Se meto tudo em todo o lado e coloco onde devia pôr, para que serve esse teimoso verbinho com pretensões a insubstituível? Porque no colocar é que está o ganho, visto que pôr não se lhe compara em quantidade e sonoridade silábica.
Já agora, meto sim, para que saibam, visto que pôr dentro de é significado que já não assenta neste outro verbo, de forma alguma, nem sequer para as últimas gerações de professores e outros doutos universitários.
Mais uma vez, para que serve o insignificante pôr? Só se for para sufixar em pôr-ra!, e ganhar em óbvia utilidade vernácula e imediata.
Estranho? Nem pensar, num país em que o negócio da Educação se tornou num chorudo retorno de euros sem exigências de quaisquer mais-valias sociais ou culturais.
O que é preciso é meter o comer na mesa e não queimar a vista com coisas que não pagam a renda a ninguém. E, pelo caminho, controlar a rotunda e fazer orelhas mouchas a esses que acham que sabem tudo. Ou não é verdade que o comer se cozinha todo em cru, como toda a gente sabe, e que os legumes da sopa se torturam?
Além disso, também digo a ela que ouvistes muito bem e que vais de carrinho se vens práki engrupir-me com o acordo outrográfico. Táxe?
Portanto, pôr, pôr, isso é que nem pensar.
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terça-feira, 6 de setembro de 2011
sexta-feira, 29 de julho de 2011
always do for others and let others do for you
Foto MMFerreira |
May your wishes all come true
May you always do for others
And let others do for you
May you build a ladder to the stars
And climb on every rung
May you stay forever young
Forever young, forever young
May you stay forever young.
May you grow up to be righteous
May you grow up to be true
May you always know the truth
And see the lights surrounding you
May you always be courageous
Stand upright and be strong
May you stay forever young
Forever young, forever young
May you stay forever young.
May your hands always be busy
May your feet always be swift
May you have a strong foundation
When the winds of changes shift
May your heart always be joyful
And may your song always be sung
May you stay forever young
Forever young, forever young
May you stay forever young.
(by Bob Dylan)
quarta-feira, 27 de julho de 2011
os outros artistas
"Playroom", by Marita Ferreira |
Pôr em prática alguma forma de arte implica, basicamente, ficar nas mãos dos predadores que usam os lugares-comuns acima descritos para menorizar e explorar as pessoas que se dedicam a qualquer forma de arte. Galeristas, agentes, produtores, editores e outros pseudo colarinhos-brancos da área intelectual não têm pejo em usar o trabalho alheio em proveito próprio, sem prestar a devida compensação a quem o produz.
Muito se brama contra os empresários de todos os segmentos produtivos, mas estes tubarões de capa intelectual, que se choram e alardeiam a sua indignação contra os muitos atentados ao trabalho artístico, cobram percentagens inconcebíveis, fogem ao pagamento de direitos, exploram sem piedade o trabalho dos outros e desculpam com gastos astronómicos o incumprimento de condições contratadas.
Acima da lei, estes verdadeiros boémios da vida artística promovem os estilos de vida que aos artistas se atribuem, sustentados com os rendimentos do trabalho alheio, contribuindo para a sua fama, mas não para o seu proveito.
Ser artista é, assim, uma forma de ser confundido com o desregramento de quem não o é. Trabalhar honestamente para resultados que não sejam simplesmente diletantes e pretensiosos, exige disciplina, afinco e entrega total. Pouco tempo fica para festas e orgias. No entanto, quando elas acontecem, ninguém menciona agentes e empresários, mas os soantes nomes ligados a artes várias.
Entretanto temos fenómenos como editoras de grande prestígio que publicam todos os grandes poetas de língua portuguesa e nunca lhes pagam um cêntimo de direitos a pretexto de que a poesia não se vende. Fica o enigma de como pagam esses editores as suas contas. Os livros são, aliás, um mistério insondável de desgraças que sustenta, no entanto, um segmento de mercado florescente para os grandes grupos e empresas.
