quinta-feira, 21 de setembro de 2017

bem plantar para melhor colher


Não voto, não dou confiança a esses palermas, disse-me alguém. Esses palermas decidem o que podes ou não fazer, que qualidade tem a tua vida, quando é que te reformas e se vais ter protecção e justiça quando precisares dela, pensei.
De que estamos a falar afinal? De comer menos batatas fritas ou mais fruta e salada? De ter filhos, escrever livros e plantar árvores? Ou de tudo isso como se fosse apenas um comentário de café, só para fazer conversa, só para mostrar como conseguimos ser deliciosamente nonchalant até com coisas sérias?
Votar é depositar uma semente na terra e esperar que cresça e dê frutos. É uma relação que se estabelece com a organização da nossa vida. É uma questão e uma acção séria, que deve ser tanto mais ponderada quanto a importância que acaba por ter em toda a nossa vida.
Não é um kleenex que se descarta, nem um concurso de caras e figuras para escolher como num álbum de fotografias: esta gosto, esta não gosto, esta é mais ou menos.
O nosso voto vai para pessoas que ficam obrigadas a tomar contada nossa casa, da nossa integridade, da nossa segurança. Alguém entrega isso a estranhos, gente menos confiável ou deixa a sua casa à mercê do acaso? Do voto dos outros?
Tanto descontentamento não merece já alguma atenção e acção? De que valem a lamúria e a raiva se não motivarem acções para a mudança? Se há tanto para protestar, por que não se faz alguma coisa para mudar?
Chega o momento em que é preciso ser coerente e prático. Em que nos levantamos para fechar a maldita torneira que pinga há anos e nos dá cabo da paciência e do orçamento.
Deixem de fingir que não se importam, porque tudo o que se houve é o que todos sabemos que está mal. Mas onde estão as pessoas dispostas a dizer que vão votar porque chegou a altura de mudar realmente alguma coisa?
Cascais foi um dos três concelhos com maior abstenção nas últimas autárquicas. Querem ver que a vocação desta terra é para a criação de avestruzes de cabeça enterrada nas dunas?

terça-feira, 19 de setembro de 2017

nas costas dos outros vemos as nossas

foto daqui
Use the right tool for the job, que é como quem diz: use a ferramenta certa para o trabalho. O que faria alguém normal, honrado, responsável, seria procurar uma fórmula própria e original de chegar as outros.
Isso seria mesmo o ideal, mas não é o que acontece quando, à falta de ideias, se pegam nas dos outros e se faz de conta que são originais. Tipo, usar cartazes com cores familiares para criar empatia com os eleitores. Ou usar as medidas anunciadas por outros como se fossem suas para preencher um programa inexistente.
Com a conivência, claro, dos órgãos de comunicação social. Esses, que tendo o dever de proporcionar igual espaço e atenção a todos, seleccionam pretensas notícias e eventos de modo a que a visibilidade contemple apenas uns e jamais outros.
Haverá realmente quem ainda acredite na decência deste tipo de intervenientes?
Pode, afinal, dizer-se use the right boys for the job, que é como quem diz: use a gente certa para o trabalho. E se o trabalho fosse bom e decente, seria ouro sobre azul.
O que se passa, no entanto, é que nenhum trabalho pode ser bom, e muito menos decente, se deita a mão a todo e qualquer estratagema para manipular a opinião pública e tapar o sol com a peneira. 
Não é bom usar nenhum poder para abusar dos outros, seja ele informativo, politico ou financeiro. Não é bom nem aceitável mentir, manipular ou usar indevidamente os instrumentos legais para conseguir pôr em prática uma agenda pessoal e de interesses privados. Não dignifica nem as empresas, nem as instituições. Não contribui para o bem geral e deve ser correctamente identificado como um comportamento anómalo, perverso e condenável.
Os meios não justificam os fins porque, em termos de efeitos, são os meios que os determinam e não os fins imediatos. Pode sempre construir-se uma bela casa na duna, mas a sua beleza nunca estará segura, pois as suas fundações não são confiáveis.
Também não é bonito nem credível mentir ou menorizar os outros, só porque têm opiniões diferentes das nossas. Porque nas costas deles vemos o que nos vão fazer e o que nos espera a seguir. Por isso, antes de escolhermos as pessoas que nos vão representar, devemos ponderar demoradamente as suas acções.
Se queremos realmente que alguma coisa mude, temos de fazer escolhas diferentes. E, sobretudo, não deixar que escolham por nós.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

