quinta-feira, 16 de julho de 2020

santos e manjericos


"Santos Manjericos" - MMF 2020

Parece que já vou tarde para festejar os santos populares. Mas como ficam sempre os vasos e as recordações, há sempre tempo pretexto para confessar os amores e desamores com que as celebrações nos presenteiam.
O António é um perigo, como os bailes de carnaval. Se não nos precavemos, cai-nos pelo menos um namoro em cima. E, se isto tem que ver com a capacidade dos antigos de prever uma época de enrolanços, isso diz o suficiente sobre o nosso aparente domínio das emoções.
Os manjericos são uma gracinha, delicados e de cheiro agradável. Não se sabe bem como aguentam a brutalidade selvática das festas.
O João, que devia ser mais romântico e idílico, fica esquecido entre os vapores etílicos dos foliões e mais parece que os festejos se devem a um derby futebolístico do que à comemoração do apóstolo do amor.
Pedro, depois de tanta baderna, é o santo mais discreto, que enche toda a gente de receios com a chuva ou falta dela. 
É caso para dizer que, assim, nem os santos nos valem.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

dia de Portugal a cores

"Green, Red and Yellow Hearts" - MMF
Achei muita graça aos Lusíadas, apesar de ter tido de me habituar à leitura rebuscada do texto em verso. As histórias assaltavam a minha imaginação, embora só uns anitos mais tarde, rendida às delícias da ficção científica, tenha percebido o verdadeiro potencial do clássico.
Na altura, a professora encarregada de nos revelar as maravilhas camonianas era uma goesa de Moçambique. Um vislumbre da riqueza ainda menosprezada do caldeirão das raças alimentado pelos portugueses. Mesmo nos momentos mais segregacionistas dos regimes passados, o dia-a-dia de muitas raças juntas era uma prova inequívoca de que o mundo não era necessariamente branco, ocidental ou mesmo masculino.
A cor branca, já que trazida à baila, é a junção de todas as cores e é a cor que reflete todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum e por isso aparecendo como clareza máxima. Andamos todos às escuras quando gritamos contra "poderes brancos" e a replicar conceitos que, afinal, entendemos com muito pouco entendimento.
A confirmar-se que todas as raças descendem da negra, então é que a porca torce o rabo e se destroçam os argumentos extremados de algumas gentes. Podia até escrever-se mais um poema épico sobre esses filhos descoloridos que se indignam com as cores dos seus egrégios papás.
A indignação tem duas faces, como as moedas. Numa delas é a legítima recusa de circunstâncias injustas. Noutra, apenas um muito feio reflexo de medos treinados em nós por outros. Enfim, as moedas também se trocam.
Bom dia de Portugal e de Camões, que via mais com um olho só do que muitos outros, mesmo com os mais correntes olhos virtuais. Bom dia das Comunidades e muita paz, à laia de vacina contra exaltações avulsas.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

maio, mulheres e vermelhos

"Starry  Women" by MMF

Maio é para as mulheres. O mês vermelho assenta-lhes que nem uma luva. Embora Março, o mês da guerra, queira monopolizar a cor. Maio é vermelho e das mulheres, definitivamente. Também é o mês das rosas que, como se sabe, tinham um trato com Isabel, a Rainha Santa, quando era preciso disfarçar o pão que seguia para os mais esfomeados.
Há sempre uma história de mulheres quando se fala no vermelho. Não precisa de ser vermelho-sangue, porque isso apela ao que pode haver de pior em qualquer um de nós. No meu caso, imaginá-lo ou vê-lo é suficiente para me desligar a consciência, mesmo em circunstâncias em que os olhos teimem em manter-se abertos.
Do lado masculino a apetência pelo vermelho fica-se essencialmente por gravatas, sapatos e uniformes desportivos. Acolhem muitíssimo melhor os pretos, cinzentos e azuis escuros com que se pavoneiam como se fossem uma força de elite, naturalmente promovidos pela farda das suas vidas.
Para as mulheres qualquer vermelho serve, sobretudo em Maio, altura em que a pujança da cor anima a vida para o resto do ano. O Maio da Maya não deixa os seus créditos nas mãos de outros. Viva Maio, o vermelho e as mulheres.
Já o mar da mesma cor é, normalmente muito mais da cor das grandes massas de água. O que é uma pena porque dá gozo imaginá-lo como um depósito de gelatina de morango com propriedades misteriosas e agradáveis, além de ser possível associar-lhe um aroma frutado.
O vermelho dos vinhos é outra conversa. Além da cor, o álcool adiciona mais uns pontos ao capítulo da energia, embora seja depois necessário compensá-lo com muita água e ainda mais juízo. Juízo esse que não se aplica a crenças por provar como as das luas vermelhas, a irritação dos touros quando vêem uma cor que de facto parece não ser por eles reconhecida.
Os magos também gostam dos forros vermelhos onde, em combinação com o negro, é fácil ocultar o que não deve ser visto. Será que a Rainha Santa recorreu A uma artimanha semelhante? Porque, como mulher, era senhora para isso, com toda a certeza.
De qualquer forma, quando se sentirem desanimados, pensem em vermelhos e, se possível, em tomar um copinho de néctar vermelho. Ou bailarinas de flamengo vestidas a rigor.  Flores de Natal?

