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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

bruxas e santas

"The Witching Hour" by Wendy Sharpe

Faz sentido terminar a noite como uma bruxa e iniciar o dia como uma santa. Aliás, faria sentido repetir essa rotina todos os dias, a toda a hora, sempre que nos apetecesse. É uma grande receita para a reinvenção da vida: reconhecer e aceitar com naturalidade o nosso lado mais básico e também mais vibrante, para a seguir o transmutar na subtileza do mais espiritual e igualmente poderoso.
É por isso que o dia das bruxas é tão interessante e, entre nós, seguido do dia de todos os santos, duplamente significativo. Bruxas ou santas, em papéis redutores impostos pela necessidade de controlo das mulheres, na sua versão mais poderosa e menos domada. São as mesmas bruxas e santas que abraçam os poderes mais escondidos e, afinal, mais despidos de preconceitos, para em seguida darem lugar às habilidades mais subtis e belos da verdadeira natureza humana.
É um processo natural que ainda está sob a influência dos medos atávicos que nos perseguem desde as mais remotas eras. Pode ser assustador assistir à manifestação dos magníficos poderes inatos de uma boa parte da população humana, sobretudo aquela que se quer colada a uma imagem pacífica, submissa, fraca, maternal e muitas outras coisas não forçosamente positivas.
Só que as bruxas são mesmo essa força da natureza capaz de transcender mesquinhices e votar a sua energia às tarefas mais nobres e importantes. E aí, ou como santas, são uma espécie de domicílio sagrado para todos os aflitos. 
Portanto, há que recuperar urgentemente esses papéis e reintroduzi-los na malha social dos nossos dias. Há que permitir às nossas bruxas e santas a manifestação do seu poder regenerador e pacificador, para que não se perca muito mais tempo a fazer de conta que não há soluções capazes de transformar a nossa apreciação da vida numa tarefa digna dessa experiência.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

o que se sabe sobre as bruxas



O que toda a gente sabe sobre as bruxas é que elas são feias, têm narizes disformes e aduncos, verrugas nos sítios mais improváveis e que dão umas gargalhadas horríveis. 
Também se sabe que as mulheres ruivas são bruxas, como dizia a inquisição, que aqui por terras lusas se encarregou de matar umas dezenas de milhar de mulheres por essa razão. Só ficou por explicar que outras razões levam pessoas aparentemente normais a queimar mulheres, seja por que razão for.
É igualmente sabido que as bruxas são as que empatam as fadas, se bem que hoje já se tem consciência de que as fadas se fartam de empatar as bruxas, mas elas é que ficam com a fama.
Hoje, que é o dia das bruxas, temos de convir que elas são é umas grandes malucas, com propensão para voar por aí soltas em vassouras, coisa que mais ninguém se atreve a fazer. Vão passar a noite na maior farra, a beber e a comer como se não houvesse amanhã, a explorar prazeres que a maior parte de nós nem se atreve a pronunciar.
Será isso mau? Se fosse, mesmo a sério, por que usaríamos um dia, ou melhor, uma noitada de bruxas para nos lembrar que é possível enlouquecermos um bocadinho de vez em quando. Na minha opinião, o dia destas criaturas aparentemente horrendas celebra-se para provar que nem o horrível é permanentemente mau, nem o bonito é permanentemente bom.
É possível ver bom e mau em todo o lado e gozar um pouco à maneira dos que se permitem essa liberdade, apesar dos preconceitos e das moralidades apressadas com que gostamos de nos armar em santinhas e santinhos.
Ter um dia para fazer da farra o único sentido da vida é ou pode ser tão bom como ter outro para enterrar a cabeça no trabalho (e há muitos mais dias para isso). Não é por nos concedermos essa liberdade que perdemos a face e podemos continuar a ser uns chatos entediantes e entediados o resto do ano.
Portanto, feliz dia das bruxas. Farremos!