outros perigos na duna

foto mmf
Recebemos avisos constantes mas, regra geral, não lhes ligamos nenhuma.
Na Cresmina há várias placas que avisam ser proibido caminhar fora do passadiço, gente ou respectivos bichos de companhia, sob pena de se ser multado, blá, blá, blá.
O que não dizem os avisos é que as piores consequências não são apenas para a duna, mas para quem irresponsavelmente a desafia.
O que presenciámos há tempos atrás foi disso um exemplo inesquecível: um jovem cozinheiro apanhado desprevenido pelo corte de trânsito na manhã de um evento desportivo, decidiu atravessar rapidamente o passadiço para chegar ao restaurante do Guincho onde trabalha.
A certa altura decidiu que fazer um atalho pela duna; era a sua hipótese de poupar algum tempo, visto o atraso que já levava. 
Conseguiu correr numa zona de pedras com alguma segurança, mas quando enveredou pela zona de areia e vegetação rasteira, a uns escassos dez metros das traseiras de um restaurante que confina com a duna, aconteceu o que podia ter sido uma inacreditável tragédia.
De repente, começou a cair e a desaparecer em buracos que não se viam, repetidamente, tendo conseguido, de todas as vezes, levantar-se e prosseguir.
Foi um espectáculo de cortar o coração ver o rapaz a tentar vencer os poucos metros que o separavam da estrada do Guincho em quedas sucessivas. Algumas delas levaram-nos a correr pelo passadiço na direcção dele, para o caso de se ter de chamar por socorro.
Ao fim de longos minutos o rapaz conseguiu chegar ao muro do restaurante e ficar em segurança. Via-se que estava exausto, mas escapou de ferimentos e de uma queda mais grave que o tivesse impedido de continuar.
Nem toda a gente terá, eventualmente, a sorte deste jovem cozinheiro. Mas continua a haver quem se aventure fora do trilho, sem qualquer consciência do que está verdadeiramente em risco.
Na presença de uma equipa da Cascais Ambiente, chamámos a atenção para o sucedido. Falaram em reforço de sinalização. A que existe nada diz, de facto, sobre a possibilidade do descrito acima.
Será o suficiente para evitar acidentes insuspeitados?

domingo, 17 de setembro de 2017

o silêncio dos descontentes

foto mmf
Há um silêncio estudado em relação às eleições autárquicas que estão à porta. É o que têm mantido os auto-denominados órgãos de comunicação social. E por estes entendam-se indústrias de entretenimento através das quais é impossível distinguir notícias verdadeiras de manipulações descaradas da realidade. 
Há um silêncio assustador que é o do Estado e o do poder em relação à aberração em que se tornou a comunicação social. Parece que ainda contam com ela para trazer a lume alguma revelação ponderosa, como se ainda acreditassem numa reviravolta do jogo, e que quem domina a indústria pudesse ainda escolher outro lado que não o do dinheiro e dos grandes negócios.
Há o silêncio amarfanhado e raivoso dos jornalistas forçados a praticar um ofício que em nada se parece com o prometido nos seus sonhos, nas escolas e na honra de qualquer profissão. E como se vingam, na primeira oportunidade, esses humilhados escribas do poder...
Há o silêncio dos pobres de espírito que saem de casa todos os dias apenas para, como antenas de uma só função, apanharem no ar partes do diz que disse e reproduzirem essas amálgamas de aleivosias em gostos e bonequinhos nas redes sociais.
Há o silêncio dos descontentes, que mesmo podendo votar ou protestar, se deixam manietar pelos seus medos e exibem a negação como se de um traço de grande carácter se tratasse. Não se manifestam  e, de preferência, sonham passar despercebidos, com a cabeça enterrada na areia, a sonhar com o milagre que um dia lhes vai acontecer e tornar a sua vida no grande sonho que escondem dentro de si. E que apenas eles conhecem, esquecendo-se de que os aplausos por tão grandes sonhos e sucessos só pode dar-se com a colaboração dos outros.
E há também o silêncio amordaçado de quem quer mudar alguma coisa no meio destes silêncios todos.
Há uma qualidade sombria neste silêncio que não é de ouro porque alguém acredita que o ouro não é para todos. Mas é.
O silêncio vale a pena quando é para fazer orelhas moucas às más intenções alheias e agir com o coração, com verdade e com honra. Quando se deita a mão às poucas armas disponíveis e se faz cm que elas contem. Em votos ou em qualquer outra intenção manifesta.
Tudo o resto é fingir que se anda vivo quando já se aceitou uma morte antecipada. 

