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terça-feira, 12 de outubro de 2021

amália, amália e amália

 

"Tragédia" by Rui Aço

Amor a sério e de verdade ama bom e mau, alegrias e tristezas, dúvidas e certezas.
Quem ama Amália faz disso fado, ligeiro, alegre ou brejeiro, triste ou inconformado, pujante ou descontente. Como deve ser a vida e quem dela participa e não espera por ninguém para fazer o que tem de ser feito.
Assim dito, quem pinta Amália busca todas as suas facetas, como faz Rui Aço nesta exposição que vai abrir com oito trabalhos no próximo dia 23 na Galeria de Arte do Aroeira Lisbon Hotel, na Charneca da Caparica.
De Rui Aço já admiro há muito a crescente intensidade com que aborda a tela ou o papel, e a transforma num passeio determinado, alegre e desinteressado dos conceitos sociais que travam e calam a criatividade.
Em "Amália, Sísifo e Eu... Ou a Existência em busca da Essência", desce a Rainha, ou Santa, do seu pedestal e segue, com ela pela mão, pelo carreiro tortuoso da sua outra vida, a real. 
Não lhe oferece ramos de flores ou palmas, mas desenha e dá cor aos momentos que a tornaram humana e tão capaz de entender a verdadeira alma do fado. Amália é grande, mesmo na tragédia que a podia ter engolido como a tantos outros, nos implacáveis arbítrios da vida.
Neste conjunto muito belo, e também muito divertido, sobre Amália e os fados do pintor, há ousadia e despudor. E há, sobretudo, vontade de arrasar os lugares comuns que se apoderaram da sua imagem.
Rui Aço não oferece guitarras bonitinhas, nem perfis da fadista a erguer a voz aos céus. Anda com ela pela sopa da pedra que é a vida e as suas facetas menos celebradas.
O resultado é, sem dúvida, uma Amália que cede a todos os seus impulsos por também serem da sua vontade. Que nos momentos mais negros encontra coragem para renascer e fazer ecoar a sua voz na mesma frequência do que atormenta todos os mortais.
Aço poderia ter pintado mil detalhes da vida desta mulher que, como um arquétipo, representa parte da vida de todos, aqui e além mar. Mas escolheu oito, que é um número perfeito, das oito virtudes que se conquistam com o trabalho correcto. 
Amália, curiosamente, deriva de amal (trabalho). E estes trabalhos de Rui Aço são, sem dúvida, uma conquista e uma oferta exuberante que faz à diva. Viva!

domingo, 13 de abril de 2014

did I make a beautiful picture?



"What concerns me when I work, is not whether the picture is a landscape, or whether it's pastoral, or whether somebody will see a sunset in it. What concerns me is - did I make a beautiful picture?" - Helen Frankenthaler (N. New York, 12 de Dezembro de 1928 - M. New York, 21 de Dezembro de 2011)
("O que me preocupa quando trabalho não é se o quadro é uma paisagem ou uma pastoral, ou se alguém verá nele um pôr do Sol. O que me preocupa é - fiz um quadro bonito?")

Fiz da minha vida uma coisa bonita? Senti-me feliz? Deixei-me inebriar pela cor, pela alegria, pelas experiências que surgiram no meu caminho? Tive a presença de espírito necessária para escolher a parte da minha vivência que é completamente real, em vez de me deixar arrastar pelas fantasias do medo? Fiz o que me apeteceu ou receei tudo deixei-me prender nos medos imaginários de um futuro que só existe na minha cabeça?
Viver com cor, com certezas, com possibilidades é o nosso destino. Não o do atoleiro da falta de fé e de confiança.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

