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quarta-feira, 9 de setembro de 2020

descobre o cão

 


Há dois dias uma frequentadora dos trilhos de Monsanto foi fazer o seu exercício matinal com os auscultadores a marcarem o ritmo da marcha. A páginas tantas percebeu que alguém a interpelava e removeu um dos auriculares.
Um passeante habitual, conhecido pelo seu ar carrancudo, dirigia-se a ela tratando-a por tu sem com ela ter qualquer tipo de contacto prévio. Observou que ela andava por ali sozinha e devia querer alguma coisa, que ele bem sabia, etc.
A passeante, que a princípio considerou que o homem talvez precisasse de alguma coisa, resolveu cortar a conversa e disse-lhe para não lhe dirigir mais a palavra.
O homem, provavelmente gravemente ameaçado na sua masculinidade por tão clara falta de respeito da caminhante, redobrou os impropérios, desferiu ameaças e levou repetidas vezes as mãos às partes gagas para reclamar que ela o "chupasse".
A senhora acelerou o passo na direcção em que tinha estacionado o carro e o homem interpretou isso como uma perseguição e ameaçou-a de novo.
Perto estava uma jovem com um telemóvel, a quem a passeante pediu que ligasse para a polícia, visto que não levava consigo o seu.
O homem desapareceu entretanto e juntaram-se algumas outras pessoas às duas mulheres, entre as quais o dono de um cão também frequentador daqueles trilhos.
Um carro-patrulha apareceu, com três agentes. Contada a história, o mais velho resolveu pedir à senhora que, no dia seguinte, quando não estivesse tão magoada... O termo despoletou de imediato indignação da queixosa e motivou um pedido de desculpas do agente.
Abreviando, a cidadã assediada descreveu o indivíduo e indicou a possível direcção que teria tomado, uma vez que já se haviam cruzado nas caminhadas com os cães e outros frequentadores dos trilhos. Os agentes afirmaram ir ver se o encontravam.
Já no carro, a senhora dirigiu-se até onde costumava ver o homem e viu-o numa das descidas para Alcântara. Voltou para junto do carro-patrulha, estacionado no local onde tinha feito a queixa e com os três agentes lá dentro.
Apitou e indicou-lhes a localização do indivíduo. O carro seguiu para o local indicado e abordou o homem. E assim ficaram as coisas.
Vários telefonemas para a esquadra de origem dos agentes não lhe permitiram saber se alguma medida tinha sido tomada e uma deslocação antes das oito da manhã do dia seguinte permitiu-lhe encontrar o agente e ficar a saber que o homem, segundo a sua versão, a tinha apenas mandado ir dar banho ao cão.
Concluindo, terá de dirigir-se de novo à esquadra para apresentar queixa e citar testemunhas, que não existem porque quem lhe acudiu não chegou a ver o homem e também não têm qualquer interesse em expor-se a contactos com a polícia. Tem também de assegurar que, no relatório da queixa que lhe derem para assinar, indicam a deslocação do carro-patrulha.
E assim ficará a coisa, com a recomendação de prescindir dos seus direitos de frequentar os trilhos de Monsanto e, no caso de nova ameaça, não resistir (recomendação telefónica da APAV).
Agora digam lá: já descobriram o cão?

(Recomendação generalista direccionada às caminhantes do sexo feminino: usem uma t-shirt estampada com a frase "Vai dar banho ao cão" e talvez evitem um acesso de agressividade do homem referido, ou de outros igualmente comprometidos com a ameaça irracional que as mulheres representam. Ou um pedido para uma melhor formação de agentes da autoridade nestes e noutros casos.)