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

furacões e conspirações

foto daqui
Furacões e conspirações rimam. E rimas são padrões. Com os padrões aprendemos coisas interessantes, porque nunca estão lá por acaso.
Assim, podemos pegar no Irma e na explicação que o cientista Michio Kaku tentou dar sobre a possibilidade de se alterar as condições climatéricas com a ajuda da tecnologia.
O tempo em televisão não prima pelo rigor científico, como se comprova diariamente. Com uma ajudinha das redes sociais, as mensagens que sobrevivem não têm geralmente nada que ver com nada lógico ou irracional.
Uma entrevista que se pretendia esclarecedora virou, instantaneamente, uma 'prova' de que o Irma e os seus congéneres José e Katia tinham mão humana. E está lançada mais uma teoria da conspiração.
Aqui há uns séculos as tempestades e outras grandes comoções naturais provinham da fúria divina e de algum pecado mortal. Actualmente, a sua fonte é uma qualquer conspiração de ricos e poderosos, envolvendo, no mínimo, muita culpa. Não se vê aqui um padrão?
Para manter a desejada humildade, não descartaremos o poder do divino ou dos conspiradores, não vá o céu cair-nos sobre a cabeça sem outra explicação que a de um não entendido, mas mesmo assim merecido, castigo.
Convenhamos, no entanto, que a reacção perante as explosões divinas e as das conspirações são tremendamente semelhantes, indicando sempre que o grande mal é sempre de natureza exterior à nossa responsabilidade individual. Há ou não há aqui um padrão?
Outro padrão consistente é a nossa falta de juízo e de compreensão da Terra e da Humanidade como um ecossistema altamente sofisticado e intrincado, muito implica com estas 'disfunções' naturais. 
No fundo, não faz diferença que sejam fúrias divinas, homenzinhos de negro ou o comum dos mortais que atira lixo para o mar. Tudo o que fazemos tem consequências e a nossa negligência individual pode muito bem ser o suficiente para criar um furacão. Ou deixar que tome forma tangível uma conspiração.
Não nos preocupamos o bastante, não nos responsabilizamos o suficiente. E temos o mesmo descuido com o ecossistema que sustenta a nossa vida que usamos no dia-a-dia. Varremos o lixo para debaixo do tapete quando permitimos que se façam, todos os dias, coisas que sabemos estarem erradas, quando fazemos o que não gostamos, quando permitimos que nos faltem ao respeito, quando não votamos porque achamos que não vale a pena.
Descuidos atrás de descuidos. Causas mais do que suficientes para grandes desastres. Não vêem aqui também um padrão? E não é que rima igualmente com furacão e conspiração?
Quem diria que um bocadinho de gramática tem tanto que ver com a forma como tudo funciona? 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

o triunfo dos homenzinhos

© rumoresdenuvens 2017
Já não há homenzinhos desagradáveis de lápis azul a riscar letrinhas no papel. Tornaram-se obsoletos, substituídos por gente muito mais importante: donos de pretensos órgãos de comunicação social que partilham a estranha crença de que são donos de tudo. São igualmente desagradáveis e homenzinhos, mas usam bons fatos e as unhas tratadas, em vez de roupa modesta e cinzenta e mãos sujas de tinta de impressão. 
Há quem diga que são poderosos porque podem, porque são de organizações secretas e obscuras, de partidos políticos influentes, ou empresas milionárias, ricos de nascença, porque têm amizades influentes, ou se associam ao grande capital, etc.
Até pode ser tudo isso, mas a verdade é que estes homenzinhos não são é pessoas de bem. Acreditam que umas quantas oportunidades e muitos mais atropelos lhes conferem direitos e privilégios que ninguém tem.
Por exemplo: decorre a pré-campanha eleitoral mais discreta de que há memória desde os tempos da ditadura. São autárquicas, mas o menino bonito das televisões é um ex-primeiro ministro, talvez pela grande escassez de ideias e argumentos que lança para o éter, enquanto visita locais em que não se passa nada.
Será a era dos telejornais das alforrecas? Da matéria gelatinosa, pegajosa e falha de conteúdo? Salpicada com muitos incêndios e borrascas, que parecem vir de encomenda para a abertura dos noticiários... O Crime, o Correio da Manhã e o 24 Horas fizeram, afinal de contas, escola e sucesso, apesar do desprezo público a que foram votados pelos mesmos jornalistas que hoje os copiam.
Voltando à eminente campanha eleitoral, sem menção de nota pelos serviços noticiosos, limitam-se a um o outro debate cuja finalidade é dar alguma vantagem aos candidatos favoritos dos donos de tudo isto. Mesmo assim, escasseiam, não vão os visados conseguir estragar, mesmo assim, a fraca imagem que já trazem como bagagem.
Todos os outros desapareceram do mapa, à excepção dos cartazes nas rotundas e das arruadas organizadas localmente e jamais relatadas.
São tempos de um estranho protagonismo desses homenzinhos tão bem sucedidos que até temem a própria sombra. Tempos de censura que nem o Estado tem coragem de denunciar. Ditaduras na surra, para ninguém comprometer e não comprometerem ninguém.
É triste observar como a elite dos nossos dias é afinal um montinho de gente pequenina e com medo de ser politicamente incorrecta, uns trumpinhas que nem cortes de cabelo ridículos se atrevem a usar. Aprenderam a deletar os outros a coberto dos teclados virtuais e outras tecnologias de ponta, mas na vida real não há ponta por onde se lhes pegue.
Neste momento o seu maior atrevimento é dissolver uma campanha eleitoral e esperar que cinco mil votos sejam suficientes para manter a legalidade da governação da minoria. 
Até marcam jogos de futebol televisionados para o dia das eleições, para garantir que os poucos prospectivos votantes ainda acordados sejam convenientemente distraídos dos seus direitos e deveres. Mais valia oferecerem livremente bolinhos de maconha a toda a população no dia de reflexão antes do acto eleitoral.
É a censura dos homenzinhos, mais uma vez, e não há quem nos acuda. Desta vez estão em todo o lado, como um vírus extreminador. Sem vacina preventiva.