segunda-feira, 25 de maio de 2020

looking for elephants

"looking for elephants" by MMF
O assunto do dia são os elefantes brancos, que até têm uma ordem honorífica na Tailândia. Que são uma bênção e uma maldição. E às vezes cor-de-rosa, mas não muitas, para não incomodar por excessiva candura ou entusiasmo. Prefiro os que voam, mas não acho cómodo aumentarem-lhes as orelhas como se precisassem asas maiores que as da imaginação.
Nunca vi um elefante branco, mas vejo todos dias pessoas que parecem perseguidas por um. É pior do que ouvir vozes assassinas, como os esquizóides. Transformam qualquer vida normal num inferno pior do que o verdadeiro, que não é neste mundo e por isso nos vai dando umas folgas.
No outro dia, por exemplo, vi uma das vizinhas de máscara ao queixo, a passear o canídeo adoptado, que manca e gosta de roer a rede de metal do portão para se escapar para a rua. Arrastavam-se como se tivessem o peso de um elefante nas costas. Não me pareceu nada saudável.
No meu caso, quando sinto que anda um desses bichos por perto, atiro-me para o sofá e finjo-me de morta. Até que passe e me deixe em paz para enterrar mais um bocado de vida em rotinas estúpidas. O estúpido distrai-nos do que nos apoquenta. 
Voltando aos elefantes brancos, é preciso ter em conta que são como aqueles gatos pelados que não podem apanhar sol e são bonitos de tão feios. Pondero todos os dias a necessidade de manter por perto um proboscídeo com tantos problemas de manutenção.
Em Malta adaptaram-se e viraram inteligentemente anões de dieta parcimoniosa. O que mostra que mantê-los numa sala de estar normal também pode ser possível com as devidas contenções.
Para todos os efeitos, ando à procura de elefantes, brancos ou não. 

sexta-feira, 22 de maio de 2020

arte, para que te quero?

"leaves" by MMF

Diz Jeremy Irons, na pele de Alfred Stieglitz (num filme biográfico sobre Georgia O'Keeffe) que o artista só se torna famoso quando um rico compra a sua obra. Até lá, por melhor que seja, é ignorado por todos.
Nestes tempos excepcionais os artistas aproveitaram para lançar um alerta sobre as condições em que desenvolvem o seu mister, pedindo que não os esqueçam e que também são vítimas das circunstâncias que paralisaram a economia mundial. Mas, na verdade, não é um vírus que paralisa os artistas e a suas actividades. 
Se é uma das pessoas que agora partilha os apelos para o reconhecimento da arte e da cultura, é provável que também faça parte das pessoas que acreditam que ser artista é uma condenação à pobreza e à precariedade.
A não ser que o artista seja uma personalidade pública. E aí caiba na categoria das pessoas que passam, com toda a facilidade, de bestiais a bestas. Só porque a admiração tem a capacidade de se transformar muito rapidamente em ódio e ressentimento, quando os seus alvos não correspondem à idealização que fazem deles. 
A maioria das pessoas não gosta de ser contrariada nos seus desejos, nem admite outra originalidade de comportamentos que não seja a sua.
Porque os artistas são como as mulheres que se atrevem a mostrar a sua beleza de uma forma mais livre: estão a pedi-las.
A maioria das pessoas gosta de ouvir música, de ver filmes, de partilhar imagens, textos e ideias nas redes sociais para mostrar que são pessoas interessantes. Acontece que, interessantes a sério são os artistas que criam essas peças.
Interessante é também o raciocínio que leva as pessoas a atacar os abusadores que ficam com a parte de leão da riqueza do mundo, mas não se importam de usar e abusar das criações dos artistas sem outra consequência emocional que a da pena e da solidariedade virtual.
O abuso que aprenderam a aceitar como normal, e que não se importam de praticar com os artistas é, no fundo, uma forma de discriminação. Como a que afecta as pessoas pelas suas orientações sexuais, religiosas, idade ou etnia. 
Só que neste caso não suscita nenhuma emoção violenta, agressividade ou medo. Pelo contrário. As manifestações artísticas suscitam empatia, prazer, satisfação. Só não geram respeito ou reconhecimento de um valor material.
Nenhum ministério ou ministro da cultura logrou esse reconhecimento e a sua respectiva solução. Nenhum ministério ou ministro da educação jamais considerou sequer a preparação de matérias que corrigissem essa discriminação.
A natureza especial da arte e dos artistas é uma espécie de bem intangível só reconhecível depois da morte (e portanto, pelo reconhecimento da falta que faz). Até lá é como se não existisse para os artistas. Mesmo quem é capaz de gerar dividendos com a criação artística vê o resultado e o reconhecimento do seu trabalho.
O artista não. A sua condição é sinónimo de uma exploração que deixou de se tolerar em relação à escravatura e aos menos bafejados socialmente. Mas o estigma está aí e não há quem o desafie. Batem-se palmas, mas acabado o espectáculo vai tudo às suas vidas. E às partilhas de música, filmes, imagens que preenchem a vida de todos. Menos a dos artistas.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

