Depois de oferecer concertos megalómanos (e não especialmente melómanos) durante o verão na Baía de Cascais a uma população que nem sequer era maioritariamente do concelho, com resultados que passaram por despesas extraordinárias de segurança e de limpeza do centro da vila, a autarquia local decidiu cobrar entradas para as exposições no Centro Cultural de Cascais (três euros para quem não é do concelho e metade disso para aqui vive). E parece que não será o único espaço dedicado à cultura em que se fará tal cobrança (medida em vigor desde o passado mês de Outubro, no CCC, Casa das Histórias, Museu Conde de Castro Guimarães e Casa Duarte Pinto Coelho, pelo menos).
À entrada, se tiverem sorte, ouvirão o segurança e o funcionário ao balcão argumentar que, para ver o Louvre também se paga entrada. Comparação mais que justa, claro. Sobretudo se soubermos que um passe de dois dias para todos os museus parisienses custa quarenta e dois euros e a entrada na Tate Modern é gratuita, sendo cobrada entrada apenas para as exposições especiais. Os programas culturais em Cascais estão, claramente, ao nível dos dois exemplos citados.
Temos de compreender que o afluxo de turistas aos espaços culturais cascalenses é avassalador e importa em despesas que todos temos de partilhar. Isso faz o mais perfeito sentido depois do cuidado que os governos locais tiveram em se apropriar da gestão de todos os eventos, oferecendo condições impossíveis de bater por qualquer outro agente cultural. Agora, consolidada a política de monopólio da cultura pela autarquia, há que pagar para ver o que o poder escolhe apresentar.
Se algumas das propostas até são atraentes, a fraca frequência indica o resultado real desta política, que investe muitas centenas de milhares de euros em espectáculos gratuitos que desfiguram a qualidade de vida local, e depois cobra entradas em eventos de menor envergadura e cuja frequência devia assegurar, nem que fosse apenas pela vergonha de pedir dinheiro por actividades para as quais existem orçamentos destinados ao seu fomento.
Este caso faz lembrar o espírito de um curioso título do Mensageiro de Bragança, fundado em 1940 e sempre sob a gestão da diocese local: "Bragança ou Moscovo - Cidade ou Selva". Tudo por mor de um banho menos "vestido", tomado por um grupo de rapazolas no riacho local durante o verão, que indignou as boas famílias transmontanas e provocou igual indignação ao autor do artigo do Mensageiro.
Então se o Louvre cobra entradas, não o há-de fazer o Centro Cultural de Cascais? Isto é alguma selva? Hão-de concordar...
Se algumas das propostas até são atraentes, a fraca frequência indica o resultado real desta política, que investe muitas centenas de milhares de euros em espectáculos gratuitos que desfiguram a qualidade de vida local, e depois cobra entradas em eventos de menor envergadura e cuja frequência devia assegurar, nem que fosse apenas pela vergonha de pedir dinheiro por actividades para as quais existem orçamentos destinados ao seu fomento.
Este caso faz lembrar o espírito de um curioso título do Mensageiro de Bragança, fundado em 1940 e sempre sob a gestão da diocese local: "Bragança ou Moscovo - Cidade ou Selva". Tudo por mor de um banho menos "vestido", tomado por um grupo de rapazolas no riacho local durante o verão, que indignou as boas famílias transmontanas e provocou igual indignação ao autor do artigo do Mensageiro.
Então se o Louvre cobra entradas, não o há-de fazer o Centro Cultural de Cascais? Isto é alguma selva? Hão-de concordar...