sábado, 22 de outubro de 2011

rumores de crise

Devia ser possível desligar a crise num botão. Já experimentei desligar a televisão e o rádio, o que me garante uns minutos de silêncio. Mas as más notícias são piores que a erva daninha: teimam em continuar a chegar, pelo telefone, pelas conversas, pela má disposição de todos.
Um amigo meu, que é muito zen, é de opinião que devemos ser superiores a essas coisas. Tudo o que temos a fazer é alhearmo-nos do alucinado ambiente de medo e de pensamentos negativos. E prosseguir com a nossa vida.
Até concordo com o ponto de vista dele, dado a escabrosa tendência de toda a gente de propagar notícias, conversas e pensamentos alarmistas, aparentemente sem nenhuma espécie de capacidade para filtrar aquilo que é informação válida e a realidade, pura e dura, do que é lixo propagandístico e confusão criminosamente divulgada pelos média e pelos alegados "responsáveis" pela ordem e pela lei.
Parece ser coisa do conhecimento comum que o actual sistema financeiro deixa mais do que a desejar. É mais um sistema de criminalidade consentida, em que a usura internacional passou a extorsão, a abuso continuado e consentido de uns poucos sobre todos os outros.
Já sabemos que não é coisa que dure, que todos os sistemas sociais abusivos têm uma curta vida de 30 a 40 anos - é o que a História nos ensina -, e por isso mesmo devemos estar certos de que alguma coisa vai mudar a curto prazo, manter a cabeça fria e preparar-nos para enfrentar a convulsão social seguinte.
Em Portugal não será um outro 25 de Abril, quase pacífico, em que um par de famílias no poder deram lugar a outro par, numa simpática alternância que não obrigou ao derramamento de sangue, pelo menos excessivo e descontrolado, como acontece noutros casos.
O golpe palaciano está fora de questão nos nossos dias. Há muita gente na rua, para já apenas suficientemente zangada para fazer ouvir a sua voz. Não há partidos, nem idealismos a tentar controlar a revolução de hábitos e costumes. Não há vozes de autoridade ou revolucionárias. Só muitas pessoas na rua, todas convencidas de que não é legítimo tolerar mais nada aos bandidos e assaltantes que controlam o sistema financeiro.
Isto vai dar bom resultado? Não me parece. Podemos tentar dar a volta aos acontecimentos? Também não me parece. Vai tudo correr bem? Também é igualmente improvável.
Estamos a assistir à formação de um maremoto movido a gente que chegou ao fim da linha. E quem é que é capaz de prever as consequẽncias de uma tal catástrofe natural? Não serão, certamente, os tubarões que agora se encontram no poder e os outros crustáceos que os seguem, convencidos de que o seu poder e o seu dinheiro serão suficientes para os safar de qualquer desastre social e económico.
Por ridículo que isto soe, qual vai ser a capacidade de travar multidões em fúria, que têm por trás de si décadas de abusos e mentiras? Para que recôndita gruta deste mundo espera essa trupe dos fatinhos cinzentos e azuis e gravata a condizer fugir, quando o movimento de massas mundial sair dos carris? Que futuro acreditarão, sinceramente, poder ter depois de terem espremido toda a população do planeta até ao desespero?
Não é muito difícil fazer futurologia neste cenário, infelizmente. Não há botão de On e Off nesta crise. Nem sequer um dilúvio universal com uma arca a flutuar e a abarrotar com o Povo Escolhido...

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