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Ouvi ontem esta expressão que me encheu as medidas. Refere-se a quem, sabe-se lá por que razão, lê livros, compêndios ou enciclopédias de informação pela rama. Até à página cinco. O que diz parte da introdução ou do primeiro capítulo. Sem jamais chegar a ler a obra completa, muito menos a informação que sustenta a ideia, o contexto, a arquitectura mental em que se insere.
O que importa, para uma imensa parte das pessoas, é a descoberta de um novo conceito que lhes desperta as asas da imaginação. Não necessitam da honestidade do aprofundamento do assunto, não as atrai todo a complexidade de pensamentos que lhes deu origem.
Basta-lhes adquirir um novo conjunto de palavras com que podem brincar, reproduzir como verdades irrefutáveis e impingi-las aos outros como a sua maravilhosa, e nova, filosofia de vida.
Poderíamos pensar que esses fragmentos de conhecimento, que no máximo, equivalem a uma falange cortada por mafiosos à mão de um corpo inteiro, apenas correspondem aos cinco minutos de grau de atenção das pessoas que escolhem adquirir a informação dessa forma.
Poderíamos ainda descartar a importância do facto de algumas pessoas acumularem essas falanges rapinadas a vários corpos inteiros constituírem um disforme corpo de informação e conhecimento em que as pessoas baseiam a sua vida.
Essa ideia é assustadora, mas real. Partilhamos o mundo e o conhecimento dele com um exército de falanges coladas com cuspo, sorrisos e beatíficas expressões epifânicas. Que, ainda por cima, muita gente difunde liberalmente e te mesmo a grande lata de reproduzir em workshops de dois meios dias como a solução para todos os problemas.
Ou seja, a página cinco é um pesadelo materializado com que convivemos diariamente. Encarar as coisas de forma leve não é o mesmo que encará-las com leviandade. Não admira que haja tanto disparate a produzir-se neste mundo.