os outros artistas

"Playroom", by Marita Ferreira
Os artistas que morrem na miséria são um lugar-comum. Quando isso não acontece, é esperado que se suicidem, abusem de drogas e álcool, vivam vidas de deboche e sejam incapazes de gerir as suas carreiras. De lado fica o outro lugar-comum: o da marginalização das suas capacidades por quem acredita piamente no primeiro.
Pôr em prática alguma forma de arte implica, basicamente, ficar nas mãos dos predadores que usam os lugares-comuns acima descritos para menorizar e explorar as pessoas que se dedicam a qualquer forma de arte. Galeristas, agentes, produtores, editores e outros pseudo colarinhos-brancos da área intelectual não têm pejo em usar o trabalho alheio em proveito próprio, sem prestar a devida compensação a quem o produz.
Muito se brama contra os empresários de todos os segmentos produtivos, mas estes tubarões de capa intelectual, que se choram e alardeiam a sua indignação contra os muitos atentados ao trabalho artístico, cobram percentagens inconcebíveis, fogem ao pagamento de direitos, exploram sem piedade o trabalho dos outros e desculpam com gastos astronómicos o incumprimento de condições contratadas.
Acima da lei, estes verdadeiros boémios da vida artística promovem os estilos de vida que aos artistas se atribuem, sustentados com os rendimentos do trabalho alheio, contribuindo para a sua fama, mas não para o seu proveito.
Ser artista é, assim, uma forma de ser confundido com o desregramento de quem não o é. Trabalhar honestamente para resultados que não sejam simplesmente diletantes e pretensiosos, exige disciplina, afinco e entrega total. Pouco tempo fica para festas e orgias. No entanto, quando elas acontecem, ninguém menciona agentes e empresários, mas os soantes nomes ligados a artes várias.
Entretanto temos fenómenos como editoras de grande prestígio que publicam todos os grandes poetas de língua portuguesa e nunca lhes pagam um cêntimo de direitos a pretexto de que a poesia não se vende. Fica o enigma de como pagam esses editores as suas contas. Os livros são, aliás, um mistério insondável de desgraças que sustenta, no entanto, um segmento de mercado florescente para os grandes grupos e empresas.
O mesmo se aplica às outras artes, em que não são os artistas a colher os melhores frutos do seu trabalho, pelo menos nunca antes de fazer prosperar dezenas de outros indivíduos. A lei acoberta, no entanto, as máquinas de fazer dinheiro nas áreas artísticas, consentindo na exploração do talento. Assim como o desampara sempre que uma empresa de edição ou produção encerra as suas portas, dando primazia a todos os fornecedores e esquecendo os que em primeiro lugar contribuiram para a criação de dezenas de postos de trabalho durante anos a fio.
A justiça é um conceito mental elaborado, que não afecta a maioria das pessoas, mas como agora está na moda combater os estigmas, por que não denunciar este? Artistas não são desgraçados incapazes e ao nível dos sem-abrigo. São geradores de riqueza tratados como escravos e abandonados à sua sorte e má fama sempre que necessário. A seu favor não têm sequer a segurança de fontes de rendimento fixas, mesmo que diminutas. Regulam-se os direitos de autor e há percentagens acordadas para o seu valor, mas nunca ningém acorda sobre as outras percentagens geradas pela dos artistas e autores.
Há que concordar que, viver assim, da fama e do trabalho dos outros, é que é coisa de artista.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

o arrojo que falta

Não consigo resistir às imagens pintadas nas paredes a cair de armazéns e prédios devolutos. Traços seguros, ousados, capazes de atrair todos os olhares, mesmo que de reprovação. Há uma força contida nesta arte que muitas vezes falta nas galerias comerciais, espaços de artistas domesticados pela promessa de muitos euros e glórias póstumas. Não quero com isto dizer que os artistas não devam reivindicar para si os frutos do seu trabalho. Pelo contrário. O que é importante, para que isso aconteça, é que os galeristas deixem de pensar apenas em telas bonitas para decorar as salas de estar da morna classe média quase alta e comecem a reivindicar também arrojo e rebeldia, aquilo de que é feita a arte que fica e não se esquece na próxima leva de decoração caseira.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

a beleza



Surpreende-me a beleza contida em coisas simples. Surpreende-me o amor que suscita, a felicidade com que nos inunda. Quando os meus olhos encontram o belo, qualquer coisa desperta em mim, como se um sentido oculto se me revelasse nesse momento. E é com amor que partem os meus olhos para outros destinos. É com amor que prossigo a minha vida.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

mostro-me aqui



Mostro-me aqui - o meu universo azul (óleo sobre cartão)- num instantâneo do que me acode ao pensamento. Rostos e segmentos, fragmentos de cor e forma, peças de um puzzle à espera de conclusão.
É um quadro em movimento, sempre em (r)evolução. As palavras são demasiado lentas para acompanhar este universo. Enquanto o meu olhar se fixa numa das suas ínfimas parte e verbaliza o seu conteúdo, inúmeros outros segmentos já se mexeram, desapareceram ou se transformaram noutros.
É impossível fixar neste instantâneo a realidade, pois no começo era uma coisa e durante as pinceladas apenas se apanham fragmentos e, ao terminar, já não é nada do que fica na tela.