Por acaso até acho graça a quem se manifesta contra a NATO e depois me manda emails contra a mutilação feminina nos países muçulmanos, mais contra o apedrejamento de mulheres adulteras (ou não). Onde é que está a lógica? E, sobretudo, onde estavam os manifestantes anti-guerra e anti-genocídios e políticamente correctos no 11 de Setembro?
A manifestar-se contra os Estados Unidos, dizia-me ontem uma amiga. Sim, porque os culpados da morte de mais de três mil pessoas nas torres gémeas foram, sem dúvida, os EUA... Aliás, os terroristas e os totalitaristas só aparecem única e exclusivamente por culpa dos EUA.
O mundo é mesmo simples para alguns: para os extremistas ocidentais, o Demónio vive no Médio Oriente; para os extremistas a Oriente, o mal está nos EUA e nos seus aliados. Os manifestantes Green Peace e anti-Nato e anti-guerra e anti-mutilação e anti-discriminação, esses iluminados que entendem tudo, condenam sobretudo quem não procede como eles? Ah, mas ser anti é que está a dar.
Nunca serei a favor da guerra, mas também não sou de dar a outra face. Acredito que devemos confrontar quem age contra nós para que não se instale a impressão de que calo e consinto. Mas não me ocorre jamais ser contra uma organização que, na hora do aperto, vai dar o corpo ao manifesto para continuar a separar as liberdades democráticas da tirania dos regimes totalitários.
E não estou aqui a dizer que a tirania vem do Islão, porque infelizmente, sabemos que na maioria dos países islâmicos há muita gente a ser violentamente reprimida pelos regimes que não aceitam outras liberdades senão as de quem pode e manda.
Estou a afirmar que prefiro uma NATO, contra a qual ainda tenho capacidade de me manifestar, se quiser, a saber que posso levar um tiro se mostrar que não estou de acordo com o ditador de serviço.
As guerras e os seus métodos não são justas. Mas que raio de coerência há em protestar contra os EUA e a NATO, e achar que todo o terrorismo se justifica por causa das políticas externas ocidentais? Então os outros países são compostos de querubins de auréola que não conspiram, nem são capazes de gerar políticas igualmente cruéis e genocidas?
É muito mais fácil pensar a preto e branco, claro, escolher um lado que fique bem e não pensar antes de gritar palavras de ordem e excitados argumentos para eliminar qualquer possibilidade de resposta que não seja igualmente facciosa. Que tédio...
Entretanto, há um grupo de ditadores que conseguiu capitalizar a imagem de um terceiro mundo em que só existem vítimas e inocentes. Os inocentes ocidentais não contam e são culpados até prova em contrário. É preciso ter paciência, caramba.
2 comentários:
A 9 de Novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim. Começou aí a dissolução do parceiro (a URSS)que no tabuleiro belicista mundial, enquanto Pacto de Varsóvia, se opunha à NATO. A URSS tranformou-se em Federação Russa, após o desmembramento e independência de várias repúblicas. Logo, essas hitórias dos imperialismos americanos e russos, telefones vermelhos do Kremlin, da Guerra Fria, da Cortina de Ferro, etc., já fazem parte da História, mas não do presente.
Só mentes anacrónicas, agarradas a clichés desactualizados, que ainda não perceberam que estamos no fim da primeira década do século XXI, tipo PCP e BE, é que ainda se dão ao trabalho e ao folclore de promover manifestações a propósito de um inimigo fantasma que o curso da história transformou.
É que dantes havia a propaganda anti-comunismo ou anti-capitalismo, mas as pessoas sabiam que era propaganda e desconfiavam, se preciso fosse. Agora há propaganda mas usada por pseudo-esquerdistas (que será isto???), parece manteiga em focinho de cão, para gente ansiosa por estar do contra e que não tem peneira para o PC (politicamente correcto).
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