a importância de se chamar Gabriela

Gabriela Canavilhas

O defeito imediato que se lhe apontou à cabeça foi o de não ser de Cascais e, portanto, de não conhecer o território que se propõe governar. Gabriela Canavilhas provou rapidamente que há contras que são, afinal, vantagens: nada tomando por garantido, estudou a fundo o concelho, visitou-o, rodeou-se de quem vive e conhece a região, falou com muita gente e avançou com segurança com propostas que assume como compromissos.
Neste momento, Gabriela conhece melhor o concelho do que a maioria esmagadora dos cascalenses, que vive trancada nos transportes e nos empregos fora do concelho durante o espaço em que entra e sai de casa. 
Como mulher, constantemente menorizada pela condescendência com que os candidatos masculinos descartam a importância dos adversários do sexo 'fraco', recusa o papel de vítima e não se atrapalha no que exige dos seus rivais. Afinal, é uma discriminação perigosa, a demonstrar que há quem não tenha pejo em exibir publicamente a falta de respeito que tem por metade da população votante.
Gabriela Canavilhas sabe perfeitamente que os seus direitos não estão ameaçados apenas porque um punhado de de indivíduos acredita que as velhas crenças hão-de ajudá-los a manter indefinidamente uma ordem que exclui os interesses de todos em favor de alguns e desonra todos os valores meritórios de humanidade e serviço aos outros.
Porque é de serviço aos outros a proposta que traz para a mesa do governo de Cascais. E após dezasseis anos de maquinações partidárias do mesmo sinal na nossa terra, nem o ónus da ligação aos grandes interesses económicos lhe podem apontar. Emerge assim duplamente capaz de atacar os problemas de raiz com que o concelho se depara.
Gabriela, par feminino do arcanjo mensageiro dos Céus que esteve presente em todos os momentos prenunciadores de uma grande viragem para a Humanidade, é neste contexto a anunciadora das mudanças que, de uma forma ou de outra, ocorrerão em Cascais. 
Pois caso vos tenha falhado um dos seus belíssimos lemas de campanha, pelos velhos mapas não se chega a novos destinos, é fácil perceber como Gabriela Canavilhas abraça a mudança de paradigma (modelo ou padrão a seguir) de que tantos falam e tão poucos entendem, ou fazem tenção de pôr em prática.
Uma nova mentalidade e uma nova atitude são exigências mandatórias para os líderes actuais. Já não há complacência possível para com quem anuncia maravilhas e produz aberrações. 
Gabriela, como artista que é, tem a tenacidade e o ânimo necessários para, nestas circunstâncias aparentemente adversas, acreditar que nada está perdido quando estamos dispostos a recomeçar em qualquer altura.
Como alguém habituado a criar e a confiar no seu instinto, não lhe é difícil imaginar um Cascais completamente diverso do actual. Muito diferente do que é possível na imaginação de quem limita a criação a novas tabelas de taxas municipais e à crença de que se pode abusar impunemente dos cidadãos, em vez de os servir.
A cultura e a boa educação fazem diferença num cenário de jogo viciado em que tudo se reduz, há anos, a impulsos básicos de sobrevivência. De um lado dirigentes demasiado preocupados em manter os seus poleiros que pouco mais conseguem fazer; por outro, uma população votante massacrada por contas astronómicas e uma vida muito diferente da que mostram os anúncios sobre a qualidade de vida da região.
Nem os ricos disfrutam Cascais. Entram e saem ao ritmo das fanfarras popularuchas criadas à imagem e semelhança de quem dirige os tristes destinos da nossa terra. Aos restantes cabe a penosa tarefa de pagar cada vez mais pela estada numa zona de embustes e de banha da cobra televisiva.
Gabriela Canavilhas pode não ter eco nas televisões que apoiam os poderosos por serem dos poderosos. Mas sabe que não são esses que pagam com o seu esforço diário o estilo de vida cascalense.
Sabe que há pelo menos mais uma centena de milhar de votantes com vontade de mudar o que os outros vinte e sete mil impuseram nos últimos quatro anos. Tem uma visão para Cascais que não é um simples avancamento descontrolado.
É com o coração e com muita inteligência que se propõe mudar o que entristece e revolta o coração dos cascalenses. Que as boas obras inspirem o seu trabalho e o futuro de quem delas possa e queira beneficiar.