pela sombra

"Walk Under The Trees" by MMF
Pela sombra também se vai bem. Mesmo sem a implícita cautela, vai-se sempre bem. Porque a qualidade do passeio se mede pelo grau de atenção e pelo que se escolhe como motivo de observação. Pelo que se sente também. Há muito mais na sombra do que se julga e nem tudo é bom, nem tudo é mau. Juízos de valor à parte, tudo é digno de consideração e as descobertas chegam com uma mão cheia de surpresas.
Pela sombra evitam-se alguns encandeamentos, excessos de luz que produzem cegueiras diversas. Andar pelo mundo como se fosse uma viagem feérica tem efeitos colaterais. Aproveitem-se pois os recatos sombrios para temperar forças e juízos. Ganhar o recuo necessário à correcta avaliação do conjunto das coisas.
Pela sombra vão os avisados, acompanhados de receios em alguns casos, e com a devida medida de curiosidade. Nada de pôr os ovinhos todos na mesma cesta, não vá dar-se o caso de vir uma surpresa ditar sem apelo a sua extinção. A sombra requer ânimo para receber revelações.
Também cega a inveja, o despeito e a zanga. Os seus alvos sobrevivem melhor na camuflagem do que na despropositada exposição. Vou, por isso, pela sombra e com um imenso sentido de apreciação. Sem sombra de dúvida.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

ataques dos diabos


Quando o diabo ataca não há santa que nos valha, nem deuses que nos acudam. O pior vem ao de cima, supostamente subido dos baixos que ninguém sabe exactamente onde ficam, mas não interessa. Mesmo não sendo nada racional ou cientificamente comprovado, toda a gente sabe que o Bem vem de cima e o Mal de baixo. Se bem que fosse de maior senso comum pressupor que tanto um como outro podem vir de qualquer lado e melhor seria estarmos preparados, não vá fugir-nos o bom e surpreender-nos o mau.
Como dizia, quando o diabo nos ataca, não há mal que não aconteça. Por acaso, isso até me lembra o anjo e o diabinho que nos dizem coisas ao ouvido. O primeiro é sempre ignorado e o segundo tentador. Acho que é mesmo porque acreditamos piamente que as maiores e melhores tentações só podem vir do Diabo, de bem que retratam os nossos mais íntimos sonhos e desejos. E o mais aborrecido, mesmo que correcto, vem do tal anjinho.
Isto somos nós a confessar que o diabrete que habita em nós é de facto o herói capaz de nos proporcionar as mais apetitosas aventuras. Até porque se a coisa der para o torto, sempre temos o anjinho e um Deus compassivo para nos acudir.
Portanto, quando o diabo ataca, na verdade somos nós que estamos com vontade de partir a louça toda, como se não houvesse amanhã. Até porque o perdão está sempre assegurado e podemos recorrer a ele sempre que as circunstâncias o determinarem.
Já o mal, senhoras e senhores, é uma zanga que trazemos connosco desde o pecado original, uma espécie de casa penhorada que herdamos naturalmente. Ou seja, a natureza deste mundo não nos é automaticamente favorável. Pelo menos na forma que nos habituamos a imaginá-la e que dita que o dever vem sempre antes do prazer. Aquele dever que jamais se esgota e nos esgota vinte e quatro horas por dia. 
Que tempo nos resta então para o prazer? O que é feito das coisas boas com que nos acena? Por que diabo nos traz dores de cabeça e culpas muito além das nossas capacidades, como se a condenação de Eva e de Adão fosse uma espada eternamente pendurada sobre as nossas cabeças?
É com certeza o Diabo que nos põe estas coisas na cabeça e nos condena. Porque Deus, bom e perfeito, não pondera sequer essas maluquices que tanto nos atormentam. O seu a seu dono então.
O pior é que, se os prazeres das tentações são todos do Belzebu, que raio andamos aqui todos a fazer, iludidos com frutos que nos estão proibidos e que quando estão ao alcance da mão, é só para nos queimar? Querem ver que andam para aí diabinhos a castigar-nos a seu bel prazer com pecados só por eles ditados?
Há coisas do Diabo, é o que tenho para vos dizer. Assim, o anjinho que temos em nós não vai lá, não senhora.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

