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quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

dias da mãe

"Day of the Angels" by MMF

Acabei de confirmar com a mana mais velha que hoje é feriado. Trabalhar em casa às vezes tem destas  coisas. Logo hoje, que tinha como agenda tratar de uma mão cheia de obrigações dos dias úteis. Não que este seja inútil.
É dia da mãe, lembrou a mana, com uma pinga de tom de ralho. Dia de Nossa Senhora da Ascensão.
Está bem, está bem. Troco a Ascensão com a Conceição. Mas faz sentido que a Conceição ascenda. Como todas as mães. Como a Aidinha, minha mãe, que queria continuar a ser lembrada no dia da Mãe em Maio, porque estava habituada ao dia 8 de Dezembro. E depois amuava se não lhe dávamos também um beijo nessa data.
Portanto, cá vai um beijo para ela, que gostava tanto destes beijos de lembranças.
E para todas as mães adoradas que ascendem.



⎼⎼

Mais um ralho: 
Vai lá emendar o teu texto porque ainda pensam que fui eu que te disse que era dia da Nossa Senhora da Ascensão
Pronto, estou aqui a retratar-me: a mana tem razão, troquei as santas, mas não me arrependo nada de as ter posto no altar que venero. O das mães. O das santas que são todas mães, de uma ou de outra forma. A Santa Conceição que me perdoe, pronto. Espero ter aprendido o suficiente para não voltar a tentar pôr outra santa no seu lugar. 
Confesso que esta multiplicação muito interessante dos nomes das santas me encanta. Faz-me lembrar o múltiplo papel de todas as mães. E das mulheres que, mesmo não sendo mães, partilham a mesma forma de estar. 

quarta-feira, 18 de março de 2020

planos de fuga irracionais

"Mães e cobras" by MMF
A propósito de pragas e medos irracionais, recordo que a minha mãe sempre teve uma relação complicada com cobras. Lisboeta nada e criada, essa era uma parte da aventura africana que nunca a encantou.
Mas havia outras que despertavam nela aptidões insuspeitadas numa citadina que aos vinte e dois anos aterrara no mato profundo dos planaltos moçambicanos. Uma delas era a sua habilidade para fazer vingar qualquer tipo de planta, muito útil quando não há supermercados ou cadeias de distribuição num raio de muitos milhares de quilómetros e uma mesa de família para abastecer todos os dias.
Os jardins e as machambas (hortas) das casas por onde passavam eram sempre uma delícia, cheios de plantas ornamentais para todos os cantos da casa e hortícolas que abasteciam a nossa e muitas outras casas.
De manhã, a minha mãe vestia-se a rigor para cumprir as suas obrigações de fada verde do lar, com um bonito quico de lona na cabeça, uns óculos escuros dignos de vedeta de cinema e luvas para proteger as mãos (a vida social no mato era exigente, acreditem ou não). Saía para apanhar o que se servia à mesa do almoço e  do jantar, e o que havia de embelezar as jarras de casa.
Um dia, nesse seríssimo ritual matutino, equipada com um cesto de verga, tomou o caminho da machamba (horta) e foi directa às cenouras. Depois aos rabanetes e, já não me lembro o que ficava a meio caminho do que ia ser o resto da nossa salada e mais ou menos o meio dos canteiros, na ordem que ela determinava sempre para que tudo crescesse como devia.
Foi nesse momento que o rapaz que tinha a seu cargo as regas e outros cuidados, lhe gritou: "Senhora, cobra, senhora!"
Ninguém calcula o que uma mãe de família pode elevar-se no ar com um aviso intempestivo desta natureza. Nem, cenouras e outros hortícolas, mais a cestinha, tudo pelo ar, a velocidade que uma lisboeta consegue imprimir à sua fuga irracional de um animal rastejante.
O pior, no entanto, é que o rapaz, observando que cobra e senhora tinam optado por fugir na mesma direcção, voltou a gritar: "Aí, não! Para aí, não!"
Alerta e obedientes, a minha mãe e a cobra mudaram imediatamente de direcção. A mesma. Novo grito do rapaz voltou a alertá-las para o perigo e de novo corrigiram a rota, instintivamente, na mesma
direcção.
Só o desespero do rapaz, que entretanto alcançou a minha mãe e a conduziu pelo braço para fora da machamba, permitiu que a correria não acabasse em tragédia, para ela ou para a cobra. Unidas pelo pânico, ambas tinham posto em prática planos de fuga idênticos e aumentado o risco que corriam.
Depois desse incidente, e sem nenhuma vontade de arriscar a sua segurança pessoal em nome da salada, a minha mãe esperava pacientemente que alguém lhe garantisse que o caminho estava livre de cobras paniquentas que não sabiam aguardar a sua vez de passear pela frescura dos canteiros.