quarta-feira, 6 de setembro de 2017

há coisas a avancar

(foto daqui)


Há coisas que avancam em Cascais. Avancar é um verbo novo, desses que fica em terra de ninguém e que não implica nem compromete grande coisa. Avancar, avancamos todos, não importa em que direcção, com que intensidade, profundidade e consequências. 
O que importa é avancar. Dar a ideia de que estamos todos em movimento, mesmo que seja para o precipício dos efeitos menos desejáveis. E quem avanca a mais não é obrigado. Não se tortura com estados de consciência, com problemas varridos para debaixo do tapete, com cheias, tempestades e outras calamidades. 
Avancamos todos para o universo das facilidades, da megalomania do betão e do cimento. Dos parques de estacionamento impostos a quem tem direito a ter carro mas não a um espaço livre para o estacionar. Ao enxotamento dos cascalenses para a periferia do concelho para que os turistas possam beneficiar da vista e das bicas super modernas, ao mesmo tempo que compram souvenires fabricados a Oriente.
À universalíssima água de todos nós, vendida a peso de ouro (ora cá está a explicação para tantos ricos e famosos aqui assentarem arraiais). Querem água à borla? Vão para os chuveiros das praias, que já estão pagos com as taxas municipais e também servem para limpar as caravelas portuguesas que se agarram à pele dos banhistas de Carcavelos. Há gente mesmo ignorante e incapaz de avancar...
Avanca-se sobretudo com múltiplos mega eventos em Setembro, a concorrer com a campanha eleitoral e a deixar-nos aturdidos com a oferta previamente paga pelo bolso de todos.
O que faz falta é avancar a malta. E quem avanca, seus males espanta.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Circo, circo, circo, disse ela

Circo, circo, circo, diz ela (foto daqui)
O debate sobre as eleições autárquicas em Cascais, emitido ontem pela TVI24, teve um único protagonista: Judite de Sousa. Apresentou-se como a jornalista moderadora da conversa entre os candidatos às próximas eleições no concelho mas, de facto foi a encenadora de um dos mais tristes espectáculos alguma vez vistos em televisão.
Começou por convidar apenas três dos candidatos, ignorando os outros sob um qualquer pretexto de exclusão que entendeu não ter obrigação de explicar aos telespectadores. Foi a sua primeira infracção das regras democráticas e do código deontológico dos jornalistas.
Em igual desrespeito do mesmo código, que deve ter assinado para obter a sua carteira profissional e exercer legalmente o ofício jornalístico, numa encenação descarada e de cariz inegavelmente propangandístico, separou o actual presidente e candidato dos outros inervenientes, conferindo-lhe um destaque que fere todas as regras de igualdade e tratamento.
Não contente com as suas más e indevidas acções no exercício de um métier que merece respeito e, desta forma, desonra todos os seus colegas e evidencia falta de respeito pelo seu público, a senhora Judite de Sousa inicia a apresentação dos candidatos pelo actual presidente, vindo no final a atribuir-lhe o fecho das intervenções.
A mesma senhora encarregou-se, durante todo o debate, de interromper sistematicamente os dois candidatos da oposição, nunca o fazendo com o "seu eleito", dando-se mesmo ao trabalho de interpelar os entrevistados e fornecer respostas em seu lugar, proporciando um tristíssimo espectáculo televisivo e pessoal.
Mais do mesmo despudor antidemocrático foi o descarado resultado das respostas do actual edil, que fez questão de manifestar publicamente a condescendência com que mima os seus adversários, desvalorizando-os permanentemente como pessoas de fraco entendimento e eternamente ignorantes das realidades do concelho.
O mesmo desrespeito demonstra na sistemática ocultação da actividade autárquica passível de contestação, dificultando de diversas formas o acesso da oposição e dos cascalenses em geral à informação a que tem direito sobre as grandes decisões respeitantes à sua terra, ignorando o respeito que deve a quem lhe paga para governar e não para abusar sistematicamente do poder que lhe confere o cargo.
Bem estiveram os outros candidatos, pelo contraste imposto pela enferma prestação de Judite e do seu protegido. Mesmo não tendo beneficiado de tratamento justo ou igual. O mal condena-se a si mesmo e não vale a pena explicar esta verdade basilar a quem não tem meios de diferenciar os conceitos de certo ou errado.
Quanto à triste protagonista deste episódio, deveria ver a sua conduta analisada pela alta autoridade competente e o seu título profissional revogado pela mesma ou pelo respectivo sindicato. Prestou um serviço lamentável e passível de justificada condenação.
Ficámos também a saber, em Cascais e no País, que a comunicação social não tem vergonha de privilegiar o poder e de vender a pretensão democrática como uma desavergonhada propaganda. O mal está à solta e, pelos vistos, desesperado por uma vitória a qualquer custo.
Circo, circo, circo, disse ela (Judite, mulher de duvidosas qualidades).

