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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

qualquer dia...



Já não se pode dizer que se é ateu sem que nos caia metade do mundo em cima. Parece mal dizer ao vizinho do lado, que descobriu Jesus recentemente e foi miraculosamente atacado por uma surdez que o impede de ouvir outros argumentos que não os seus, que não se acredita em entes superiores. Também já não se diz nada quando, na rua ou numa loja qualquer, alguém de turbante ou com um cruxifixo ao peito aproveita para nos esfregar na cara todos os milagres e benesses de uma vida religiosa. Evita-se abrir a boca quando se sabe que alguém é deste ou daquele credo, sob pena de incorrer numa discussão malsã e indesejada, se a outra parte descobre que não pertencemos a nenhum credo, seita ou grupo evangélico. Já nem se contestam em voz alta a regressão dos direitos humanos a que se sujeitam as mulheres que aderem a cultos na esperança de assim preencherem um pouco mais as suas vidas já privadas de certas regalias.
Como é que se diz a uma pessoa religiosa, que o facto de ela aceitar um dogma não implica que toda a gente seja obrigada a fazer o mesmo? Como é que se explica que a palavra "não" tem o mesmo significado num caso de violação sexual e num de violação de direitos?
Como é que, de repente, por se ser religioso, se pode ser intolerante para todos quantos não o são?
Que deus mesquinho e mal disposto aponta para quem nasceu descrente de outras forças que não a sua e escreve pela mão de outros que esse ser humano deve ser perseguido e privado dos seus direitos essenciais, em nome de um punhado de religiões que riscaram a liberdade de expressão dos seus catecismos?
Que deuses serão estes que supostamente conduzem os seus fiéis a abusos de poder em seu nome e lhes dão carta branca para inomináveis atitudes que esses mesmos fiéis jamais aceitariam para si?
Que medo é este que se gera nos nossos dias quando alguém diz que não acredita na bondade desses deuses e é capaz de silenciar as mesmas vozes que defendem direitos e liberdades e conquistas sociais que tantos sacrifícios exigiram para se atingirem?
Por que é que ninguém diz que um escritor tem o direito de não acreditar num determinado deus e até de ter uma opinião sobre ele, sem que isso o torne numa vítima de quem dele discorda?
Porque, se a divindade se espelha nesta gente que a representa, então livrai-nos da salvação...