O mesmo se aplica às outras artes, em que não são os artistas a colher os melhores frutos do seu trabalho, pelo menos nunca antes de fazer prosperar dezenas de outros indivíduos. A lei acoberta, no entanto, as máquinas de fazer dinheiro nas áreas artísticas, consentindo na exploração do talento. Assim como o desampara sempre que uma empresa de edição ou produção encerra as suas portas, dando primazia a todos os fornecedores e esquecendo os que em primeiro lugar contribuiram para a criação de dezenas de postos de trabalho durante anos a fio.
A justiça é um conceito mental elaborado, que não afecta a maioria das pessoas, mas como agora está na moda combater os estigmas, por que não denunciar este? Artistas não são desgraçados incapazes e ao nível dos sem-abrigo. São geradores de riqueza tratados como escravos e abandonados à sua sorte e má fama sempre que necessário. A seu favor não têm sequer a segurança de fontes de rendimento fixas, mesmo que diminutas. Regulam-se os direitos de autor e há percentagens acordadas para o seu valor, mas nunca ningém acorda sobre as outras percentagens geradas pela dos artistas e autores.
Há que concordar que, viver assim, da fama e do trabalho dos outros, é que é coisa de artista.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
a vida segundo muñoz
Passeando pela retrospectiva de Juan Muñoz em Serralves como num universo paralelo, podemos apanhar-nos a espreitar momentos que não nos pertencem, mas em que reconhecemos sensações familiares.
Há a agonia das figuras suspensas pela boca e em constante movimento sobre si próprias, abandonadas à impotência perante um mundo que não se domina. E um momento de harmonia libertadora sugerido pelo mesmo movimento que, pela sua inevitabilidade, ilustra a sujeição de tudo e todos a um ritmo universal.
Junto à janela, as figuras com a metade inferior resumida a um saco informe e imobilizador, a lembrar os pesadelos infantis em que o pânico nos assalta e não logramos vencer o peso que nos prende ao mesmo sítio. No entanto, as esculturas inclinadas e de rostos quase inexpressivos ordenam-se num peculiar instantâneo de acções que não chega a desenrolar-se. A janela aberta sobre o jardim dá-lhes um sentido adicional nesta mostra.
Uma pequena multidão de homens cinzentos, rostos sorridentes e idênticos, remete-nos ao uniformidade do colectivo, às pequenas perdas momentâneas de individualidade. O que se altera de imediato quando as observamos de cima e tomamos consciência do papel único de observadores, benesse conferida pela organização do espaço da exposição.
Continuamos a espreitar por buracos de fechaduras ao ouvir repetidamente um diálogo em frente a duas pequenas figuras sentadas lado a lado, viradas para a parede ou sentadas em círculo com tambores de silicone à maneira de extensões dos corpos, armários povoados de objectos e pequenas esculturas, navalhas de ponta em mola escondidas em corrimões.
sábado, 3 de maio de 2008
um boris em londres
(Discurso de Boris Johnson, novo mayor de Londres)
Podia estar a pensar no Outono em Pequim e no Boris Vian, com pneus que empalidecem de susto e outras alucinantes viagens pelo imaginário livre de um criador. A realidade é que nada tem de criativa a loucura que se pressente no carismático líder conservador que acaba de ganhar a corrida pelos destinos da nova Londres.
Boris Johnson faz-me lembrar Samora, Fidel, Mugabe, Chavez e outras explosivas estrelas que prometiam novos luzeiros em céus de mudança e afinal arrastavam consigo a morte e a decadência nos seus rasgos luminosos de estrelas cadentes.
Talvez precisemos destas estrelas moribundas para entender a necessidade de mudar radicalmente a nossa vida. E entende-se assim um Boris em Londres, uma metrópole em profunda mudança, onde as dissonâncias sociais se tornam cada vez mais patentes e reflectem o novo Reino Unido.
