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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

aos encontrões na luz

foto MMF
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nem oito, nem oitenta. Nem toda a gente é completamente má, nem completamente boa. Vivemos de luz e escuridão, mas isso também não quer dizer que se saiba exactamente o que se anda a fazer. Às vezes, na sombra até nos orientamos e a maior parte das vezes, na mais completa luz, parecemos uns carrinhos de choque aos encontrões uns aos outros.
Outras vezes as coisas passam-se à nossa frente e não queremos meter-nos, julgando que assumimos assim uma posição de neutralidade. Nada mais errado. Porque uma decisão é uma acção e, neste caso, deixamo-nos nas mãos das decisões de todos os outros. Isto porque, fazendo parte de um todo em que as decisões determinam os resultados, e são um efeito imparável, a nossa neutralidade determina apenas que são as acções dos outros que vão moldar esse efeito, não as nossas.
A Terra e tudo o que nela existe, incluindo a pretensiosa Humanidade, é um todo em constante movimento e evolução, determinada pelas acções e decisões de tudo e todos. A neutralidade é uma ficção que apenas permite que as tomadas de posição dos outros definam o rumo das nossas vidas.
Na verdade, quando nos recusamos a decidir é como se estivéssemos convencidos que podemos manter-nos no meio do turbilhão da corrente sem sofrer os seus efeitos.
A cada um o seu tipo de masoquismo preferido, pois até isso é perfeitamente natural e defensável, ou não seria o que nos esforçamos tanto por fazer a todo o instante.
E o que é que acontece quando tomamos consciência disso? A maioria dos alemães acreditou piamente que não se manifestando contra as acções dos nazis a sua consciência estava salvaguardada. Isso modificou a qualidade dos resultados que vitimaram milhões de pessoas por todo o lado?
Quando as pessoas afirmam que não se metem em política, quando não vão votar, quando não assistem às sessões públicas dos seus órgãos de poder local, não se informam sobre as deliberações que vão determinar o lixo que têm à porta de casa, os impostos que pagam para não terem onde estacionar sem pagar, onde se tratar em condições dignas ou como deixam de poder ver a beleza natural da terra onde vivem porque alguém decidiu ganhar dinheiro com bolhas imobiliárias. Quando acreditam que nada disso lhes interessa ou contribui para a sua felicidade, os resultados são os que aparecem nos seus sonhos?
Acreditam sinceramente que vão poder respirar com a cabeça enterrada na areia? Acreditam que o facto de sonharem acordados é suficiente para alcançar o paraíso?
Boa sorte. Viver como escolhos arrastados pelas tempestades deve ser, realmente, o Eldorado da Humanidade.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

uma barriga demasiado cheia

Copyright MMF
Os problemas começam quando a gente se torna incapaz de os ver. Há anos que os sinais se multiplicam, mas o poder está cego e não vê o óbvio: aquilo que o vai derrubar. Não são partidos, não são líderes. E faltando estes, o poder acha que não há perigo nenhum. Demasiado habituado a descobrir a cabeça da cobra para a decepar, não entende que até a oposição mudou. Não são precisos líderes ou partidos para convocar o apoio dos oprimidos. Bastam as comunicações, a facilidade com que hoje de diz que não se está de acordo com isto ou aquilo, se espalha a palavra e se convocam simpatizantes para uma causa.
De que lhes adianta estarem a tentar descobrir o futuro do euro, da comunidade europeira e da economia global, se não é nada disso que está em causa? Já ninguém acredita na capacidade de liderança dos economistas e estrategistas do poder, a não ser uns poucos esbirros e novos recrutas.
Não são as armas a ameaça, mas a falta de vontade das pessoas vulgares em aceitar os cada mais frequentes abusos de poder. Como é que vão usar os seus exércitos em pessoas que não pegam em armas? Como é que vão acabar com a resistência de pessoas que, pura e simplesmente, já não lhes ligam nenhuma?
Podem apertar o cinto quanto quiserem, porque a maior parte das pessoas já sente, se não sabe, de facto, que nada tem a perder. A maior derrota é a da incapacidade de diagnóstico da situação.
O poder investiu tudo numa única frente: o poder económico e a usura. A frente está gasta, seca, improdutiva. Comeram o pequeno-almoço, o almoço, o jantar e a ceia, atacaram a despensa e agora não há provisões nem onde ir buscá-las. Mais, estão de barriga demasiado cheia para conseguir rebolar para outro lado.

