelas suas escolhas pessoais. E a nossa liberdade está em escolhermos também o que nos parece mais interessante e que não tem de ser, obrigatoriamente, caminhar sobre a água e ser muito bonzinhos para toda a gente, a todo o instante.
No final, entende-se que a nossa experiência é única e jamais mensurável pela experiência dos outros. Que, por isso, não devemos copiar ninguém, mas seguir aquilo que nos faz sentir melhor. 
Que é importante sabermos que estamos sempre no sítio e no momento certos, e que o melhor é não passar a vida inteira com a crença no contrário. É isso que nos permite viver o presente e não ficar reféns de felicidades futuras. Ou de desgostos passados.


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

saltos no escuro

"Vertigem" de Fabio Giampietro

Careço de alguma coisa que não está às claras por aí, que não é óbvia, nem específica. Que me impele em direcções contrárias a todo o bom senso, a toda a certeza. É uma vertigem, uma ansiedade que troca as voltas a qualquer plano anteriormente gizado. 
Isso torna-me previsível, nas palavras de quem se incomoda com as constantes guinadas dos meus impulsos, vistos pelos olhos de quem gosta de se ater a caminhos usados e descobre a previsibilidade no meu imprevisível. 
Na verdade, é a busca do imprevisível que me captura e me afasta das tramas calculáveis. O apelo incontrolado de todas as outras possibilidades ainda por criar é, cada vez mais, o meu motto
Esvaziado de perigo, surge em intensidade crescente num mundo em que os modelos previsíveis esgotaram há muito a capacidade de nos encantar. Os modelos de pensamento comuns têm o efeito de multiplicar a infecção do tédio e do desânimo.
A tristeza não é um caminho, mas um sinal. De que temos de perseguir essa inclinação para outras dimensões que não nos exponham a mortes prematuras.
Careço pois do que não está por aí e que apenas depende de mim para ser criado. E é nessa vertigem desconhecida, nessa inclinação para me lançar no que ainda não existe que se desenha o alargar da minha experiência.
Prefiro um salto no escuro e na turbulência ao sufoco de limites a que se associa absurdamente a segurança, pois a falta de ar e de tudo não é um conceito de vida nem de felicidade. Nem que se teime em transmitir como bom para os outros.


segunda-feira, 20 de julho de 2015

ler traz felicidade

Desenho daqui

A leitura traz felicidade e isto não é uma afirmação vã. Basta pegar num livro quando estamos transtornados e começar um parágrafo para experimentar de imediato uma realidade diferente da que nos pôs naquele estado.
Quando não consigo meditar e, através dessa prática, readquirir o meu equilibro, leio. Ou desenho, ou pinto, ou ouço música. Às vezes vejo um filme. Algumas pessoas ligam a televisão e vêem novelas. Outras recorrem a palavras cruzadas, sudokus, grandes questões matemáticas ou da física. Ou numa mais corrente forma de concentrar a atenção como a jardinagem, a cozinha ou o arranjo de uma torneira.
Todos nós temos, sem nenhuma forma especial de aprendizagem, estas formas de nos concentrarmos numa tarefa que nos desliga de um momento difícil para nos mergulhar num outro espaço e tempo em que a realidade tem um ritmo e uma tonalidade muito mais apaziguadoras.
Não consigo meditar é uma expressão sem significado para quem tem consciência de todos estes pequenos instrumentos de acesso imediato à paz e à felicidade.
Ficar em sossego, bem sentado, a prestar atenção à respiração, ao movimento do ar que entra e sai do nosso corpo é tão bom como pegar num livro e mergulhar num outro espaço mental, ou cozinhar com atenção um prato que nos apeteça no sossego da cozinha.
É tão bom como ouvir um concerto e deixar que as emoções corram de vez com o nosso constante esforço para julgar tudo e todos à medida do que tão bem nos treinaram para fazer e tão mediocremente molda as nossas vidas.
Ler traz felicidade e contacto com o mundo dos outros. É o nosso veículo de transporte mental para vidas, viagens, sonhos e aventuras que existem em outras cabeças e que podemos partilhar instantaneamente.
Ler livros é uma obrigação quando tudo o resto que é preparado para nosso consumo se limita a pacotes de regras, leis e notícias cuidadosamente formatados para nos amargurarem a vida e nos manterem sob o efeito do medo, a droga mais mortífera e livremente traficada dos nossos dias.
Leio com consciência de que quem escreve produz uma diversidade e uma abundância de oportunidades a que dificilmente se tem acesso num mundo aparentemente desesperado e desertificado pela falta de ideias, de nobreza e de entusiasmo pela aceitação de outras formas de ver, sentir e pensar.
Fico mais feliz assim, sabendo que o que os livros me trazem são as ideias de quem vive mentalmente muito mais do que parece possível e que partilha comigo essa riqueza extraordinária.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

sexta-feira, 4 de julho de 2014

panem et circenses

Imagem daqui
A cultura transformada em ilusionismo é a prática política que mais popularidade ganhou nos últimos anos. Pão e circo (panem et circenses), com muito menos pão porque a finalidade é manter um reduzido número de patrícios e muitos dependentes.
Os impostos que todos pagamos, nem que seja apenas através das taxas aplicadas a todos os serviços, sempre contemplaram uma pequena parcela para a cultura. O Estado tem uma verba para a cultura, mesmo tendo acabado com o ministério correspondente. As câmaras têm verbas para a cultura.
A finalidade desses tostões era promover a cultura, ajudando os agentes culturais a criar os seus espectáculos e as suas formas de se expressar. 
Acontece que, com o dinheiro que é de todos, em vez de promover os agentes culturais, as entidades públicas criaram formas de se constituírem eles próprios em agentes da cultura. Sem aptidões próprias para isso e com a finalidade de fornecer o tipo de 'espectáculo cultural' que serve melhor os seus propósitos.
O país tornou-se, portanto, num grande palco em que os políticos são os supostos mecenas, enchendo praças, ruas e espaços culturais com as diversões que entendem. Tudo de graça, tudo para diversão do povo.
Os artistas e os verdadeiros agentes culturais, vêem-se dessa forma impedidos de competir com a cultura instituída, que é de borla e arrasa qualquer tentativa de produzir ofertas e mensagens em liberdade de pensamento e em nome da verdadeira cultura.
Enquanto o País pula de festa em festa, sacudindo as preocupações com bebida e luzes patrocinadas por grandes multinacionais, a livre escolha e o pensamento são erradicados da vida de cada pessoa, as alternativas suprimidas e toda a oferta fica sob o controlo dos políticos.
Açambarcar assim uma área de actividade devia ser objecto de investigação desse discreto organismo que dá pelo nome de Alta Autoridade para a Concorrência. Devia ser um crime público, para que qualquer um pudesse denunciar o abuso e a manipulação, uma vez que os artistas e os agentes de espectáculos jamais terão hipótese de financiar a seu favor o julgamento deste tipo de violação e abuso de poder.
Quando aceitamos a ideia de Estado e de Governo confiamos a representantes a nossa defesa, não a nossa alienação.