Uma economia forte que soube atrair imigrantes e aproveitar a mão-de-obra barata de todo o mundo, está em queda virtiginosa e a braços com uma tradição democrática agora engenhosamente usada por esses mesmos imigrantes para fazer valer os seus direitos de uma forma que ameaça preverter algumas das mais importantes leis britânicas sobre a liberdade e direito de expressão.
E agora um mayor conservador, com a habilidade de nos desconcertar com as suas saídas pouco convencionais, tão semelhante aos novos inquilinos de Londres, capaz de cativar simpatias de um eleitorado ainda mal definido à luz da recente demografia da capital de todas as nações.
Porque é preciso passear por Londres durante o dia para assistir ao desfile de todas as nacionalidades ali representadas. É preciso circular ao fim da tarde para ver a cidade transformar-se como do dia para a noite, observar o êxodo dos ingleses para a periferia, o recolher dos trabalhadores diurnos e a lenta chegada dos que vivem de noite na cidade.
À excepção de dois ou três bairros boémios, Londres nocturna pertence a bandos, bolsas de indivíduos que se aprende a evitar. Cinemas e teatros têm sessões "tardias" que começam às sete da tarde e terminam às nove, a tempo de se apanhar os transportes que saem da cidade e nos conduzem às zonas suburbanas mais rurais e tranquilas.
Durante as manhãs dos fins-de-semana bem podíamos afirmar estar num país muçulmano, sikh ou africano, a julgar pelas massas de gente vestida a rigor, burkas e turbantes incluídos, que se movimentam a caminho dos cultos e reuniões étnicas para todas as medidas e gostos. E para as novas igrejas que enchem o Reino Unido de imigrantes missionários munidos de vistos de estudantes que lhes permitem trabalhar apenas 20 horas semanais para se sustentar, a uma média de 100 libras semanais onde os quartos alugados cobram no mínimo esse montante para alojar tantos quantos caibam em dois metros quadrados de espaço.
É neste ambiente que o Boris londrino cai como um arcanjo salvador, sabe-se lá de que maiorias ou minorias. E que o senhor Brown luta para convencer os britânicos de que ainda é capaz de dar a volta a uma economia que afinal apenas espelha uma novem ordem mundial para a economia e para a sociedade.
Digam lá se não é o mesmo que tomar chá de cogumelos e esperar em fugaz delírio que tudo acabe, de uma maneira ou de outra. Não me espanta pois que as igrejas, mesquitas e outros locais de culto se encham de gente à procura da vida com que sonham numa qualquer terra prometida.
O prometido é devido sim, mas há que ler as letrinhas menores do contrato...
Podia estar a pensar no Outono em Pequim e no Boris Vian, com pneus que empalidecem de susto e outras alucinantes viagens pelo imaginário livre de um criador. A realidade é que nada tem de criativa a loucura que se pressente no carismático líder conservador que acaba de ganhar a corrida pelos destinos da nova Londres.
Boris Johnson faz-me lembrar Samora, Fidel, Mugabe, Chavez e outras explosivas estrelas que prometiam novos luzeiros em céus de mudança e afinal arrastavam consigo a morte e a decadência nos seus rasgos luminosos de estrelas cadentes.
Talvez precisemos destas estrelas moribundas para entender a necessidade de mudar radicalmente a nossa vida. E entende-se assim um Boris em Londres, uma metrópole em profunda mudança, onde as dissonâncias sociais se tornam cada vez mais patentes e reflectem o novo Reino Unido.
Uma economia forte que soube atrair imigrantes e aproveitar a mão-de-obra barata de todo o mundo, está em queda virtiginosa e a braços com uma tradição democrática agora engenhosamente usada por esses mesmos imigrantes para fazer valer os seus direitos de uma forma que ameaça preverter algumas das mais importantes leis britânicas sobre a liberdade e direito de expressão.
