(Discurso de Boris Johnson, novo mayor de Londres)
Podia estar a pensar no Outono em Pequim e no Boris Vian, com pneus que empalidecem de susto e outras alucinantes viagens pelo imaginário livre de um criador. A realidade é que nada tem de criativa a loucura que se pressente no carismático líder conservador que acaba de ganhar a corrida pelos destinos da nova Londres.
Boris Johnson faz-me lembrar Samora, Fidel, Mugabe, Chavez e outras explosivas estrelas que prometiam novos luzeiros em céus de mudança e afinal arrastavam consigo a morte e a decadência nos seus rasgos luminosos de estrelas cadentes.
Talvez precisemos destas estrelas moribundas para entender a necessidade de mudar radicalmente a nossa vida. E entende-se assim um Boris em Londres, uma metrópole em profunda mudança, onde as dissonâncias sociais se tornam cada vez mais patentes e reflectem o novo Reino Unido.
Uma economia forte que soube atrair imigrantes e aproveitar a mão-de-obra barata de todo o mundo, está em queda virtiginosa e a braços com uma tradição democrática agora engenhosamente usada por esses mesmos imigrantes para fazer valer os seus direitos de uma forma que ameaça preverter algumas das mais importantes leis britânicas sobre a liberdade e direito de expressão.
E agora um mayor conservador, com a habilidade de nos desconcertar com as suas saídas pouco convencionais, tão semelhante aos novos inquilinos de Londres, capaz de cativar simpatias de um eleitorado ainda mal definido à luz da recente demografia da capital de todas as nações.
Porque é preciso passear por Londres durante o dia para assistir ao desfile de todas as nacionalidades ali representadas. É preciso circular ao fim da tarde para ver a cidade transformar-se como do dia para a noite, observar o êxodo dos ingleses para a periferia, o recolher dos trabalhadores diurnos e a lenta chegada dos que vivem de noite na cidade.
À excepção de dois ou três bairros boémios, Londres nocturna pertence a bandos, bolsas de indivíduos que se aprende a evitar. Cinemas e teatros têm sessões "tardias" que começam às sete da tarde e terminam às nove, a tempo de se apanhar os transportes que saem da cidade e nos conduzem às zonas suburbanas mais rurais e tranquilas.
Durante as manhãs dos fins-de-semana bem podíamos afirmar estar num país muçulmano, sikh ou africano, a julgar pelas massas de gente vestida a rigor, burkas e turbantes incluídos, que se movimentam a caminho dos cultos e reuniões étnicas para todas as medidas e gostos. E para as novas igrejas que enchem o Reino Unido de imigrantes missionários munidos de vistos de estudantes que lhes permitem trabalhar apenas 20 horas semanais para se sustentar, a uma média de 100 libras semanais onde os quartos alugados cobram no mínimo esse montante para alojar tantos quantos caibam em dois metros quadrados de espaço.
É neste ambiente que o Boris londrino cai como um arcanjo salvador, sabe-se lá de que maiorias ou minorias. E que o senhor Brown luta para convencer os britânicos de que ainda é capaz de dar a volta a uma economia que afinal apenas espelha uma novem ordem mundial para a economia e para a sociedade.
Digam lá se não é o mesmo que tomar chá de cogumelos e esperar em fugaz delírio que tudo acabe, de uma maneira ou de outra. Não me espanta pois que as igrejas, mesquitas e outros locais de culto se encham de gente à procura da vida com que sonham numa qualquer terra prometida.
O prometido é devido sim, mas há que ler as letrinhas menores do contrato...