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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

o fogo em nós

"on fire" - MMF

Os piores incêndios são os que se acendem dentro de nós. E como fazemos parte indissociável de um ecossistema que engloba o planeta e, provavelmente, tudo mais que se conhece, é impossível deixar de ponderar sobre o que arde. Ou por que e para que arde.
Na sua perspectiva mais benevolente, o fogo e as queimadas, no Verão, fazem parte de um processo de renovação, de transformação do que não mais serve para dar lugar ao renascimento natural. Dos quatro elementos, é o que rege o coração.
Quando, neste mundo de que participamos, os incêndios assumem formas catastróficas, talvez devêssemos examinar o estado dos nossos corações. A zanga que jorra de dentro e a que, com certeza, não é estranha nem separável da sua manifestação natural.
O Verão também é um tempo entendido de descanso e fruição, talvez porque necessitemos desse amansar da actividade mental e física para renovar a tranquilidade dentro de nós e não contribuir com mais achas para a fogueira que, eventualmente, nos encurrala e destrói.
A mais acertada ponderação será, portanto, sobre o nosso contributo pessoal para as catástrofes, sejam elas de fogo, de plástico, de lixo, de emissões prejudiciais ao ar que se respira. Maturar a ideia da propensão natural de atear qualquer espécie de incêndio e transformar as vontades do coração em práticas de serenidade e segurança que são essenciais à sobrevivência.
O combate ao fogo nasce dentro de nós. Evolui e prospera quando entendemos que se ganha com o abandono da cólera e com a escolha inteligente da objecção de consciência. Não faz sentido participar do que condenamos e sabemos estar errado. 
Pacificando a mente e o coração damos igual oportunidade a todos os outros elementos. Ao equilíbrio.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

o assédio e a outra maneira de ver

imagem daqui

O assédio, ou o medo em todas as suas versões (incluindo a da raiva e a da reacção não assertiva), tornou-se o valor-guia de todas as interacções. Mesmo buscando desesperadamente por alguma coisa diferente, pouca gente se lembra da gentileza e do seu poder, de que a partilha é um acto de amor e que a sua prática o dissemina. Afinal, ovelha mansa mama do seu e do alheio.
Há outra maneira de ver as coisas, é possível sentir e agir de forma diferente. Mas quanto é que estamos dispostos a investir nisso e desistir das vinganças, das razões do nosso umbigo, do orgulho e da teimosia para apostar na tranquilidade e na boa relação com tudo e todos?
Trabalho de buda, de santo, dirão. Mas é uma escolha, se não suportamos mais o conflito e as suas devastadoras consequências na nossa vida. 
Achar que ainda aguentamos, que temos de aguentar, quando tudo já se desmoronou à nossa volta, quando já somos incapazes de olhar em volta com uma centelha mínima de esperança, é suicídio, não coragem.
A bravura está aqui em desistir do sistema louco e caótico que nos impõem e permitir que outros valores, que outras ideias tomem o lugar das que nos enlouquecem. 
Somos capazes disso? Estamos suficientemente esgotados para permitir finalmente que uma sensação de alívio nos preencha e dê os primeiros passos para restabelecer a paz dentro de nós? Queremos realmente isso?
Acho que queremos. Apenas não sabemos ainda como. Há que fazer a pergunta. Abrir a janela e gritar: como é que faço, como é que me livro deste sistema de pensamento que me sufoca? 
Tem de haver outra maneira de ver as coisas. E há.






quinta-feira, 21 de março de 2013

da paz

Não gosto de extremos. Comunistas e fascistas sempre tiveram para mim o contra do totalitarismo. E eu sou pela liberdade. Também não gosto de monárquicos porque acho que ninguém precisa de se pôr em bicos de pés se tiver uma boa auto-estima, nem acredito que o nascimento conceda outros direitos do que os de existir em igualdade de termos com toda a gente. E gente que acha que sabe, pensa ou pode mais do que os outros é sempre um triste espectáculo e exemplo de si mesma. Abomino igualmente o terrorismo e a pena de morte. Não me sinto obrigada a concordar ou a participar de nenhum deles e espero nunca estar na circunstância de ter de o demonstrar. Perante a escolha de matar ou sofrer a morte, espero ter a força de espírito necessária para abraçar o meu fim sem ter de passar pelo tormento de condenar outra pessoa a isso. Não gosto de extremos, mas entendo os contrastes e contra as atitudes radicais sugiro os limites, de preferência os pessoais, que são o único território natural de quem existe. Procurei sempre a paz, mesmo quando incapaz de agir em coerência com a sua experiência. Sou tranquila, mesmo quando a paixão parece sugerir o contrário. Quem me lê com honestidade sabe bem quem sou.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

