Desenho daqui |
A leitura traz felicidade
e isto não é uma afirmação vã. Basta pegar num livro quando
estamos transtornados e começar um parágrafo para
experimentar de imediato uma realidade diferente da que nos pôs
naquele estado.
Quando não consigo
meditar e, através dessa prática, readquirir o meu equilibro, leio.
Ou desenho, ou pinto, ou ouço música. Às vezes vejo um filme.
Algumas pessoas ligam a televisão e vêem novelas. Outras recorrem a
palavras cruzadas, sudokus, grandes questões matemáticas ou da
física. Ou numa mais corrente forma de concentrar a atenção como a
jardinagem, a cozinha ou o arranjo de uma torneira.
Todos nós temos, sem
nenhuma forma especial de aprendizagem, estas formas de nos
concentrarmos numa tarefa que nos desliga de um momento difícil para
nos mergulhar num outro espaço e tempo em que a realidade tem um
ritmo e uma tonalidade muito mais apaziguadoras.
Não consigo meditar é
uma expressão sem significado para quem tem consciência de todos
estes pequenos instrumentos de acesso imediato à paz e à
felicidade.
Ficar em sossego, bem
sentado, a prestar atenção à respiração, ao movimento do ar que
entra e sai do nosso corpo é tão bom como pegar num livro e
mergulhar num outro espaço mental, ou cozinhar com atenção um
prato que nos apeteça no sossego da cozinha.
É tão bom como ouvir um
concerto e deixar que as emoções corram de vez com o nosso
constante esforço para julgar tudo e todos à medida do que tão bem
nos treinaram para fazer e tão mediocremente molda as nossas vidas.
Ler traz felicidade e
contacto com o mundo dos outros. É o nosso veículo de transporte
mental para vidas, viagens, sonhos e aventuras que existem em outras
cabeças e que podemos partilhar instantaneamente.
Ler livros é uma
obrigação quando tudo o resto que é preparado para nosso consumo
se limita a pacotes de regras, leis e notícias cuidadosamente
formatados para nos amargurarem a vida e nos manterem sob o efeito do
medo, a droga mais mortífera e livremente traficada dos nossos dias.
Leio com consciência de
que quem escreve produz uma diversidade e uma abundância de
oportunidades a que dificilmente se tem acesso num mundo
aparentemente desesperado e desertificado pela falta de ideias, de
nobreza e de entusiasmo pela aceitação de outras formas de ver,
sentir e pensar.
Fico mais feliz assim,
sabendo que o que os livros me trazem são as ideias de quem vive
mentalmente muito mais do que parece possível e que partilha comigo
essa riqueza extraordinária.