ataquei o jardim

'Wild Garden' by MMF
Ontem ataquei o jardim. A amostra de jardim, para ser mais exacta. Se é que podemos considerar como jardim um rectângulo com terra, dezenas de vasos e uma miríade de ervas enlouquecidas a crescer entre as lajes. 
A natureza é selvagem, como sabemos. Mas o que se estava a dar naquele espaço era um ataque concertado de espécies vegetais. Mais um bocado e teríamos de entrar ou sair de casa à força de catanadas.
A fada verde do lar sempre foi a minha mãe, com as folhinhas e raminhos que punha em copos e chávenas desemparelhadas, pratos ou frascos. Que viravam plantas viçosas e empertigadas ao fim de algum tempo. Excesso de amor, dizia eu para com os meus botões, um bocado irritada com a forma orgulhosa com que elas ocupavam os cantos à casa.
Também me calhava, uma ou outra vez, regá-las na ausência dos donos da casa e só de uma vez contei seiscentos e quarenta e picos vasos, fora o canteiro e mais de duas horas a mangueirar ou de regador na mão.
Não era só a minha mãe a cultivar aquele exército de clorofila. O meu pai atirava para qualquer pedaço de terra sementes que apanhava nos seus passeios e que resultaram numa nespereira, tamareiras e outras árvores nem sempre identificáveis, a menos que dessem um fruto reconhecível ou flores que alguém conhecesse.
Depois vinham as irmãs e as visitas com vasos de tudo o que era planta de sua eleição. Nenhuma alguma vez rejeitada e assim se compôs a fauna florestal de casa. No final, entre a fada verde e o seu ajudante ocasional, a coisa resultava e até era um regalo para os olhos.
Comigo a coisa não funciona exactamente assim. Árvores, plantas e flores intuem a minha falta de mão para o assunto e, nas minhas barbas, toca a crescer para todo o lado e em todos os cantos. Sem qualquer tipo de respeito pela minha necessidade de ordem e de geometria básica.
Já perguntei à minha mãe como é que ela conseguia. Ri, despreocupada dessas minúcias por via da sua provecta idade. Já fiz o que tinha a fazer, diz-me, divertida com o meu desespero.
Portanto, ontem ataquei o jardim, na esperança de domar vasos e verdes com linhas direitas, filas ordenadas por tamanhos e outros atributos de ordem que façam algum sentido na minha cabeça e me garantam tranquilidade emocional.
Se não conseguir, saibam ao menos que tentei, apesar das bolhas nas mãos e dos picos destas ingratas que nem sequer agradecem a água que lhes deito.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

ora no cravo, ora na revolução


Nem só de vinte e cincos consta o mês de Abril. Os números têm uma magia própria que nunca se esgota. Parece que fazem de propósito, a organizarem-se em padrões que se multiplicam em demonstrações singulares de revelações e significados.
O onze, por exemplo, que é um número muito elegante, marcou a chegada da minha família à Terra da Boa Gente, na costa do Índico, tão palmilhada por navegadores portugueses e de outras nacionalidades.
Acontece que nesse mesmo dia, à noite, se ouviram na rádio (BBC) rumores de que se preparava um golpe de Estado em Portugal. Logo ali a minha mãe decidiu que não se desfaziam as malas todas e até se saber o que se ia passar.
Acabou por se dar o 25 de Abril, a que assistimos com a ajuda dos relatos radiofónicos. Mais a prisão dos agentes da PIDE/DGS, o crescimento do cabelo e da barba dos representantes do MFA, a agitação popular, as primeiras campanhas políticas com boa gente da terra, a entrada dos militares da Frelimo, o pavor do 7 de Setembro e outras vicissitudes.
Tudo culminaria de novo a 11, desta vez em Novembro, dia de São Martinho, com a chegada a Lisboa para assistir ao PREC.
O 11 de Abril também é notável por ter sido estreia, em 1727, da Paixão segundo São Mateus, de Bach, da fundação da Organização Internacional do Trabalho, em 1919, e da entrada em vigor da Constituição Portuguesa de 1933 que deu início ao Estado Novo. 
Em 1970 é o dia do lançamento da Apollo 13 e, em 1976, do computador pessoal Apple I. Foi também o dia em que Julian Assange foi preso, em 2019, na embaixada equatoriana de Londres. O General António de Spínola nasceu a 11 de Abril de 1910.
A 25 de Abril de 1972 Claude Joseph Rouget de Lisle compôs A Marselhesa, o hino nacional francês. No mesmo dia, em 1976, entrou em vigor a Constituição Portuguesa que consagrou a democracia em Portugal. Era o dia de aniversário de Ella Fitzgerald (1917) e de Uderzo (1927), o desenhador de Astérix, de Al Pacino (1940), de Manuel Freire (1942) e de Mário Laginha (1960), entre outros.
Se nos dedicássemos à construção de um mapa que assinalasse todas as coincidências entre os dias de Abril e as suas efemérides, com certeza desvendaríamos um padrão fantástico e repleto de surpresas. Podíamos acrescentar mil e uma variantes e multiplicar infinitamente as hipóteses e as conclusões.
O importante, no entanto, é que Abril em Portugal não é um mês qualquer. Nem as suas mil águas, nem as muitas vozes dos seus detractores conseguem diluir o significado que teve e que mantém para os portugueses. E para outros também. De dia 1 a dia 30, das mentiras às revoluções, há-de cantar-se sempre, de uma ou de outra forma. Uma ora no cravo, ora na revolução.

