Ontem, enquanto esfumaceava no jardim, reparei num pequeno cão, branco e castanho que saltava e ladrava junto a um dos portões da rua. Chamei a minha mãe, que como dona de um cachorro, conhece todos os animais e vizinhos da zona.
"É o Óscar", disse, identificando de imediato o agitado canídeo. Chamei-o e ele correu até nós. Saltou junto ao muro e regressou ao portão onde estava, para ladrar um pouco mais.
Fiquei a saber que o Óscar tem uma história. Foi recolhido por um médico num canil e oferecido aos pais dele, vizinhos da minha mãe. A intenção inicial da oferta era proporcionar aos seus novos donos passeios que os ajudassem a manter a forma, visto que os anos pesam e andar a pé é a maneira ideal de continuar saudável.
O Óscar tornou-se, assim, o animal estimado do casal. E os passeios concretizaram-se, embora não da forma esperada. Os "pais" do Óscar saíam todos os dias para o passear: tiravam o carro da garagem, instalavam o cachorro no banco de trás, e a família saía para o seu passeio higiénico com a regularidade de um relógio suíço.
Hoje, o "papá" do Óscar já não está entre nós, mas o seu cachorro mantém os bons hábitos. É habitual vê-lo a correr, como um alucinado, pela vizinhança, aproveitando para desafiar todos os outros adoptados de estimação. E sempre que a dona sai de carro, o Óscar corre atrás das quatro rodas até aos limites do bairro, para regressar depois na mesma salutar correria ao território familiar.
Nas pausas, o Óscar instala-se em frente ao talho do bairro, de onde chovem sempre umas aparas de carne, atiradas por mãos amigas. E quando quer voltar à pacatez doméstica, ladra na rua até que alguém lhe abra o portão de casa, para entrar.