
A poesia é como um rompante que se tem num momento de menor controlo. Escreve-se como se sente. Por isso não se aconselha a quem tem a fobia do controlo. Ou do descontrolo. É como dizer aos outros vê lá como eu sinto, vê lá e diz-me lá se também és capaz. E logo a seguir querer não ter dito nada, rigorosamente nada, porque o que se pôs em marcha, através da magia do verbo, das palavras, foi uma parte interior de nós que, de repente, sai como se as paredes do chuveiro tivessem desaparecido e déssemos connosco a andar pela rua sem ter tido tempo de deitar a mão ao toalhão de banho. Digam-me lá se não é confrangedor. Digam-me se não vos daria vontade de se enfiarem por um buraco adentro e apagar os últimos momentos como quem tem acesso ao gravador de cassetes.
É a pior parte da criação de uma obra, a do confronto com a eficácia/utilidade que os outros nela acham. Porque o que representa grandes nacos da nossa vida em tempo e energia vital dispendida num projecto, é de repente confrontado com lógicas e razões que lhe são completamente alheias. Mostrando uma criação, o criador abre uma caixinha de Pandora e solta anjos e demónios indiferentemente. Confesso que não é o meu passatempo preferido para depois do jantar, nem para altura nenhuma.
Logo a seguir vem outro pesadelo: tentar responder a perguntas sobre o que e como e por que fazemos. Ou não responder de todo, porque ninguém pergunta, mas há que aguardar uma eternidade até à decisão de dar por terminado o indeterminado tempo de resposta...
2 comentários:
Quero este livro.
Como o posso adquirir? Trocamos o teu pelo meu?
Beijo
ai, que agora é que se entornou tudo...
sabes que esgotou, que não tenho sequer um exemplar para mim?
creio que poderá haver alguns na fnac de gaia.
nunca pensei que um livro de poesia pudesse ter tanta aceitação.
qual é o teu?
abraço
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