sábado, 22 de outubro de 2011

rumores de crise

Devia ser possível desligar a crise num botão. Já experimentei desligar a televisão e o rádio, o que me garante uns minutos de silêncio. Mas as más notícias são piores que a erva daninha: teimam em continuar a chegar, pelo telefone, pelas conversas, pela má disposição de todos.
Um amigo meu, que é muito zen, é de opinião que devemos ser superiores a essas coisas. Tudo o que temos a fazer é alhearmo-nos do alucinado ambiente de medo e de pensamentos negativos. E prosseguir com a nossa vida.
Até concordo com o ponto de vista dele, dado a escabrosa tendência de toda a gente de propagar notícias, conversas e pensamentos alarmistas, aparentemente sem nenhuma espécie de capacidade para filtrar aquilo que é informação válida e a realidade, pura e dura, do que é lixo propagandístico e confusão criminosamente divulgada pelos média e pelos alegados "responsáveis" pela ordem e pela lei.
Parece ser coisa do conhecimento comum que o actual sistema financeiro deixa mais do que a desejar. É mais um sistema de criminalidade consentida, em que a usura internacional passou a extorsão, a abuso continuado e consentido de uns poucos sobre todos os outros.
Já sabemos que não é coisa que dure, que todos os sistemas sociais abusivos têm uma curta vida de 30 a 40 anos - é o que a História nos ensina -, e por isso mesmo devemos estar certos de que alguma coisa vai mudar a curto prazo, manter a cabeça fria e preparar-nos para enfrentar a convulsão social seguinte.
Em Portugal não será um outro 25 de Abril, quase pacífico, em que um par de famílias no poder deram lugar a outro par, numa simpática alternância que não obrigou ao derramamento de sangue, pelo menos excessivo e descontrolado, como acontece noutros casos.
O golpe palaciano está fora de questão nos nossos dias. Há muita gente na rua, para já apenas suficientemente zangada para fazer ouvir a sua voz. Não há partidos, nem idealismos a tentar controlar a revolução de hábitos e costumes. Não há vozes de autoridade ou revolucionárias. Só muitas pessoas na rua, todas convencidas de que não é legítimo tolerar mais nada aos bandidos e assaltantes que controlam o sistema financeiro.
Isto vai dar bom resultado? Não me parece. Podemos tentar dar a volta aos acontecimentos? Também não me parece. Vai tudo correr bem? Também é igualmente improvável.
Estamos a assistir à formação de um maremoto movido a gente que chegou ao fim da linha. E quem é que é capaz de prever as consequẽncias de uma tal catástrofe natural? Não serão, certamente, os tubarões que agora se encontram no poder e os outros crustáceos que os seguem, convencidos de que o seu poder e o seu dinheiro serão suficientes para os safar de qualquer desastre social e económico.
Por ridículo que isto soe, qual vai ser a capacidade de travar multidões em fúria, que têm por trás de si décadas de abusos e mentiras? Para que recôndita gruta deste mundo espera essa trupe dos fatinhos cinzentos e azuis e gravata a condizer fugir, quando o movimento de massas mundial sair dos carris? Que futuro acreditarão, sinceramente, poder ter depois de terem espremido toda a população do planeta até ao desespero?
Não é muito difícil fazer futurologia neste cenário, infelizmente. Não há botão de On e Off nesta crise. Nem sequer um dilúvio universal com uma arca a flutuar e a abarrotar com o Povo Escolhido...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

arranjem o que fazer

Foto MMFerreira

Invejar quem não tem nada é uma qualidade intrigante e, possivelmente, uma das mais absurdas que conheço. Só equiparável, talvez, ao ressentimento demonstrado perante a alegria de viver de quem, contra todas as adversidades, teima em cultivar a alegria.
Sendo a vida pejada de contrariedades que não podemos evitar, não é pecar por optimismo ou por inconsciência não ceder à depressão e aos pensamentos negativos. É uma questão de bom senso e de saúde mental.
Confundir isso com irresponsabilidade ou falta de vontade e energia para tentar mudar as coisas é que condenável. Nem toda a gente é vítima de circunstâncias adversas por falhas graves na sua personalidade. Pode ser por desconhecimento e falta de orientação adequada para mudar algumas vicissitudes pelo caminho, mas isso não é obrigatoriamente condenável.
Que, apesar disso tudo, se inveje e queira mal a quem sofra por mor de desastradas situações, é espantoso.
Talvez a resposta esteja em algum medo que tolhe os aparentemente mais afortunados, coartando-lhes a capacidade para exercerem o optimismo e a alegria que estarão, quiçá, mais equipados para pôr em prática. O receio de falhar e a opção por apostas cem por cento seguras nunca é compensador quando a nossa cabeça teima em sonhar com voos mais altos.
O que não é razão, nem justifica, invejar e diminuir o esforço dos outros para combater o receio e a insegurança. É empatar a sua e a vida dos outros, sem outro lucro que o da impotência e o desânimo. E é crueldade, na mais básica forma em que é posta em prática pela mediocridade de quem se deixa desiludir.
Arranjem o que fazer.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