sábado, 18 de abril de 2020

vermelhos, árvores e vento

"African Walk" by MMF
A memória mais antiga e persistente é de uns passeios ao final da tarde, numa rua de terra batida, entre árvores muito altas. Lembro-me da luz avermelhada, do vento na cara e do cheiro, de solavancos e vozes femininas à conversa. Passeios no carrinho empurrado pela rua principal de Vila Paiva de Andrade, hoje Gorongosa. 
Há por aí fotografias de sestas em cima de uma esteira e ao lado da leão da Rodésia que arreganhava os dentes às visitas que achavam a cena ternurenta e depois preferiam tomar o mazagran com limão no outro extremo da varanda.
As cores dos passeios e a felicidade permanecem, como o encantamento pelas árvores e pelo som que delas traz o vento.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

pontaria cega


Ter boa pontaria é muito importante. Melhor, ter uma boa técnica para apontar com precisão ainda é mais importante. Como demonstra o momento que partilho aqui.
Por ser um bom cavaleiro, o meu pai foi colocado numa companhia de artilharia que, à altura, ainda usava cavalos para movimentar o seu poder de fogo e os seus oficiais. Isto pelos anos trinta do século passado. 
Quando completou o seu tempo de serviço, a mando do comandante, que decidira que nenhum oficial sairia sem carta de condução da companhia, teve dois dias de lições com um dos motoristas e saiu com a necessária habilitação. Ordem cumprida.
Poucos anos depois teve oportunidade de praticar as suas competências ao volante nas picadas dos planaltos moçambicanos, ao volante dos Willys e Land Rovers. 
De vez em quando calhava-nos uma saída dessas em que nos arrumávamos no banco ao lado dele, na cabina, e seguíamos pelas estradas aos saltos e em condições que hoje fariam arrepiar qualquer entendido em segurança rodoviária.
Os momentos altos chegavam quando era preciso atravessar um curso de água com profundidade suficiente para exigir uma ponte. Dois troncos atravessados entre margens asseguravam a passagem e exigiam do condutor a capacidade de acertar e de se manter no rodado. A pontaria era, nestes casos, uma qualidade indispensável.
Ao volante, o meu pai anunciava que ia fazer pontaria e que precisávamos todos de fechar os olhos para acertar e passar para o outro lado. Acontecesse o que acontecesse, não olhar era a condição essencial para o sucesso da travessia. Nós, miúdas, soltávamos gritinhos de medo e excitação, que se transformavam em exclamações de alívio e alegria quando nos víamos do outro lado.
Um dia, curiosa, resolvi abrir os olhos e verificar se o meu pai também fechava os olhos quando atravessávamos a ponte. De facto, fechava e ria como se estivéssemos na vertigem de uma montanha russa. 
Nunca mais fechei os olhos quando passávamos uma ponte. Alguém tinha de garantir que a aventura corria como esperado. Mas nunca mais duvidei que uma fé cega é a melhor forma de garantir a pontaria.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

mãos que criam e destroem


As mãos curam e também trazem com elas aflições. São as nossas varinhas mágicas, para o mal e para o bem. Criam e destroem com igual eficiência. Temos de aprender a usá-las de forma mais consciente. A usar tudo de forma mais adequada.
Um dia, uma bruxa veio oferecer-me uma mezinha para a boa fortuna em todos os meus empreendimentos. Parecia uma oferta irrecusável e, por isso mesmo, quis saber o que ganharia ela com isso. Não queria nada, só ler as minhas mãos e o resto desenrolar-se-ia naturalmente, na opinião dela.
A informação pareceu-me escassa, sobretudo para o nível de altruísmo apregoado. Não havia, aparentemente, letras pequeninas. Mas quando não me respondem a uma pergunta e está implícito um grau de envolvimento da minha parte, faço questão de avançar com uma boa dose de dados para avaliar as minhas obrigações neste tipo de partilha.
Recusei a oferta, que imediatamente se transformou numa maldição. Depois de tapar os ouvidos a muitas invectivas, pus sal à porta, defumei a casa, mudei de passeio sempre que necessário e mais o que se tornou necessário para combater aquela situação.
Nunca mais disponibilizei as mãos para desfrute indiscriminado dos outros. Aprendi a lição da simpatia que é usada como o ouro dos tolos e esconde perigos para os quais não nos oferecemos voluntariamente.
As mãos das bruxas não são feias, nem têm garras visíveis. Eventualmente, estão cobertas de vírus implacáveis e invisíveis. As bruxas também não seguem nenhum código especial de sinalização contra as ameaças. Nem as mãos.
Façamos delas varinhas de boas práticas com as nossas escolhas. Usemos a consciência informada para optar preferencialmente pelo lado bom de todas as mãos.  

