Terça-feira com ameaça de trovoada. A pior tempestade não é, apesar disso, a dos elementos. Há duas semanas, o rapaz que veio entregar café, não trazia máscara porque estava muito calor. A semana passada, em nova entrega de encomenda, o estafeta não trazia máscara porque estava a trabalhar e não era necessário. Hoje, o técnico da empresa de comunicações queria entrar em casa sem luvas ou protecção para os pés, porque ninguém lhe tinha dito que eram necessárias. Não só não entrou, como saiu furioso e tratou de acelerar o carro de serviço desmesuradamente nos cinquenta metros até à passadeira da escola local.
Pode ser do calor, pode ser do trabalho, pode ser porque ninguém lhes diz nada. O certo é que, cinco meses depois de informação e propaganda incessante sobre os cuidados de higiene, protecção e distanciamento preventivo, as pessoas não podem alegar falta de conhecimento para desculparem os seus comportamentos suicidas que implicam com a segurança dos outros.
Entende-se perfeitamente por que razão subiram os casos de contágio desta pandemia. Assim não se vai lá.
As filas de entrada nos supermercados e noutros sítios mostram pessoas a um escasso meio metro umas das outras. Muita gente anda pela rua entre outros transeuntes sem máscara. Aborrecem-se porque lhes chamam a atenção.
Toda a gente gostaria muito de enterrar a cabeça na areia e esquecer que esta pandemia alguma vez aconteceu. Mas ela não vai desaparecer só porque se decide um desconfinamento. O problema veio para ficar e há que lidar com ele antes que extermine uma boa parte, senão a totalidade da população.
O facto é que há que mudar hábitos e, quanto mais depressa o fizermos, mais depressa a economia volta a encontrar um bom rumo. O maior problema da economia global é, neste momento, a pouca vontade de mudar sistemas que nos trouxeram até aqui.
Não usar máscara ou praticar alguma outra forma de protecção é como estar num meio de um incêndio e recusar qualquer acção porque não se teve nada que ver com aquilo. A verdade é que este vírus veio demonstrar que todos estamos implicados, ligados e apenas a consciência disso nos poderá tirar do aperto em que estamos metidos.
Nenhuma das nossas acções é isolada e afecta toda a gente numa escala igual à das ondas que uma pedrinha provoca num lago. Há implicações e nenhum de nós se pode subtrair ou encará-las levianamente.