E agora um mayor conservador, com a habilidade de nos desconcertar com as suas saídas pouco convencionais, tão semelhante aos novos inquilinos de Londres, capaz de cativar simpatias de um eleitorado ainda mal definido à luz da recente demografia da capital de todas as nações.
Porque é preciso passear por Londres durante o dia para assistir ao desfile de todas as nacionalidades ali representadas. É preciso circular ao fim da tarde para ver a cidade transformar-se como do dia para a noite, observar o êxodo dos ingleses para a periferia, o recolher dos trabalhadores diurnos e a lenta chegada dos que vivem de noite na cidade.
À excepção de dois ou três bairros boémios, Londres nocturna pertence a bandos, bolsas de indivíduos que se aprende a evitar. Cinemas e teatros têm sessões "tardias" que começam às sete da tarde e terminam às nove, a tempo de se apanhar os transportes que saem da cidade e nos conduzem às zonas suburbanas mais rurais e tranquilas.
Durante as manhãs dos fins-de-semana bem podíamos afirmar estar num país muçulmano, sikh ou africano, a julgar pelas massas de gente vestida a rigor, burkas e turbantes incluídos, que se movimentam a caminho dos cultos e reuniões étnicas para todas as medidas e gostos. E para as novas igrejas que enchem o Reino Unido de imigrantes missionários munidos de vistos de estudantes que lhes permitem trabalhar apenas 20 horas semanais para se sustentar, a uma média de 100 libras semanais onde os quartos alugados cobram no mínimo esse montante para alojar tantos quantos caibam em dois metros quadrados de espaço.
É neste ambiente que o Boris londrino cai como um arcanjo salvador, sabe-se lá de que maiorias ou minorias. E que o senhor Brown luta para convencer os britânicos de que ainda é capaz de dar a volta a uma economia que afinal apenas espelha uma novem ordem mundial para a economia e para a sociedade.
Digam lá se não é o mesmo que tomar chá de cogumelos e esperar em fugaz delírio que tudo acabe, de uma maneira ou de outra. Não me espanta pois que as igrejas, mesquitas e outros locais de culto se encham de gente à procura da vida com que sonham numa qualquer terra prometida.
O prometido é devido sim, mas há que ler as letrinhas menores do contrato...
domingo, 20 de abril de 2008
onde está a pobreza, Maria?
Pelas conversas de três dias, Maria Cavaco Silva concluiu que a pobreza na Madeira "não tem significado. Há uma nova realidade muito semelhante ao que acontece no Continente (
) Mas situações de miséria, miséria total
e eu tive a grande preocupação em perguntar isso, a Segurança Social tem a situação totalmente levantada, as pessoas trabalham em rede, estão muito bem articuladas", reiterou. A CDU deixou um apelo ao Presidente da República para que a Madeira integrasse um roteiro presidencial para a inclusão. "Foi a ele, não a mim. Se ele vier, eu venho logo", disse. (DN, 20-04-2008)
Não deixa de me desconcertar a facilidade com que figuras públicas produzem enormidades como estas. E não há quem as contradiga, claro, porque os jornalistas em Portugal são, cada vez mais, relatores de inaugurações e festinhas de tapas e perfumes caros.
Está na crista da onda, a senhora, a das elites governantes mundiais que, depois de ignorarem durante mais de duas décadas os relatórios da ONU e de outras entidades, alertando para a inevitável "subida" dos pobres para o Norte, para os países mais ricos, vêem agora as suas economias em franca derrapagem com a entrada maciça dos imigrantes fugidos à pobreza "sem significado".
Quiseram aproveitar a mão-de-obra barata e submissa para fazer crescer os seus negócios? Olha que bela ideia... Só que se esqueceram que quem não dá, não recebe. Pagam pouco, desceram o nível salarial dos imigrantes e, consequentemente, dos cidadãos nacionais e, agora, com o poder de compra muitíssimo abaixo do que estavam habituados, quem é que faz andar o negócio? Ai, Jesus, que vem aí a crise, a nova ordem económica e social, as mudanças há tanto tempo preconizadas...