quarta-feira, 25 de março de 2020

perspectivas e sobrevivências


É tudo uma questão de perspectiva. De boas escolhas em relação ao que pensamos e à forma como vivemos o dia-a-dia. 
Por exemplo, em vez de vos estar a escrever isto, podia pôr à vossa frente um objecto e esperar que o desenhassem, tal como o vêem. Depois mudava-o de lugar, virava-o e pedia que o desenhassem de novo. E podia continuar e, de cada vez, surgia um novo desenho, de uma nova perspectiva.
Repetido o exercício suficientes vezes, a mão acabava por o ir desenhando também de outra maneira. Com mais confiança, conhecimento e leveza. No final, o objecto poderia muito bem dar origem a qualquer outra coisa além do seu aspecto original.
É assim que enriquecemos a vida, mudamos a nossa perspectiva e criamos um mundo com possibilidades cada vez maiores. Assim resolvemos problemas e encontramos soluções que a princípio nem sequer lá estão.
A vida é uma obra de arte que exige a prática da criatividade para se transformar num exercício cada vez melhor. Por isso não a desperdicem com medo do fim do mundo e aproveitem para reconhecer aos artistas o seu mérito, em vez de os castigarem por nunca verem o fim ao tacho.
As crises mostram que nada é garantido. E que só a criatividade e os bons pensamentos nos valem quando tudo parece perdido.
Esta conversa foi inspirada pela Ana, amiga querida que, com o marido, põem em prática um isolamento social bem disposto. Aperaltam-se para jantar e dançam antes de se sentarem à mesa, "We Will Survive" e outras canções capazes de os encher de ânimo.
A Ana e o seu afável marido são artistas de coração. As suas cabeças estão sempre ocupadas com outras perspectivas, com o lado agradável das coisas e a fruição das coisas bonitas que tanta alegria nos traz. Por isso lhes dedico estes parágrafos e corroboro o seu ponto de vista: sobreviveremos.

quarta-feira, 18 de março de 2020

planos de fuga irracionais

"Mães e cobras" by MMF
A propósito de pragas e medos irracionais, recordo que a minha mãe sempre teve uma relação complicada com cobras. Lisboeta nada e criada, essa era uma parte da aventura africana que nunca a encantou.
Mas havia outras que despertavam nela aptidões insuspeitadas numa citadina que aos vinte e dois anos aterrara no mato profundo dos planaltos moçambicanos. Uma delas era a sua habilidade para fazer vingar qualquer tipo de planta, muito útil quando não há supermercados ou cadeias de distribuição num raio de muitos milhares de quilómetros e uma mesa de família para abastecer todos os dias.
Os jardins e as machambas (hortas) das casas por onde passavam eram sempre uma delícia, cheios de plantas ornamentais para todos os cantos da casa e hortícolas que abasteciam a nossa e muitas outras casas.
De manhã, a minha mãe vestia-se a rigor para cumprir as suas obrigações de fada verde do lar, com um bonito quico de lona na cabeça, uns óculos escuros dignos de vedeta de cinema e luvas para proteger as mãos (a vida social no mato era exigente, acreditem ou não). Saía para apanhar o que se servia à mesa do almoço e  do jantar, e o que havia de embelezar as jarras de casa.
Um dia, nesse seríssimo ritual matutino, equipada com um cesto de verga, tomou o caminho da machamba (horta) e foi directa às cenouras. Depois aos rabanetes e, já não me lembro o que ficava a meio caminho do que ia ser o resto da nossa salada e mais ou menos o meio dos canteiros, na ordem que ela determinava sempre para que tudo crescesse como devia.
Foi nesse momento que o rapaz que tinha a seu cargo as regas e outros cuidados, lhe gritou: "Senhora, cobra, senhora!"
Ninguém calcula o que uma mãe de família pode elevar-se no ar com um aviso intempestivo desta natureza. Nem, cenouras e outros hortícolas, mais a cestinha, tudo pelo ar, a velocidade que uma lisboeta consegue imprimir à sua fuga irracional de um animal rastejante.
O pior, no entanto, é que o rapaz, observando que cobra e senhora tinam optado por fugir na mesma direcção, voltou a gritar: "Aí, não! Para aí, não!"
Alerta e obedientes, a minha mãe e a cobra mudaram imediatamente de direcção. A mesma. Novo grito do rapaz voltou a alertá-las para o perigo e de novo corrigiram a rota, instintivamente, na mesma
direcção.
Só o desespero do rapaz, que entretanto alcançou a minha mãe e a conduziu pelo braço para fora da machamba, permitiu que a correria não acabasse em tragédia, para ela ou para a cobra. Unidas pelo pânico, ambas tinham posto em prática planos de fuga idênticos e aumentado o risco que corriam.
Depois desse incidente, e sem nenhuma vontade de arriscar a sua segurança pessoal em nome da salada, a minha mãe esperava pacientemente que alguém lhe garantisse que o caminho estava livre de cobras paniquentas que não sabiam aguardar a sua vez de passear pela frescura dos canteiros.

