Foto MMFerreira |
As boas notícias são que há um cachorro vega na roulotte de cachorros quentes da Boca do Inferno, em Cascais. A cerveja não é suficientemente fria, mas a vista compensa. A música é massacrante, mas às vezes pára. Vêm-se cargueiros e veleiros ao largo, gente a passar para lá do sinal de Perigo de derrocada, colocado bem à frente da falésia, para ir fotografar a fazer equilíbrio em rochas instáveis e de preferência de chinelitos a escorregar no pé. Se pusessem lá um sinal a dizer Cuidado com a crise, era igual. Ninguém ligava. Não me surpreende pois que, mesmo com telejornais apocalípticos vinte e quatro horas por dia, ninguém se rale verdadeiramente com a economia em jeitos de equilibrista barata de circo de quinta categoria. A vista é boa, o País está de férias e não precisamos de melhores notícias. Os incêndios criminosos já disputam manchetes e aberturas de noticiários, mas há tanta festa alive e super qualquer coisa, com tanta gente famosa, bonita e bem vestida, que nada pode estar verdadeiramente mal. Em três quartos de hora a mastigar salsichas com molho picante, batata-palha e cebola frita, a acompanhar a cerveja quase fresca em copos de plástico que não se aguentam com o vento, sete pessoas passaram o sinal de derrocada para fotografar as rochas do Inferno e nenhuma caiu por ali abaixo. O Universo tem, definitivamente, uma tendência para o equilíbrio.