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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

o inquilinato tonto

Biscaia by MMF
Vimos a este planeta como uma mão cheia de terra, que usamos até o abandonar. Aqui dependemos da nossa ligação a todos os elementos para sobreviver. Os nossos pulmões de nada servem sem as árvores e outras plantas, o nosso corpo não funciona sem água e comida. E quando nos vamos embora, essa mão cheia de terra regressa à Natureza, ao seu estado primordial.
Esquecemo-nos com frequência do que somos realmente e não nos chega o que temos todos os dias à nossa frente. Inventamos uma espécie que gostaríamos que fosse única e atribuímos-lhe uma personalidade que imaginamos mais atraente do que a matéria de que somos feitos.
Se os nossos primeiros antepassados tivessem um vislumbre do que somos agora ficariam estupefactos com a ficção em que se tornou a nossa vida. 
Ficariam incrédulos com a exploração da água e das fontes de energia, que são do planeta e para uso de todos os punhados de terra existentes, porque nunca foram de ninguém, nem poderão jamais ser. Tentariam chamar-nos à razão sobre os instintos de posse e os loucos conceitos de propriedade que desenvolvemos. Como podemos arrogar-nos esses atributos, se para começo de conversa só estamos aqui de empréstimo, por umas escassas dezenas de anos e para seguir depois viagem?
Como seria possível entenderem o inferno em que transformámos a nossa passagem pelo planeta, com leis e regulamentos cada vez mais intrincados e disparatados, por não terem em conta a verdadeira natureza da nossa estada aqui?
Que sentido poderia possivelmente fazer a educação que recebemos de nascença, de uma identidade cega para o nosso planeta hospedeiro e para com a sua abundância e generosidade, que desbaratamos com a alucinação das medíocres ideologias que vamos construindo à medida dos nossos pequeninos desejos de posse?
A Terra não tem problemas e sobreviverá a todos os atentados que nela cometemos. Quando tornarmos a nossa vida insustentável aqui, retomará tranquilamente o seu equilíbrio e aguardará novas visitas, sem medos tontos de aniquilações várias.
O planeta também tem a sua alma/ânima e não se sustenta de dúvidas existenciais. Essas ficam para os seus destituídos inquilinos ocasionais, com as suas fúteis pretensões de poder e domínio sobre a matéria.
Como pode alguém pretender dominar um planeta, se não consegue perceber que faz parte dele?

domingo, 24 de julho de 2011

sustentável?

Foto MMFerreira

A população mundial duplicou desde a década de 60. Fomos capazes de gerar vacinas, antibióticos, prevenção, cirurgias cada vez mais complexas e eficazes, tratamentos dentários e planos de desenvolvimento. Descobrimos como multiplicar os peixes e ensinar a pescar, mas não como matar a fome ou a não matar.
Também nunca descobrimos, aparentemente, como lidar com as consequências deste brutal crescimento demográfico.
Pensando bem, de que serviriam todas as descobertas se não houvesse como tirar partido delas? Quem compraria vacinas, hamburguers, telemóveis, sementes geneticamente modificadas e máquinas fotográficas se, de repente, algum génio se lembrasse de que seria ajuizado que as famílias não ultrapassassem um número restrito de filhos? Seria isso sustentável ou uma violação de direitos fundamentais?
A palavra sustentável é uma adição bastante recente ao nosso vocabulário mundial e quase completamente incompreensível para a maioria das pessoas. Fala-se muito em ecologia e mudanças climáticas, poluição e fontes alternativas de energia, mas pensar também em todas essas coisas associadas ao sustentável é ainda um exercício complexo e acima das reais capacidades do conhecimento médio.
A própria média, de vida, de consumo ou de conhecimento, é uma espécie de terra de ninguém onde crescem híbridos resultantes da vontade de dar a conhecer a realidade e daquilo que é politicamente correcto, constituindo, na verdade, a terra fértil da propaganda dos regimes.
Voltando ao facto de a população mundial ter duplicado nos últimos 60 anos, seremos realmente capazes de entender as consequências dessa constatação em toda a sua aterradora complexidade? O que aconteceria, por exemplo, ao nosso especulativo sistema económico global, se de repente nos preocupássemos todos com a sustentabilidade demográfica do planeta e desatássemos todos a pôr em prática soluções para atingir números ideais de habitantes por percentagem territorial?
Ou não fazemos nada e esperamos que a Natureza, mais uma vez, se encarregue de repor o devido equilíbrio, à semelhança de outras fases históricas de que temos indícios?
Mais acutilante ainda: o que é que eu vou fazer com esta informação? Está na minha mão contribuir significativamente para uma solução?
Devo depositar a minha fé num qualquer deus capaz de zelar pelo bem-estar de todos os crentes e assegurar o seu lugar nos céus, descartando todas as outras criaturas como simplesmente insustentáveis? Ou, de uma forma muito zen, aguardar que se faça luz no meu actualmente incapaz e desarmado espírito, esperar que desça de Marte, Vénus ou Plutão um OVNI cheio de revelações e esperanças, ou que o Apocalipse resolva por mim todos os dilemas da Humanidade?
Em qualquer dos casos, a tarefa é desmesurada para a real importância de cada indivíduo isolado. Mas se não começamos por aí, por onde poderemos alguma vez começar?