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domingo, 15 de abril de 2018

uma questão de lógica


Por uma questão de lógica, se condenamos ataques e bombardeamentos, que sentido faz atacar ou bombardear quem faz o mesmo? Só se for o de abdicar do que achamos certo para descer de nível num jogo que, à partida, não se quer jogar.
Que sentido faz, na mesma linha lógica, condenar à morte quem mata? Ou ser a favor da pena de morte e depois condenar o aborto como um assassínio? 
Olho por olho e dente por dente é uma resposta de quem está acossado, de que não vê alternativas. No entanto, há sempre outra forma de ver as coisas e não é perpetuando uma cadeia de agressões que se vai à origem dos problemas para mudar o padrão, ou paradigma, que nos aprisiona numa realidade que não se quer viver.
Tomar partido também não resolve um conflito. Apenas adiciona mais peso a um dos pratos da balança, sem diluir o que divide, sem conduzir uma outra direcção.
Estaremos condenados a debatermo-nos ciclicamente com estes impulsos irracionais, em vez de reconhecer o medo pelo seu real valor, ou falta dele?

domingo, 1 de abril de 2018

ovemos


É assim que se estabelecem as ideias feitas, com uma mão cheia de ovinhos simpáticos, decorativos e doces, tudo para dourar a pílula que, neste caso, é o coelho. Que vem carregadinho de ovos para as crianças, mas... Só para as boas, porque há criancinhas más e sem direito a festejar num dia para esse fim.
Claro que elas, com a sua clarividência natural, arregalam os olhos, confessam-se boas e o coelho lá as premeia com a desejável recompensa.
A moral da história é que existem sempre pessoas capazes de julgar e castigar as outras, que as crianças têm de ser todas boas, ou melhor, capazes de se fazer passar por tal para satisfazer um conjunto de julgamentos de valor imaginado como o adequado, mesmo quando só representam interesses parciais. 
Sobretudo, tenham medo, muito medo de desagradar aos outros. Um dia de festa não é para todos e para reestabelecer a comunhão entre todas as almas. É, pelo contrário, aproveitado lembrar que a espada continua pendurada sobre qualquer cabeça.
Na verdade, todos merecemos tudo, mesmo que às vezes não se faça muito para isso. Mas essa é a beleza da generosidade e da capacidade de ver além dos momentos em que erramos para aprender mais e mais. 
A meritocracia é sempre parcial, caprichosa e só se utiliza quando serve grupos de poder. Se nos agarramos a ela perdemos a visão de conjunto, em que reconhecemos o valor intrínseco de cada indivíduo.
Agora, ovemos: quantas mais vezes seremos capazes de estender generosamente uma guloseima a quem aparentemente não a merece, só porque queremos acreditar que também podemos ser melhores do que um coelho?

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

o assédio e a outra maneira de ver

imagem daqui

O assédio, ou o medo em todas as suas versões (incluindo a da raiva e a da reacção não assertiva), tornou-se o valor-guia de todas as interacções. Mesmo buscando desesperadamente por alguma coisa diferente, pouca gente se lembra da gentileza e do seu poder, de que a partilha é um acto de amor e que a sua prática o dissemina. Afinal, ovelha mansa mama do seu e do alheio.
Há outra maneira de ver as coisas, é possível sentir e agir de forma diferente. Mas quanto é que estamos dispostos a investir nisso e desistir das vinganças, das razões do nosso umbigo, do orgulho e da teimosia para apostar na tranquilidade e na boa relação com tudo e todos?
Trabalho de buda, de santo, dirão. Mas é uma escolha, se não suportamos mais o conflito e as suas devastadoras consequências na nossa vida. 
Achar que ainda aguentamos, que temos de aguentar, quando tudo já se desmoronou à nossa volta, quando já somos incapazes de olhar em volta com uma centelha mínima de esperança, é suicídio, não coragem.
A bravura está aqui em desistir do sistema louco e caótico que nos impõem e permitir que outros valores, que outras ideias tomem o lugar das que nos enlouquecem. 
Somos capazes disso? Estamos suficientemente esgotados para permitir finalmente que uma sensação de alívio nos preencha e dê os primeiros passos para restabelecer a paz dentro de nós? Queremos realmente isso?
Acho que queremos. Apenas não sabemos ainda como. Há que fazer a pergunta. Abrir a janela e gritar: como é que faço, como é que me livro deste sistema de pensamento que me sufoca? 
Tem de haver outra maneira de ver as coisas. E há.