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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

couves e outros caldos


Ontem publiquei este texto no facebook: "segunda-feira, finalmente. o corpo pede uma corridinha pelas dunas, mas a cabeça entra em alerta vermelho: há couves que julgam que são pessoas e se põem a correr sem máscara e sem distância social aceitável. correm com muita habilidade e muito perto dos outros. são couves portuguesas e algumas estrangeiras que aprenderam com as sardinhas enlatadas e se sentem muito bem a mostrar os seus esforços para se manterem sãs e ginasticadas. se não desejam o mesmo aos outros é porque são couves e não se deve esperar delas mais do se espera das couves que não correm. se bem que essas ficam à espera que as reduzam a caldo-verde e não revidam com gotículas maliciosas."
Algumas couves revidaram, claro está, dentro do mais elevado espírito democrático. Uma até me aconselhou psicólogo para controlo da paranóia. Fiquei a saber que os psis das couves estão disponíveis para o meu caso. No mínimo, reconfortante. 
Também fiquei a saber que os estudos científicos que indicam a possibilidade de gotículas infectadas andarem para aí no ar são para deitar para o lixo. Abaixo a ciência porque as couves estão muito acima disso.
À cautela, também me perguntaram se pertencia a algum grupo religioso. Fiquei triste por ter de responder que não e que o meu guia espiritual costuma ser o bom senso. Não se pode agradar a todos.
Um amigo lembrou-me a tendência natural das couves para acabarem em caldo verde. Na minha modesta opinião, o caril de couve com abóbora e grão é um desfecho igualmente aceitável, segundo as minhas próprias tendências. Servido com rodelas de banana e basmati à ilharga.
O mais importante foi, apesar de tudo, o reconhecimento da grande caldeirada em que estamos metidos. As redes sociais vieram brindar-nos com uma avalanche de ingredientes e sub-ingredientes, ultra-vitaminas e tantas outras possibilidades que, na melhor das hipóteses, perceber que não temos controlo nenhum sobre as tendências desta mesa a que todos nos sentamos é a única evidência palpável.
É por isso que não acredito em teorias da conspiração. Cada um de nós tem capacidade e autoridade para criar livremente a conspiração que mais lhe convém. Não há mecanismo de controlo, ou árbitro mais eficaz, do que a nossa parcimónia para os mais variados caldos.
Na esperança que nenhum dos nossos mais inocentes espirros venha, alguma vez, a projectar-se sobre couves ou outras espécies que guardamos mais perto do coração.
Que se cumpra o livre-arbítrio e seja o que os deuses quiserem.