quadrados de loucura e porcos cheios de tinta cor-de-rosa

Pintura de Marion Rose


Há um filme que se chama Efeito borboleta, em que o realizador se empenha em contribuir para a paranóia humana, tentando demonstrar como o bater de asas de uma borboleta na China pode contribuir para um furação algures na América do Norte. Aposto que o funcionário das Finanças que hoje enviou uma carta ameaçadora a uma amiga e artista plástica, não esperava decerto desencadear um efeito borboleta com um simples comunicado de extorsão, perfeitamente legal, caso a senhora não pague uns quantos milhares de euros de dívida à SS (adoro a coincidência das siglas).
Ora, para quem tenta sobreviver do seu trabalho, como qualquer cidadão comum deste país, com a agravante de pertencer a esse exíguo grupo de gente de prática artística, cujo mérito jamais é reconhecido, senão quando se trata de enterrar cinzas e ossadas em cerimónias públicas, em sítios disparatados, alegadamente representativos da vida da criatura fenecida, uma conta calada, nesta altura do campeonato, é de pôr qualquer um com vontade de se atirar do quarto andar e esquecer a existência.
Mas como os artistas, ao contrário do que se diz e pensa, são gente avisada e prática, informada também das escassas probabilidades de êxito de empreendimentos suicidas (embora no cinema vinguem com auras de insuspeitado romantismo), a minha amiga resolveu transformar o desespero em matéria criativa e concebeu de imediato dois extraordinários planos, enquanto fazia dos meus ouvidos o seu caixote de lixo privativo.
Assim, sabiamente, imaginou os Quadrados de loucura e os Porcos cheios de tinta cor-de-rosa, com que está a pensar tomar de assalto uma instituição bastamente representativa, como a Assembleia da República.
À porta de S. Bento tenciona distribuir, como hóstias prontas a consumir, pequenos quadrados de papel (Quadrados de loucura) com inscrições ilustrativas da loucura de cada deputado da Nação, para que ruminem demoradamente nas alucinações que, afinal, não têm capacidade de poupar aos seus concidadãos. E umas almofadas de espuma embebidas em tinta cor-de-rosa (Porcos cheios de tinta cor-de-rosa), onde deverão assentar os respectivos traseiros e sentir, na pele, a incómoda sujidade que consentem diariamente.
Se fosse realizadora, documentaria com certeza cada passo destas ideias e da sua realização prática, segura do êxito cinematográfico que teria em mãos. Como não sou, resta-me contar-vos esta história que, a ter sequência, não deixarei de ilustrar aqui com letras e imagens.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

desinteressante...

Há uma ridícula quantidade de blogs sobre futebol. Bons? Nem por isso. A maior parte das vezes, é uma sorte se conseguimos lê-los sem sobressaltos com erros de ortografia, sintaxe incompreensível, falta de ideias e de clareza. O que fará alguém pensar que pode escrever sobre futebol sem ao menos saber articular o que pode ser uma ideia?
A falta de interesse estende-se a muitos outros blogues, em que as pessoas acham que se safam publicando vídeos e fotografias que não são seus. Não lhes fazia mal nenhum inscreverem-se em cursos de escrita criativa, de fotografia, de artes plásticas. E assim já tinham alguma coisa de seu para postar e mostrar.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

desastre comunicativo



Em tempo de crise, o que levará três empresas como a Sapo, a Sagres e a Super Bock a produzir anúncios como estes, em que o adjetivo machista é obviamente escasso para classificar a pobreza de chavões que afastam pelo menos 50 por cento do público alvo?



Este, da Sagres, além do infeliz machismo, insulta as mulheres, retratando-as como meras figurantes, cuja maior alegria é mostrar as mamas aos rapazinhos bebedores e egocentrados (somos nós...). Ainda por cima, tem como figurantes de "topo" o Figo e o Manzana, que assim entram para a história como quaisquer outras cavalgaduras machistas, capazes de todas as tristes figuras em público para ganhar uns euros.



A Sagres Mini vai ainda mais longe, depois de pôr os rapazinhos aos abraços (como se "eles" andassem para aí no apalpanço público sem medo das consequências), recorrendo ao preconceito das "primas fáceis" para a graçola de fecho do anúncio.



A Super Bock, no seu anúncio de minis a "puxar pela amizade", faz com que os três "meninos" se deixem guiar por garrafas de cerveja que se empinam, assim como qualquer pénis a precisar de desabafar, e corram uns para os outros. Não deixa de ser curioso...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

rescaldos


Ontem, antecipando a lógica possibilidade de adesão à greve de uma empregada doméstica que ainda não existe cá em casa, aspirei. Talvez por ser dia de paralisação geral, recebi uma chamada do centro de saúde local a dizer que o meu pedido de mudança de médico de família não vai acontecer. Haverá alguma ligação possível entre estes dois eventos? À partida parece que não, mas as aparências iludem...