Governar é prever, não é? Para quem, afinal?
Cara senhora Maria Cavaco Silva: vou começar a coleccionar fotos da pobreza na Madeira, junto-as todas num belo quadro pop à maneira das latinhas Campbel dos Warhol deste mundo (eu sei que a senhora se arroga o gosto pela Arte) e envio-lho para se entreter como fazem as crianças com os puzzles do Wally.
O secretário regional dos Assuntos Sociais da Madeira afirmou esta terça-feira que 18 por cento da população nesta Região vive com rendimentos iguais ou inferiores ao salário mínimo regional, dos quais 4,7 estão abaixo do limiar da pobreza.
Não deixa de me desconcertar a facilidade com que figuras públicas produzem enormidades como estas. E não há quem as contradiga, claro, porque os jornalistas em Portugal são, cada vez mais, relatores de inaugurações e festinhas de tapas e perfumes caros.
Está na crista da onda, a senhora, a das elites governantes mundiais que, depois de ignorarem durante mais de duas décadas os relatórios da ONU e de outras entidades, alertando para a inevitável "subida" dos pobres para o Norte, para os países mais ricos, vêem agora as suas economias em franca derrapagem com a entrada maciça dos imigrantes fugidos à pobreza "sem significado".
Quiseram aproveitar a mão-de-obra barata e submissa para fazer crescer os seus negócios? Olha que bela ideia... Só que se esqueceram que quem não dá, não recebe. Pagam pouco, desceram o nível salarial dos imigrantes e, consequentemente, dos cidadãos nacionais e, agora, com o poder de compra muitíssimo abaixo do que estavam habituados, quem é que faz andar o negócio? Ai, Jesus, que vem aí a crise, a nova ordem económica e social, as mudanças há tanto tempo preconizadas...
Governar é prever, não é? Para quem, afinal?
Cara senhora Maria Cavaco Silva: vou começar a coleccionar fotos da pobreza na Madeira, junto-as todas num belo quadro pop à maneira das latinhas Campbel dos Warhol deste mundo (eu sei que a senhora se arroga o gosto pela Arte) e envio-lho para se entreter como fazem as crianças com os puzzles do Wally.
O secretário regional dos Assuntos Sociais da Madeira afirmou esta terça-feira que 18 por cento da população nesta Região vive com rendimentos iguais ou inferiores ao salário mínimo regional, dos quais 4,7 estão abaixo do limiar da pobreza.
Francisco Jardim Ramos falava na abertura de um colóquio sobre «Práticas de Intervenção Social» que no Funchal.
O governante referiu que os 4,7 por cento vivem com menos de 360 euros por mês e que o Centro Regional da Segurança Social «tem, neste momento, 7.885 beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI)».
Fonte: Agência Lusa (21 de Novembro de 2007)
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
pequenos sinais de perigo
Cartoon de Paresh Nath, «National Herald»
A nossa memória distrai-se com tanta notícia, com tanto acontecimento, com tanto telejornal.
O certo é que a recém-declarada independência do Kosovo pode bem ser também o mais claro sinal de que o mundo se prepara para uma nova clivagem, com os EUA e a UE a tomar partido pelo Kosovo, e a Rússia e a China a torcer o nariz e a afirmar que a lei não é apenas a que o Ocidente entende.
E aqui a Europa tem de se lembrar que todos os seus conflitos maiores começaram exactamente nos Balcãs. As duas Grandes Guerras tiveram origem em lutas intestinas naquela região e não está fora de causa que esta questão seja mais uma chama perto do rastilho.
