segunda-feira, 20 de abril de 2020

ora no cravo, ora na revolução


Nem só de vinte e cincos consta o mês de Abril. Os números têm uma magia própria que nunca se esgota. Parece que fazem de propósito, a organizarem-se em padrões que se multiplicam em demonstrações singulares de revelações e significados.
O onze, por exemplo, que é um número muito elegante, marcou a chegada da minha família à Terra da Boa Gente, na costa do Índico, tão palmilhada por navegadores portugueses e de outras nacionalidades.
Acontece que nesse mesmo dia, à noite, se ouviram na rádio (BBC) rumores de que se preparava um golpe de Estado em Portugal. Logo ali a minha mãe decidiu que não se desfaziam as malas todas e até se saber o que se ia passar.
Acabou por se dar o 25 de Abril, a que assistimos com a ajuda dos relatos radiofónicos. Mais a prisão dos agentes da PIDE/DGS, o crescimento do cabelo e da barba dos representantes do MFA, a agitação popular, as primeiras campanhas políticas com boa gente da terra, a entrada dos militares da Frelimo, o pavor do 7 de Setembro e outras vicissitudes.
Tudo culminaria de novo a 11, desta vez em Novembro, dia de São Martinho, com a chegada a Lisboa para assistir ao PREC.
O 11 de Abril também é notável por ter sido estreia, em 1727, da Paixão segundo São Mateus, de Bach, da fundação da Organização Internacional do Trabalho, em 1919, e da entrada em vigor da Constituição Portuguesa de 1933 que deu início ao Estado Novo. 
Em 1970 é o dia do lançamento da Apollo 13 e, em 1976, do computador pessoal Apple I. Foi também o dia em que Julian Assange foi preso, em 2019, na embaixada equatoriana de Londres. O General António de Spínola nasceu a 11 de Abril de 1910.
A 25 de Abril de 1972 Claude Joseph Rouget de Lisle compôs A Marselhesa, o hino nacional francês. No mesmo dia, em 1976, entrou em vigor a Constituição Portuguesa que consagrou a democracia em Portugal. Era o dia de aniversário de Ella Fitzgerald (1917) e de Uderzo (1927), o desenhador de Astérix, de Al Pacino (1940), de Manuel Freire (1942) e de Mário Laginha (1960), entre outros.
Se nos dedicássemos à construção de um mapa que assinalasse todas as coincidências entre os dias de Abril e as suas efemérides, com certeza desvendaríamos um padrão fantástico e repleto de surpresas. Podíamos acrescentar mil e uma variantes e multiplicar infinitamente as hipóteses e as conclusões.
O importante, no entanto, é que Abril em Portugal não é um mês qualquer. Nem as suas mil águas, nem as muitas vozes dos seus detractores conseguem diluir o significado que teve e que mantém para os portugueses. E para outros também. De dia 1 a dia 30, das mentiras às revoluções, há-de cantar-se sempre, de uma ou de outra forma. Uma ora no cravo, ora na revolução.

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