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"escolhas" |
Venha o diabo e escolha, assim como se a culpa fosse coisa exterior e nada tenha que ver com as decisões tomadas por cada um. O deus de dentro cede assim facilmente o lugar ao capeta, numa espécie de outing involuntário ou inconsciente do pior a que assistimos na vida. Logo a seguir venha a divindade de novo, redimida e santa, que em nada se assume no que a sua mão esquerda acciona. Divertido e fácil este jogo duplo em que tudo se separa no aceitável e na sua contrária. Sem qualquer preocupação em admitir a coexistência das duas forças opostas dentro de cada um. Nas regras desse jogo não há lugar para as pontes esclarecedoras da indiscutível necessidade de ambas faces da moeda. A obsessão em dividir tudo entre bom e mau cega a visão do caminho do meio e para a compreensão de que o mau está ali não como o diabo, mas como uma ferramenta para nos desembaraçar de soluções que não o são, simplesmente. Como a carta da morte que nos confronta com a necessidade de mudança e apenas se entende como tragédia e fim. Fim de um caminho, de um processo, mas não de tudo o resto. Há sempre mais entre a terra e o céu do que o olho abarca. A escolha da cegueira ligada ao ver para crer, quando de facto não se quer ver. A preguiça do medo, essa invenção que também colhe, como a gigantesca foice da morte. No final, nenhuma ameaça se mantém. O botão de reinício salva-nos sempre do inexistente fim, em transformações que se teima não entender. É tudo uma questão de perspectiva, de redireccionar o olhar. Venha, mais uma vez, o diabo e escolha, nessa parte em negação de cada um de nós.