Até porque a economia europeia está a precisar de uma sacudidela e toda a gente sabe, ou devia saber, que as guerras não se fazem porque alguém decide que uma fronteira não está bem desenhada assim e ficaria muito melhor assado. Não, as guerras não acontecem assim.
Por trás de uma guerra está o imenso dinheiro necessário para a iniciar, as inúmeras indústrias que de repente recebem um incremento de actividade, das águas engarrafadas às simples embalagens plásticas para todo o tipo de produtos, do armamento às peças para camas, carros, tendas, refeitórios, estradas, pontes, abrigos, medicamentos, hospitais e organizações não-governamentais.
E depois da guerra, que destrói gente mas, sobretudo, destrói construções, equipamentos e infra-estruturas, adivinhem quem investe e reconstrói e permanece nos locais como accionista...
Portanto, além da sacudidela de que a Europa precisa, há que considerar as sacudidelas da Rússia, que tem de se reorganizar também, da China, que quer ser vista e ouvida, além dos EUA, que têm de arranjar uma guerra mais próxima que a do Médio Oriente para fazer dinheiro.
A questão agora é: voltamos à guerra fria, ou andamos à estalada a sério? O que irá render mais a curto, a médio e a longo prazo?
Entristeço-me pelos jovens de hoje, que entre o desemprego e uma carreira de armas forçada, numa era em que as seguradoras tendem a substituir a responsabilidade civil dos estados, podem ter a certeza que nunca ninguém aceitará fazer-lhes um seguro de vida ou de saúde. A geração a seguir poderá, no entanto, colher os frutos dos conflitos e esbanjá-los numa segunda versão da dolce vita.
A nossa memória distrai-se com tanta notícia, com tanto acontecimento, com tanto telejornal.
O certo é que a recém-declarada independência do Kosovo pode bem ser também o mais claro sinal de que o mundo se prepara para uma nova clivagem, com os EUA e a UE a tomar partido pelo Kosovo, e a Rússia e a China a torcer o nariz e a afirmar que a lei não é apenas a que o Ocidente entende.
E aqui a Europa tem de se lembrar que todos os seus conflitos maiores começaram exactamente nos Balcãs. As duas Grandes Guerras tiveram origem em lutas intestinas naquela região e não está fora de causa que esta questão seja mais uma chama perto do rastilho.
Até porque a economia europeia está a precisar de uma sacudidela e toda a gente sabe, ou devia saber, que as guerras não se fazem porque alguém decide que uma fronteira não está bem desenhada assim e ficaria muito melhor assado. Não, as guerras não acontecem assim.
Por trás de uma guerra está o imenso dinheiro necessário para a iniciar, as inúmeras indústrias que de repente recebem um incremento de actividade, das águas engarrafadas às simples embalagens plásticas para todo o tipo de produtos, do armamento às peças para camas, carros, tendas, refeitórios, estradas, pontes, abrigos, medicamentos, hospitais e organizações não-governamentais.
E depois da guerra, que destrói gente mas, sobretudo, destrói construções, equipamentos e infra-estruturas, adivinhem quem investe e reconstrói e permanece nos locais como accionista...
Portanto, além da sacudidela de que a Europa precisa, há que considerar as sacudidelas da Rússia, que tem de se reorganizar também, da China, que quer ser vista e ouvida, além dos EUA, que têm de arranjar uma guerra mais próxima que a do Médio Oriente para fazer dinheiro.
A questão agora é: voltamos à guerra fria, ou andamos à estalada a sério? O que irá render mais a curto, a médio e a longo prazo?
Entristeço-me pelos jovens de hoje, que entre o desemprego e uma carreira de armas forçada, numa era em que as seguradoras tendem a substituir a responsabilidade civil dos estados, podem ter a certeza que nunca ninguém aceitará fazer-lhes um seguro de vida ou de saúde. A geração a seguir poderá, no entanto, colher os frutos dos conflitos e esbanjá-los numa segunda versão da dolce vita.
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