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

pensar devagar


Dei-me conta de que penso devagar. No sentido em que, apesar de pensar constantemente, só raramente entendo e contextualizo o que penso. Por isso vou pensando de forma lenta, cada vez mais lenta. De que serve pensar tanto se não se entende o significado, a causa e o efeito do que se pensa?
Devo fazer o mesmo com a vida, uma vez que ela tanto depende do que pensamos. Se aproveitamos pouco de todo o pensamento que geramos, também só vivemos plenamente umas pequenas porções da vida.
E dou comigo a rir dos raciocínios. Visto esta coisa dos pensamentos tão mal pensados e tudo o que isso acarreta. Assim se avalia a fraca qualidade de qualquer raciocínio. Mesmo dos mais elaborados. Não se acedendo aos factos todos, a todas as causas que se escondem por detrás dos efeitos, só podemos rir da maior parte dos raciciocínios e conclusões que tiramos.
É muita pretensão da nossa parte convencermo-nos de que fazemos escolhas elucidadas e adequadas a todo e qualquer acontecimento. A nossa vida é muito mais parecida com um jogo de que desconhecemos a programação e que nos atira permanentemente para cenários que nunca conseguimos antecipar.
Por isso penso devagar. Nem sequer faz diferença o tempo que levamos a pensar, porque a vida é muito mais alucinada do que podemos imaginar, com tanto bilião de pessoas a pensar caoticamente por todo o lado e a determinar dessa forma as infindáveis variantes do jogo.
Vou continuar a pensar devagar. Não faz diferença a forma como pensamos ou o tempo que levamos nessa ocupação.
O que faz diferença é a forma como passamos a entender os acontecimentos. Não em todos os seus peculiares contornos, mas como bolas loucas disparadas livremente em todas as direcções. A nossa única obrigação é decidir no momento quais apanhar, usar, ou de quais fugir.
Pensar é um jogo, viver é um jogo. As regras são para inventar à medida que rolam os dados.

domingo, 6 de agosto de 2017

acabei de respirar

by Sarah Meech
Acabei de respirar fundo. Deixei que o meu corpo se enchesse todo de ar. Parecia que explodia de vida e de energia. Não prestamos suficiente atenção à alegria que é respirar e sentir como fazemos parte deste mundo. Como dependemos dele para existir e experimentar esta vida. Esquecemo-nos de quão inebriante isso é. 


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

campanhas de destruição maciça

Harmony (MMF)


Uma campanha eleitoral não é uma guerra de gangues. Não versa sobre quem tem mais podres, mas sobre o que se pode fazer por um território e por uma comunidade.
As campanhas são um sistema pensado para permitir que alguns indivíduos dêem voz aos projectos que acreditam virem a beneficiar a sua vida e a dos outros.
Não são uma arma de arremesso para tentar dar cabo da vida de outras pessoas num período determinado por lei. Não são para acender guerrilhas em vez de falar do que realmente está em causa.
Quem escolhe vomitar veneno em vez de demonstrar o que pode fazer pela sua terra não merece ser votado como digno representante da sua comunidade. Porque apenas está a demonstrar o que acha aceitável em termos de relação com os outros.
Precisamos de campanhas feitas por pessoas que ajam com educação e respeito, que mostrem o que de facto querem fazer pela terra e pelas gentes, que falem do que está em causa e das soluções com que pensam resolver questões básicas.
É urgente que as campanhas voltem a ser sobre o que torna a nossa vida boa e possível neste planeta e não sobre as lutas de poder entre egos cegos e sôfregos que acham que podem viver numa conta virtual numa offshore, em vez de apreciar a vida num espaço físico equilibrado e tranquilo.
O nosso bem-estar, a nossa felicidade e a nossa durabilidade aqui, e agora, dependem da nossa capacidade de encontrar pessoas capazes de trabalhar em harmonia com os outros e com a natureza. Capazes de recusar todo e qualquer tipo de conflito desgastador e devastador.
É impossível acreditar em quem afirma ser o melhor para uma comunidade quando as armas que apresenta são apenas as da demolição moral e emocional, em vez da inspiração com que se animam novos projectos, da motivação que recupera a fé na vida e na sua viabilidade prática.
São pessoas de bem e educadas, as que precisamos para nos convencerem a sair de casa e votar por algo com sentido, no próximo mês de Outubro. São pessoas que mantêm a noção do que está certo e do que está errado e que, sem hesitações, se recusem a participar de esquemas viciados e malfeitores que nos envenenam a sobrevivência.
Por isso, precisamos de uma campanha limpa, feita por pessoas capazes de manter o foco no que nos vai servir a todos. E não por gente raivosa e disposta a minar e a destruir, e que acredita que todos os meios justificam os fins.
Só que os fins não são apenas uma boa contagem de votos, mas sim o que vem a seguir. O que é capaz de nos tornar mais humanos e felizes na convivência e na partilha do espaço com os outros.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