sábado, 14 de março de 2020

dia lindo, de coração cheio

"Dia Lindo" by MMF

Está um dia lindo e mesmo que tenha de andar à procura de sítios que ainda tenham batatas e frango porque ainda não foram alvo de saque irracional, vai continuar um dia lindo.
Mesmo que as marteladas indevidas na casa ao lado me tenham arrancado ao sono, está um dia lindo, porque o senhor do martelo disse, num tom quase amoroso: "vizinha, vou tentar evitar. e a rebarbadora, incomoda?".
O dia continua lindo mesmo comigo a olhar para as plantas que tomaram conta da casa e que vou ter de domar, mais tarde ou mais cedo. Mesmo que ninguém faça ideia do quanto me fascina o vigor com que elas invadem tudo e se espalham sem ordem aparente. Pelo menos que veja ou entenda, ou caibam nas linhas geométricas com que achamos que organizamos tudo.
Lindo, mesmo que tenha de explicar muitas vezes que os espirros e os olhos vermelhos, mais o peso na cabeça são das alergias, porque a primavera é mais venenosa do que o vírus de quem até a Virginia Wolf teria medo.
O dia vai manter-se lindo mesmo com os milhares de disparates que toda a gente se vê constrangida a publicar nas redes sociais, como se não houvesse amanhã. Não há infecção mais perigosa do que a da estupidez e a da compulsão de fazer parte da vida no papel de um sempre-em-pé a agitar-se para todos os lados.
O dia é sempre lindo, mesmo quando muitas calamidades nos batem à porta e parece que nem os tentáculos de um polvo seriam suficientes para resolver tudo ao mesmo tempo, como nos purés instantâneos. Quando nem nos lembramos que está lindo e que é para isso que as quarentenas servem, para nos dar o tempo e a tranquilidade de nos religarmos à beleza e à inultrapassável necessidade que temos dela para viver de coração cheio.

sábado, 11 de janeiro de 2020

os jogos e a gente esperta

"money, money, money" by MMF
Almas carinhosas e generosas sempre me fizeram o favor de explicar que, para se criar um bom negócio, há que fazer coincidir a oferta com a procura. Depois, conseguir preços que uma maioria possa pagar. E, finalmente, direccionar a oferta para quem tem poder de compra.
Ora, expliquem-me lá como é que Portugal, que só tem uns poucos milhões de pessoas, é um bom mercado? Não será motivo para importar algumas dessas pessoas que andam para aí a fugir das guerras como qualquer mortal de bom senso devia fazer? Famílias inteiras para comprar mais e estimular a nossa economia?
Por outro lado, não estou a ver como é que patrões, que são aquelas pessoas espertíssimas que nos dão conselhos sobre economia, e governos, que têm ases económicos que brilham em qualquer canto do mundo, querem que a economia cresça pagando salários que nem sequer equivalem a uma renda de casa actual. 
Como é que as pessoas, reféns de despesas fixas como as da habitação, água, luz, gás e comunicações, têm depois poder de compra para olear a economia?
Como é que ninguém divulga que receita de impostos vem dessas contas fixas de monopólios, muitos deles com moradas fixas noutros países, em vez deste, e o que o Estado ganha e aplica, em nome de todos nós, aqui onde é cobrada?
Por que razão, gente sabida e bem de vida nos quer fazer acreditar, por um lado, que temos de ganhar menos para assegurar uma economia estável, e depois diz que é preciso mais gente, com mais dinheiro para qualquer negócio ser bem sucedido?
Estão a ver causas e efeitos correspondentes nestas questões? 
Há um jogo interessante e muito antigo, a Mancala, em que o vencedor, se quiser continuar a jogar, tem de oferecer peças ao seu adversário. Se não o fizer, o jogo acaba e isso, para os entusiastas, é um tiro no pé.
Na economia actual, os vencedores e bem sucedidos perseguem os jogadores menores e não hesitam em afastá-los da corrida sem dó nem piedade. Menos jogadores significam sempre menores possibilidades de manter o jogo a correr.
Agora, digam-me: este é um jogo giro para se jogar? De que servem "bons" jogadores se, às tantas, não houver jogo?