a verdade

A verdade é que não sou, nunca fui e não tenciono ser extremista. Nem sequer de esquerda ou de direita. Nem centrista. Nem nada que alguém me chame e que não tenha pés nem cabeça.
Bem sei que é difícil perder o hábito de chamar nomes às pessoas. Mas não é impossível. É um processo de aprendizagem e posso debitar sobre isso porque, a certa altura da minha vida, compreendi que etiquetar pessoas é chamar-lhes nomes, muitas vezes assim como quem diz palavrões. E a partir daí engajei-me no processo de parar de chamar coisas aos outros. Até a mim.
Por isso, quando me chamam extremista, só têm razão no sentido em que procuro levar as coisas tão longe quanto possível, quando me parece bem e meritório.
Já de esquerda ou de direita, centro, lateral, etc., talvez haja de facto idades em que tudo tem de ser mais 'sim ou não' para todos nós. Mas não cresceu a sério quem não consiga admitir que esquerdas e direitas e outros flancos têm todos os seus méritos e os seus deméritos.
O importante é ver o bom nos outros e compreender que quanto mais bons, mais hipóteses de lhes encontrar os respectivos inversos. Mas é assim a vida, um pacote de opostos que nos ensina a beleza de escolher e do livre arbítrio.
Já na política, que é o assunto a propósito do qual vem esta prosa, no momento actual é de grande maturidade entender que já ninguém vê as coisas a preto e branco. Que a altura não é de recorrer aos padrões da passada Guerra Fria, mas sim entender o esboço de novos modelos e abraçar novas propostas.
Além disso, está bom de ver que qualquer extremismo exige boas pernas, prontas para correr à frente de cargas policiais e outras reacções quejandas, coisa que não se coadugna com o inexorável avançar da idade. Prova da sensatez da Natureza, que trata de divorciar a boa condição física de uma maior acuidade mental, abrandando os excessos e remetendo-os para idades em que menos males podem causar sem a ajuda da experiência.
As flores, a contemplação, a tranquilidade e a cabeça nas nuvens sempre estiveram mais de acordo com as minhas expectativas de vida, os projectos e a felicidade com que me comprometo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

tranquilidade

Deve ser desta luz estupenda, deste excesso de estímulo. Os portugueses, mais ou menos como os outros povos latinos, não têm o hábito da tranquilidade. Estão sempre em modo irrequieto e inquieto, com as vidas cheias de tragédias e imprevistos, sem o hábito do controlo e sem lhe reconhecer as qualidades.
A verdade é que, não perder a cabeça ou não deixar que os acontecimentos se apropriem de nós, condicionando-os à nossa vontade e não à contrária, nos concede pulso e domínio, controlo e menos enredos.
Basta o que basta e um pouco de tranquilidade dá-nos, pelo menos, oportunidade de pensar e de avaliar tudo sem estar debaixo de fogo. Não há que confundir paixão com o caos. Pelo contrário, a paixão tem sempre um objectivo, um fim, um objecto. E é nesse sentido que gosto de caminhar, não às cegas por acontecimentos e desenvolvimentos que me são impostos por outros.
Um estado previdente deveria obrigar os seus cidadãos a uma hora de recolhimento tranquilo por dia. E com isso certamente reduziria os seus orçamentos de saúde pública e de organização para níveis mínimos. Ninguém consegue levar uma vida satisfatória sem um momento de tranquilidade ajuizadamente aposto à sua rotina diária.

quarta-feira, 7 de março de 2012

excessos e défices

Por vezes, neste país soalheiro, falta o sol. Faltam também a alegria, a confiança, a necessidade de, quase em silêncio e mansamente, contemplar o que nos passa diante dos olhos. Talvez seja, precisamente, o excesso de luz, a constante exposição a esse estímulo que tanto atrai os nórdicos e nos deixa à beira de um ataque de nervos.
Há alturas em que é preciso distinguir entre a paixão e a agitação, a tranquilidade que se perde com a crença de que a falta de controlo é espontaneidade.
Não há mal algum em não agir permanentemente, não responder cegamente a todos os estímulos e impulsos. A vida pode muito bem ocorrer sem se assemelhar às estridências e sublinhados de uma ópera italiana.
Devia, sobretudo, evitar-se o barulho e a necessidade de transformar uma gota de água num maremoto. Mas para isso é preciso acreditar que nem tudo que se passa na nossa vida e à nossa volta é, necessariamente, um presságio do Apocalipse.
Por mim, ficava-me hoje pelo optimismo que nos imprimem os primeiros raios de sol e, avisadamente, guardar-me-ia do resto como de um excesso de medicação.