estrelas cadentes

Imagem daqui


Tenho visto pelo menos uma estrela cadente todas as noites. Nunca vi uma estrela cadente, disse-me alguém há um par de dias. Pensei em responder que é preciso olhar para cima à noite, mas era uma conversa que estávamos a ter e às tantas temos de decidir entre olhar directamente para quem temos à frente ou olhar para cima e ver estrelas cadentes.
Noutras ocasiões alguém demonstrou com entusiasmo a minha boa fortuna por ver uma estrela cadente. Como se fosse um sinal dos céus. Acontece que as estrelas cadentes não são sequer estrelas e o céu em que brilham é apenas o limite da atmosfera em que se desfazem com o atrito. Está bem... São pedacinhos de céu também.
Cadente é uma palavra muito final. Adequada, no entanto, à sensação que fica quando a luzinha desaparece, após um instante de brilho. Também não desaparece de verdade, apenas se transforma. Mas como qualquer outro fenómeno ou manifestação, é uma oportunidade breve que se vai em fracções de segundo.
Tudo ao contrário da eternidade, com a sua enunciada paz e perenidade. Ou é apenas um desejo colectivo de que a estabilidade exista, numa qualquer forma concreta? Num universo em que tudo está em permanente mudança e qualquer detalhe imprevisto abre de imediato infindas possibilidades? 
De onde vem essa loucura colectiva que nos incita a procurar a estabilidade a qualquer custo, num universo de estrelas cadentes, em que a única coisa permanente é a mudança?

sexta-feira, 28 de julho de 2017

misteriosos triângulos de fruta



É tudo uma questão de laranjas, rosas e maçãs. As primeiras bem podem ser os frutos da árvore do conhecimento, em vez da maçã comida no Paraíso, que afinal simboliza o pecado de se querer conhecer, o que não faz sentido nenhum. Já as rosas, escondiam os pães no regaço da Rainha Santa. Nada é o que parece e há sempre uma outra forma de explorar a realidade. 
Na minha versão, o sumo de laranja, o perfume da rosa e a tarte de maçã, com ou sem gelado de natas, resumem praticamente todos os segredos deste peculiar trio. 
No entanto, se me lembrar que a atmosfera terrestre é como uma camada de película plástica a envolver uma laranja, encaro seriamente a possibilidade de acabar de vez com os fogos de artifício, a desmatização e a criação intensiva de animais, responsáveis todos eles pelo dano provocado na fína película de plástico que envolve a nossa laranja universal.
O milagre das rosas é um dos meus favoritos, visto demonstrar que podemos tranformar qualquer coisa noutra coisa qualquer. O problema é saber se é mesmo o que se quer. 
No campo dos pecados, o melhor é ficarmos por uma simples dentada inocente na maçã e deixarmos de prestar atenção às más línguas desta vida. E não esquecer a canela na tarte.
Aí está o que resume este misterioso triângulo de frutos. 

A laranja doce foi trazida da China para a Europa no século XVI pelos portugueses. É por isso que as laranjas doces são denominadas "portuguesas" em vários países, especialmente nos Balcãs (por exemplo, laranja em grego é portokali e portakal em turco), em romeno é portocala e portogallo com diferentes grafias nos vários dialectos italianos. 

A rosa (do latim rosa) é uma das flores mais populares no mundo. Vem sendo cultivada pelo homem desde a Antiguidade. A primeira rosa cresceu nos jardins asiáticos há 5 000 anos. Na sua forma selvagem, a flor é ainda mais antiga. Celebrada ao longo dos séculos, a rosa, símbolo dos apaixonados, também marcou presença em eventos históricos importantes e decisivos. Fósseis dessas rosas datam de há 35 milhões de anos.