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

terras planas


Há pessoas, por quem tenho grande amor, que me consideram muito, muito ignorante. Que me chamam várias vezes assim porque não sei que a terra não é redonda, por exemplo. Tenho de ter a humildade de aceitar que, de facto, ignoro a maior parte das coisas que ocorrem neste mundo. Mas o que me perturba mais, neste contexto, é não saber onde trabalha a produção que projecta no céu, que por esse motivo também deve ser igualmente plano, todas as noites e alguns dias, a imagem da lua e das suas fases, onde a sombra da terra também se vê redonda. Só para nos enganar, claro.
Imaginam o que eu aprenderia a trabalhar para a equipe de produção que mantém este embuste há séculos? E como a minha ignorância me impede de ver que só alienígenas possuem a tecnologia capaz de nos induzir em tamanhos embustes? 
Claro que os dirigentes mundiais estão todos a soldo dos extraterrestres e quem vota neles partilha, desgraçadamente, da mesma ignorância que me aflige. Uma tristeza.
Devem ser os mesmos alienígenas, mortalmente aborrecidos com as suas rotinas ilusionistas de muitos milhões de anos, que devem ter carregado em botões para accionar os chips do senhor Trump e dos velhinhos de barbas que não gostam, como ele, de ser contrariados. Accionaram uma possível guerra como quem muda de canal na televisão.
Talvez tenham sido eles a brincar com os fósforos na Amazónia, na Austrália e na Califórnia. E que dão murros na planura da terra quando se enervam e provocam sismos e maremotos.
Tanto marionetismo também me dá cabo dos nervos.

sábado, 28 de dezembro de 2019

viventes praticantes

"enchanted trees" by MMF
Um olhar descomprometido é, por vezes, quanto basta para alterar o nosso entendimento das coisas de todos os dias. Olhamos e vemos, como numa epifania, uma linha diferente, uma cor em que nunca reparámos, um movimento que nos encanta e embala.
É quanto basta para voltarmos a sentir apreço pela vida e pelo que nos rodeia. Com uma receita tão simples, como podemos cansar-nos disto? Como não adiar a despedida deste envolvimento constante com tudo? Como permitir a zanga ou o cansaço das coisas?
Este mundo é um infinito caldeirão de experiências e de criatividade posta em prática. Posso mesmo afirmar que sou uma vivente praticante.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

basta observar


Basta observar a carniça organizada em torno da Greta Thunberg para perceber que estamos condenados a acabar como pó no planeta que afirmamos nosso, mas que tem mais anticorpos que todos os biliões de seres humanos juntos. 
Porque somos nós que estamos condenados, não o planeta, como tanto analfabeto de pai e mãe para aí a gritar salvem o planeta.
Porque ainda não entenderam que somos nós, seres humanos a quem tanta humanidade falta, que vamos acabar mal neste e em qualquer outro planeta e mundo governado apenas por venalidades.
Somos nós que tornamos a vida insuportável em casa e aos outros, como se disso dependesse a nossa sobrevivência. E está visto que não, que essa não é a verdade e que vamos desta para muito pior.
Achamos, mesmo assim, que é uma falta de carácter mudar de opinião, mesmo quando outra está aos pulos e aos saltos dentro de nós, só para mostrarmos que somos coerentemente estúpidos e que isso nos basta para nos imaginarmos os melhores do mundo.
Basta observar o infeliz nível de baixarias atiradas contra a Greta, a maioria das quais por pessoas de muito questionável inteligência que foram votadas para governar países e tendências. Basta consultar o senhor Google e verificar que os alertas têm muitas décadas e que há décadas se organizam cimeiras climáticas para rigorosamente nada. A não ser aumentar impostos sobre combustíveis e carros usados com a triste finalidade de aumentar rendimentos de grupos de indivíduos que supostamente sabem como governar as coisas.
Os nossos filhos e os nossos netos estão condenados, acredito. Gritam, gritam e ninguém os ouve. Até que se cansam, tomam ritalina e outras drogas escolhidas criteriosamente por pitecantropus erectus accidentalis, até encolherem os ombros e ficarem no mesmo estado de bruteza dos cérebros decisores.
Ainda acham que isto pode acabar bem? Ainda acham que é a poluição que tem culpa disto tudo? É que o aquecimento, o degelo e as eras de gelo são fenómenos cíclicos neste planeta. E em vez de nos organizarmos para os viver, sem tanto lixo, plástico ou combustíveis fósseis, de preferência, organizam cimeiras para combater apenas a poluição. Que é apenas uma porção do que está a acontecer e a acelerar os acontecimentos.
Continuem a babar à frente dos ecrãs e vão ver o desastre climático a rebentar em efeitos especiais particularmente realistas e fulminantes.
Se chegarmos a colonizar Marte, só os Trumpinhas e Bolsonarinhos é que chegam às filas de embarque. Os outros ficam a marinar nos caldeirões infernais cuspidos pela paciente Terra, que a esta altura já deve estar muito arrependida de ter fornecido o barro que nos moldou.