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terça-feira, 28 de agosto de 2018

sou um post-it

"I am a post-it"
Sou um post-it. Passo um quarto do meu dia a lembrar uma série de gente toda a sorte de coisas. Quando páro, vejo-me às aranhas para lembrar nomes, títulos, palavras vulgares para objectos do dia-a-dia. Resumindo, também preciso de um post-it.
Devo consultar um oráculo para descobrir o meu post-it pessoal? Um centro de meditação transcendental? O meu médico de família, que me aterroriza com a sua hipocondria e tendência para prever doenças que não são do meu interesse?
Por uma questão de senso comum, será melhor enumerar as qualidades expectáveis num post-it pessoal, tal como um invulgar respeito pelo meu silêncio, capacidades divinatórias excepcionais, para evitar irritantes explicações sobre o que pretendo que me lembre? Ou a relevância de não usar uma cola com componentes passíveis de induzir alergias e outros males menos conhecidos?
É uma maçada entrar no universo dos post-it e descobrir todas as barreiras físicas, emocionais e mentais a superar. Não admira que tenham escolhido o amarelo para estes papeizinhos, como aviso para a aventura em que se embarca a partir do momento em que começam a utilizar-se.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

o ovo e o açúcar


Há histórias que ficam para sempre, como esta do meu pai e do irmão, durante a estada num campo de férias para catraios como eles.
Um dia, à mesa com os outros, vieram os ovos estrelados com o respectivo acompanhamento. Todos se atiraram à comida, que uma refeição é para aproveitar de uma ponta à outra, sobretudo quando a brincadeira já gastou as reservas e o apetite não falta.
Todos, menos o meu pai e o meu tio, que se mantiveram quietos, sem tocar nos talheres. Aquilo causou estranheza ao supervisor da mesa, que tratou de saber se não tinham fome. Claro que tinham, mas os dois estavam à espera. De quê, quis saber o homem.
Do açúcar, foi a resposta. Pronto, estava garantida a atenção de todos e foi-lhes exigida a necessária explicação.
É que em casa os ovos estrelados eram servidos com açúcar, claro. No campo de férias o costume foi pura e simplesmente ignorado. Ou comiam assim ou ficavam sem jantar. E os dois comeram. Mas de regresso a casa, e de novo à mesa, apresentaram o seu protesto quanto ao ocorrido no campo, com a devida indignação. 
Foi então que lhes foi revelado que era assim que toda a gente comia os ovos estrelados, sem açúcar. E que se os comiam assim ali, era porque queriam e não havia razão maior para não o fazerem.
O universo familiar está cheio destes chocantes desvios das normas, tão inaceitáveis para os outros como a possibilidade de comer um ovo estrelado sem açúcar.