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terça-feira, 28 de maio de 2019

opressão

"opressão" by MMF
Há que enunciar as coisas com clareza. Honestidade também. Só dessa forma se entendem conceitos simples e profundamente esclarecedores. Como o da discriminação, por exemplo, que só tem um sentido: de cima para baixo. Ou seja, de quem pode para quem pode menos. Simples opressão, só porque sim, porque se pode, porque ninguém se atreve a contradizer um mau hábito, uma cobardia aplicada por quem está numa posição de força a quem está menos forte. Pela insuportável dor que a diferença parece provocar em quem aparentemente é muito mais forte. No entanto, a opressão é um ataque e é sabido que só ataca quem medo. E que tanto temem então os poderosos? E os que não atrevem a contestar os poderosos?
Foram precisos séculos para reconhecer que a discriminação contra os negros era uma opressão condenável. E ainda não se erradicou. Quantos mais séculos serão necessários para chamar pelo nome a opressão contra as mulheres, minorias sexuais, étnicas, religiosas ou, simplesmente mais livres de preconceitos paralisantes? Porque é paralisante falar em discriminação e não, simplesmente, em opressão. 
Em rigor, ninguém se pode considerar consciente e honesto se não entender esta verdade. O simples facto de se viver numa sociedade em que prevalece a parte masculina da Humanidade é uma prova inequívoca de que a opressão é uma forma de estar muito bem aceite. E quem é que pode, conscientemente, declarar-se livre de preconceitos sem mentir descaradamente a si e aos outros?


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

como num jogo

"como um jogo" by MMF

Como num jogo, leva-se o absurdo a um novo nível de dificuldade, no sentido em que lhes falta cada vez mais o sentido. E, no entanto, condenamo-nos a permanecer no jogo e a insistir em encontrar-lhe algum sentido. A verdade é que, se ele existe, está tão camuflado em camadas e camadas de hipóteses, que só como na lotaria e com uma improvável sorte acertamos na mouche. 
Ora veja-se, por exemplo, os serviços públicos que já nada têm de uma coisa ou outra, entregues que estão à cupidez privada; um sistema político inoperante e desacreditado, que apesar disso se mantém como uma regra de jogo de tabuleiro, em que o acaso dos dados decide arbitrariamente a jogada seguinte; uma comunicação social que virou entretenimento e, para todos os efeitos, de muito mau gosto e qualidade duvidosa; marcas e companhias internacionais de uma venalidade sem limites.
Pior ainda, jogadores que batem com a mão no peito e reclamam uma honra que não podem sustentar, num sistema desenhado para nunca terem razão, a menos que isso sirva os interesses de alguém que não tem a mínima intenção de os partilhar.
Gente, voamos num ninho de cucos em que o jogo de casino para os pobres de espírito é que está a dar. E para os outros, resta-lhes sorrir e fazer de conta que concordam, que é o que fazem os subjugados antes de cortar os bofes aos cães raivosos dos seus donos. É o princípio da sublevação, o sinal que correm ventos de mudança e, um dia, ao acordar, o mundo está às avessas e pronto para a turbulência da imposição de novas regras.
Nem sequer de novos paradigmas, porque esses são dependentes de honestas epifanias correspondentes a um apuramento de consciência, um processo pessoal que não se deve esperar de movimentos de massas.
Como num jogo, se não nos diverte, não nos serve para nada.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

a podar é que a gente se entende

"alive and free"
A simples verdade é, que para nosso descanso, gostamos de podar tudo à nossa volta. Não suportamos a exuberância da variedade e preferimos domar os ramos que escolhem caminhos diferentes da ordem que consideramos aceitável.
Depois queremos muito ter mais escolhas, mas vamos eliminando as que achamos estar a mais, sem gastar um momento a ponderar se não estarão defronte dos nossos olhos para alargar o nosso leque de possibilidades.
Julgamos mas depois queixamo-nos imenso de que nos ceifam as escolhas. Fazemo-lo todos os dias e não admitimos que a redução é posta em prática, em primeiríssima mão, por nós. A responsabilidade atira-se, irresponsavelmente, para os outros, para o exterior, para a rua. 
Como se não bastasse essa cegueira auto-imposta, ainda levamos a loucura ao ponto de deixarmos que um grupo de ceifeiros manipule uma entidade estatal, também da nossa responsabilidade, que todos os dias se ocupa a criar regras de normalização que nos transforma a todos em embalagens do mesmo tamanho, com o mesmo peso e códigos de barra para nada falhar ao seu controlo.
Que triste imagem temos de nós mesmos e que catalizador exponencial é o menorizante conjunto de regras que admitimos para a interacção social.
Em contacto com os outros, admitimos, relutantemente, uma mão cheia de regras de funcionamento, qual delas a mais manietante. Dentro nós ainda vamos sonhando, mas com os outros temos regras de calabouço e é assim que nos sentimos em sociedade.
Em vez de aproveitar o ímpeto de possibilidades que uma maior liberdade, bem educada, nos concederia. 

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

o que importa é o coração

"O que importa é o coração" by MMF
No final do dia, o que importa é o coração. É a sensação de bem-estar por um dia bem cumprido, por se ter feito tudo o que foi possível fazer, em entrega total. Esse é o maior dos objectivos.
Não é fazer mais, mas o melhor possível. Sentir a alegria do instante em vez de ocupar a mente e o coração com objectivos irreais. Aproveitar cada momento vivido como uma dádiva que não se repete.
No final de tudo, é com o coração que queremos viver, é por ele que queremos tudo: a felicidade, as paixões, a entrega e a vertigem dos grandes saltos.
O bater do coração é o compasso certo para a nossa vida. Quanto mais erramos, mais oportunidades temos de rectificar o ritmo, de recomeçar mais e melhor.
No final do dia, tudo foi feito com honestidade, na melhor das nossas capacidades e podemos devolver a cabeça ao travesseiro com um suspiro de satisfação e a certeza que, de manhã, tudo volta a ser possível.
O que importa, sempre, é o coração e o que dele irradia. E assim seja.

quinta-feira, 21 de março de 2013

da paz

Não gosto de extremos. Comunistas e fascistas sempre tiveram para mim o contra do totalitarismo. E eu sou pela liberdade. Também não gosto de monárquicos porque acho que ninguém precisa de se pôr em bicos de pés se tiver uma boa auto-estima, nem acredito que o nascimento conceda outros direitos do que os de existir em igualdade de termos com toda a gente. E gente que acha que sabe, pensa ou pode mais do que os outros é sempre um triste espectáculo e exemplo de si mesma. Abomino igualmente o terrorismo e a pena de morte. Não me sinto obrigada a concordar ou a participar de nenhum deles e espero nunca estar na circunstância de ter de o demonstrar. Perante a escolha de matar ou sofrer a morte, espero ter a força de espírito necessária para abraçar o meu fim sem ter de passar pelo tormento de condenar outra pessoa a isso. Não gosto de extremos, mas entendo os contrastes e contra as atitudes radicais sugiro os limites, de preferência os pessoais, que são o único território natural de quem existe. Procurei sempre a paz, mesmo quando incapaz de agir em coerência com a sua experiência. Sou tranquila, mesmo quando a paixão parece sugerir o contrário. Quem me lê com honestidade sabe bem quem sou.