"Maçã" originou-se do termo latim mala matiana, que significa "maçãs de Mácio"O centro da variedade do gênero Malus é no leste do Turquia. A macieira era talvez a mais antiga árvore que tenha sido cultivada, e seus frutos foram melhorados com a seleção ao longo de milhares de anos.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

coexistência


Hoje são árvores, vibrantes. agradeço-lhes que permitam o uso dos meus pulmões. "it's coexistence or no existence" (Bertrand Russell)

quarta-feira, 26 de julho de 2017

a estação do veneno


Abriu a época da má criação, dos ataques, do veneno; e dos elogios cegos. Daqui até às eleições, cidadãos que na maioria das situações exibem um comportamento perfeitamente natural, invocam o que de mais primário existe e atacam violentamente qualquer um que não concorde com o seu líder de eleição.
Pior, os líderes fazem exactamente o mesmo, tornando pré-campanhas e campanhas eleitorais numa competição de insultos e mesquinhices que não acabam. Para ajudar à festa, os média competem na arte de transformar afirmações danosas, ou não, em matéria ainda mais baixa e indigna de atenção. 
Todos acreditam terem público para isso. E depois preocupam-se com os resultados da abstenção...
Quem, no seu prefeito juízo se engaja numa batalha tão sem sentido?

Se não se lembram, é bom salientar que as campanhas eleitorais são sobre as pessoas e o seu bem-estar. Sobre a forma de produzir mais e mais organização e justiça, cuidar de todos e dos seus interesses comuns, de amenizar e alegrar a vida como prioridade.
Mais, é sobre a escolha de pessoas que possam fazer isso mesmo, sem olhar para os cargos públicos como uma forma de enriquecimento pessoal e apenas isso.
É para que o território seja um espaço organizado, limpo e agradável para todos. Onde os erros são reconhecidos, estudados e emendados para que ninguém sofra desnecessariamente com as consequências.
São sobre o que torna a vidas das pessoas melhor e não sobre quem deita abaixo o maior número de adversários. Não são uma competição, mas um trabalho de propostas que todos devem examinar e colaborar para pôr em prática.

Será que há um alinhamento específico de astros ou de circunstâncias que tornem, da noite para o dia, pessoas absolutamente normais em abismos de anormalidade, má educação e irracionalidade? Que pesadelos nos assaltam nesta estação do veneno?

segunda-feira, 24 de julho de 2017

sometimes, roses

'sometimes, roses' - pen on paper, by MMF
Só há uma forma de expressar e libertar emoções: pô-las cá fora. A riscá-las no papel ou a deixar que transbordem em tudo o que trazem, bom ou mau. A vida e o tempo se encarregam de lhes encontrar o equilíbrio e significado. Tudo o resto sao macaquices aprendidas à laia de vernizes, filtros, bloqueios. Mas sabe bem dar-lhes livre curso e não nos amedrontarmos com elas. Todas as rosas têm os seus espinhos. E perfumes delicados. Rosemos... 

sábado, 15 de julho de 2017

estranhos caminhos

'strange ways' by MMF
Estranhos caminhos são os que estão por experimentar. Não são erros, mas realidades que escolhemos explorar ou deixar para trás. São conceitos criados por nós e prontos a utilizar, modificar, enriquecer, abandonar. São estranhos, como filhos que vemos pela primeira vez e não reconhecemos. No entanto, são nossos e ganham existência a partir da nossa iniciativa, das nossas acções, vontades, desejos e escolhas. Por que nos parecerá sempre tão duro aceitá-los? Parece-nos difícil ultrapassar os condicionamentos sociais e culturais, aqueles que julgamos serem a nossa personalidade e, afinal, não passam de noções que nos são incutidas por outros, que também já os receberam de outras gentes. Mas apreciar a verdadeira capacidade que temos de criar, expandindo o conhecimento e a consciência, ampliando conceitos e cenários, não é pura e simplesmente magnífico? Estranhos caminhos são estes que criamos com tanta facilidade que nem os reconhecemos quando surgem à nossa frente, Não são desafios. São possibilidades que já concretizámos e que apenas aguardam mais uns segundos de avaliação e decisão para se transformarem de novo em estranhas possibilidades, continuamente em aberto.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

tudo o que venha a baile

by Eiko Ishioka (homenageada hoje pela Google)

Às vezes apetece escrever sobre nada. Não nada mesmo, mas sobre qualquer coisa que surja, sem filtros. Ou sobre a bonita homenagem que a Google faz hoje a Eiko Ishoka, que foi a criadora dos fantásticos figurinos do Drácula de Bram Stoker.
Voltando ao escrever sobre nada: é quase como escrever sobre tudo, com todas as possibilidades em aberto. Gosto de me sentir assim, live para explorar tudo o que venha a baile.