Ao contrário dos votos trocados no princípio de outros anos, os deste ano podem começar como os desta conversa, tida há um bocado com um amigo:
- Que tal vai isso?
- Vai indo. Vou escapando aos despedimentos. E tu?
- Trabalhando por conta própria. A tentar fugir ao desemprego.
- Pois. Não está fácil.
- Há que ter calma. Não podemos desatar todos a matar gente e a assaltar bancos, até porque não somos concorrência para os de leste.
- Yah. Vai um dia de cada vez.
- E quando tiver de ser, sempre podemos ir acampar para Belém e São Bento, com a protecção da Guarda Nacional Republicana e outras forças de segurança nacionais. Nem tudo está perdido.
- Pois não. Bem, volto ao trabalho.
- Ok. Também tenho de responder a uns quantos anúncios de emprego.
- Há alguma coisa de jeito?
- Claro que não. Só as empresas de telecomunicações a pedir pessoas para massacrar os incautos pelo telefone.
- Isso dá alguma coisa?
- Despesa, é o que dá. Aquela coisa dos objectivos, sabes? Números aliciantes, mas impossíveis. Pretextos para não pagar o trabalho de ninguém. Recrutam dezenas de pessoas todas as semanas.
- E a malta cai nisso?
- Que remédio. O desespero é péssimo conselheiro. Depois ainda é pior: acaba-se a massa para os transportes e a malta desiste. O passo seguinte é o centro de emprego. Mas como desististe do trabalho, não tens direito a nada.
- Incrível. E ninguém se queixa?
- Não vale a pena. No centro de emprego garantem que nas grandes companhias ninguém toca. O que deve ser verdade, porque continuam a operar no mesmo esquema. E são sempre as mesmas.
- Quais são as alternativas?
- Podes sempre embarcar numa de suplementos alimentares miraculosos, máquinas de filtrar água, aspiradores turbo, máquinas de café expresso, enciclopédias e outros esquemas de pirâmide que vão dar ao mesmo. Em qualquer dos casos, no desespero de cumprires objectivos, lixas todos os teus contactos pessoais. Até podes ter dinheiro para o café, mas ficas sem ninguém para o tomar contigo.
- Isto está mesmo lixado.
- Olha que ainda não. Vês algum governante a tomar medidas para isto?
- Não.
- Então? A malta ainda aguenta. Enquanto os bancos nos derem crédito com o dinheiro dos impostos que nos esmifram, ainda se aguenta.
- E depois?
- Jardins de São Bento. Ajuda connosco.
- Que tal vai isso?
- Vai indo. Vou escapando aos despedimentos. E tu?
- Trabalhando por conta própria. A tentar fugir ao desemprego.
- Pois. Não está fácil.
- Há que ter calma. Não podemos desatar todos a matar gente e a assaltar bancos, até porque não somos concorrência para os de leste.
- Yah. Vai um dia de cada vez.
- E quando tiver de ser, sempre podemos ir acampar para Belém e São Bento, com a protecção da Guarda Nacional Republicana e outras forças de segurança nacionais. Nem tudo está perdido.
- Pois não. Bem, volto ao trabalho.
- Ok. Também tenho de responder a uns quantos anúncios de emprego.
- Há alguma coisa de jeito?
- Claro que não. Só as empresas de telecomunicações a pedir pessoas para massacrar os incautos pelo telefone.
- Isso dá alguma coisa?
- Despesa, é o que dá. Aquela coisa dos objectivos, sabes? Números aliciantes, mas impossíveis. Pretextos para não pagar o trabalho de ninguém. Recrutam dezenas de pessoas todas as semanas.
- E a malta cai nisso?
- Que remédio. O desespero é péssimo conselheiro. Depois ainda é pior: acaba-se a massa para os transportes e a malta desiste. O passo seguinte é o centro de emprego. Mas como desististe do trabalho, não tens direito a nada.
- Incrível. E ninguém se queixa?
- Não vale a pena. No centro de emprego garantem que nas grandes companhias ninguém toca. O que deve ser verdade, porque continuam a operar no mesmo esquema. E são sempre as mesmas.
- Quais são as alternativas?
- Podes sempre embarcar numa de suplementos alimentares miraculosos, máquinas de filtrar água, aspiradores turbo, máquinas de café expresso, enciclopédias e outros esquemas de pirâmide que vão dar ao mesmo. Em qualquer dos casos, no desespero de cumprires objectivos, lixas todos os teus contactos pessoais. Até podes ter dinheiro para o café, mas ficas sem ninguém para o tomar contigo.
- Isto está mesmo lixado.
- Olha que ainda não. Vês algum governante a tomar medidas para isto?
- Não.
- Então? A malta ainda aguenta. Enquanto os bancos nos derem crédito com o dinheiro dos impostos que nos esmifram, ainda se aguenta.
- E depois?
- Jardins de São Bento. Ajuda connosco.
2 comentários:
Estas nuvens andam muito amargosas.Haja esperança, essa senhora esverdeada e old-fashion.
Está mesmo, mas é um frio do caraças. Abraços quentinhos, ajudam.
I.
pelo contrário, as nuvens nunca andam amargosas. isto é uma conversa relatada, não uma confissão. os abraços, esses agradecem-se na mesma
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