sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

até já madalena























Morreu hoje Madalena Barbosa, uma mulher que muitas vezes vi sorrir e, aparentemente, não reagir em situações capazes de me rasgar por dentro.
Para mim, que nasci com aquela tola convicção dos afortunados de que nada me é negado nem por ser mulher nem outra razão qualquer, nem sempre foi pacífica a relação com a forma de estar da Madalena, que nos transmitia sempre uma bonomia e uma tranquilidade que em muito destoava da sua luta por direitos fundamentais.
Não porque eu tenha tido uma luta e uma vida mais fáceis do que as suas. Nem pela década e meia que separa as nossas gerações. Mas por ter tido eu a sorte de beneficiar de uma educação que me sustentou a postura desafiante do estabelecido.
Por isso maior é admiração pela Madalena e pelo trabalho que soube desenvolver, à sua maneira, ao seu ritmo, sempre com a mesma paciência. Espero que as mulheres mais novas saibam apreciar o que ela tanto contribuiu, e a quanto custo, para que beneficiem hoje de coisas que a ela lhe foram completamente vedadas. E espero que se detenham a apreciar a riqueza com que preencheu a sua vida.
Eu, que acredito que não há acabar nem começar, mas sim uma viagem eterna em que vamos tecendo os laços com que nos ligamos uns aos outros, digo: até já, Madalena.

(in Publico.pt, 21 de Fevereiro de 2008): Madalena Barbosa, fundadora do Movimento de Libertação das Mulheres, em Abril de 1974, organismo de luta pelo "direito à igualdade de oportunidades, sem discriminação de género", morreu hoje aos 66 anos, anunciou o grupo parlamentar do PS.
Nos anos 80, Madalena Barbosa integrou a Comissão da Condição Feminina, actual Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, onde trabalhou até agora, lembra o grupo parlamentar do PS. Nas eleições intercalares de 2007 foi candidata à Câmara de Lisboa pelo Movimento Cidadãos por Lisboa.
No decorrer da sua carreira, a activista representou Portugal e a União Europeia em várias cimeiras e conferências internacionais, nomeadamente em Nova Iorque.
Madalena Barbosa auto-definia-se como "feminista, socialista e mulher, chamada em outros lugares do mundo gender expert".
Madalena Barbosa morre um dia antes do lançamento de "Que Força é Essa", o seu livro de crónicas e textos de reflexão sobre temas como feminismo, igualdade e estudos de género, participação cívica e política. A obra será lançada amanhã na Fábrica Braço de Prata, no Poço do Bispo, onde também será feita uma última homenagem.
A União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) já lamentou o falecimento da feminista, a quem diz prestar homenagem por se tratar de "uma das primeiras lutadoras pela despenalização do aborto em Portugal". Foi "uma mulher que sempre se firmou como feminista em todas as dimensões da sua vida", sublinhou a UMAR em comunicado, acrescentando que vai "preservar o exemplo de dignidade e de coragem revelado nos dias mais difíceis da sua vida".
Em comunicado, a UMAR apela à "participação das feministas portuguesas" nas cerimónias fúnebres de Madalena Barbosa, sexta-feira às 16h00 na casa mortuária Santa Joana, em Lisboa. O funeral segue para o cemitério do Alto de S. João, onde o corpo será cremado pelas 23h00.

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