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Ao fim de mais de dois anos de reclusão forçada por incidentes de saúde, a minha mãe, com oitenta e quatro anos, foi ontem pela primeira vez ao Lidl fazer compras. Porque ainda não se aguenta muito tempo de pé, levei-a na sua cadeira de rodas.
Ficou encantada e prestou-se imediatamente a levar pela mão uma das cestas, visto que preciso das duas mãos para conduzir a cadeira. Foi dizendo o que queria, de lista em punho e, finalmente, dirigimo-nos a uma das caixas. Era a que tinha menos gente, porque apesar de haver uma em que dão prioridade a grávidas, acompanhantes de crianças de colo e idosos, não havia necessidade de recorrer a esse privilégio visto estar a minha mãe confortável e protegida das suas fragilidades.
Na caixa, voltei a colocar as compras na cesta, uma vez que é impossível manobrar a cadeira de rodas e sacos de compras. Não é costume, disse o rapaz da caixa, mas compreendeu.
À saída, o cesto apita e vem o segurança dizer que o cesto não pode sair. Expliquei a situação. Respondeu-me que para isso existiam os carros. Voltei a explicar que não consigo manobrar uma cadeira de rodas e um carro ao mesmo tempo. Expliquei que tinha o carro mesmo ali à frente e ele podia verificar que ia pôr as compras no porta-bagagens e devolver o cesto.
O rapaz tinha ordens claras: não, porque as pessoas roubam os cestos. A minha mãe indignou-se, porque não íamos roubar nada e perguntou se, afinal, não tinha o direito de ir fazer compras. O rapaz sorriu, complacente e explicou-lhe que o mercado não estava preparado para as pessoas com deficiência.
Ou seja, o mercado está deficiente em igualdade de oportunidades, porque se nem encara a possibilidade de facilitar a vida aos consumidores com menos mobilidade, e dos quais também dependem, imaginem o que sucede quando se trata de proporcionar oportunidades de trabalho...
Tudo acabou em bem porque o rapaz da segurança acabou por deixar sair a cesta e vê-la retornar tranquilamente.
A minha mãe é que não gostou e lá se foi a alegria de voltar a fazer as suas compras, apesar da ajuda de que ainda necessita.
Pergunta final: é minha impressão ou os supermercados nacionais não estão a cumprir uma obrigação legal e, portanto, a discriminar clientes?
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