segunda-feira, 31 de outubro de 2022

a mangueira

 

Imagem: Marinka

A atestar a capacidade de difusão de informação nas pequenas terras que nunca dispuseram de jornais locais ou outras mordomias associadas a estatutos mais desenvolvidos, chegou-me o elucidativo relato que se segue.
O local da comunicação foi o cabeleireiro de uma vila alentejana já com arejadas aspirações citadinas, e o seu autor um frequentador assíduo e desempoeirado da pedicura.
Honrando os hábitos da boa convivência, a senhora que o atendeu foi logo dizendo ao homem que o tinha visto com a filha, que estava uma mulher, lindíssima.
Não é a minha filha. É a minha namorada, corrigiu o cliente, com um toquezinho de orgulho na voz.
Seguiram-se os parabéns e os elogios à nova companheira do senhor, que não se furtou aos detalhes e adiantou que a tinha descoberto numa dessas páginas de encontros. Uma deusa brasileira que se tinha encantado com ele e voado para Portugal com armas e bagagens para se dedicar ao seu novo amor.
Olha que sorte, consideraram as outras frequentadoras do cabeleireiro, confirmado o bom aspecto da companheira pela pedicura.
Assim seguiu a história até à seguinte sessão no salão de beleza local. Como de costume, o cavalheiro entregou-se aos cuidados profissionais da mesma senhora. A páginas tantas, lá chega a pergunta sobre a namorada de bom aspecto.
Ah, sabe lá, começou o homem. E para quem o quis ouvir, entre cortes, penteados e outros cuidados, foi contando que, chegado o momento da verdade, a jovem namorada se preparou com todo o requinte para a noite de amor. E qual não é a surpresa do cavalheiro quando descobre que a jovem era, afinal, provida dos mesmos atributos que ele.
Não queira saber, desabafa com a pedicura e restante assistência. Aquilo era uma mangueira, afirmou. Ela bem quis que eu pusesse lá a boca, mas não consegui. Até me engasguei e nem gosto daquilo.
Passado um momento de profundo silêncio, o cavalheiro lá conseguiu explicar que, felizmente, a noiva se tinha encantado com outro homem de posição do Porto e abalado para Norte com a mesma rapidez com que chegara ao Alentejo.
Assimse constrói uma 'caxa' jornalística de qualidade na ronda pelas notícias locais.


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