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terça-feira, 28 de agosto de 2018

sou um post-it

"I am a post-it"
Sou um post-it. Passo um quarto do meu dia a lembrar uma série de gente toda a sorte de coisas. Quando páro, vejo-me às aranhas para lembrar nomes, títulos, palavras vulgares para objectos do dia-a-dia. Resumindo, também preciso de um post-it.
Devo consultar um oráculo para descobrir o meu post-it pessoal? Um centro de meditação transcendental? O meu médico de família, que me aterroriza com a sua hipocondria e tendência para prever doenças que não são do meu interesse?
Por uma questão de senso comum, será melhor enumerar as qualidades expectáveis num post-it pessoal, tal como um invulgar respeito pelo meu silêncio, capacidades divinatórias excepcionais, para evitar irritantes explicações sobre o que pretendo que me lembre? Ou a relevância de não usar uma cola com componentes passíveis de induzir alergias e outros males menos conhecidos?
É uma maçada entrar no universo dos post-it e descobrir todas as barreiras físicas, emocionais e mentais a superar. Não admira que tenham escolhido o amarelo para estes papeizinhos, como aviso para a aventura em que se embarca a partir do momento em que começam a utilizar-se.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

a vida como uma lanterna chinesa

"Inner Garden Beauty" (acrílico sobre tela - 90 x 90 cm) - MMFerreira
Imaginemos que a vida, o universo, a história, tudo o que conhecemos e podemos vir ainda a conhecer está armazenado no tubo de papel de uma lanterna chinesa, uma dessas com pregas que se desenrolam para lhe dar volume antes de se pendurar com uma lâmpada lá dentro. Imaginemos que, ao espreitar lá para dentro, vemos tudo o que fomos, o que somos e o que suspeitamos que ainda viremos a saber. Vemos também os sítios onde estivemos e onde ainda gostaríamos de ir. Os nossos amigos e os inimigos, os animais, as plantas, os rios e oceanos, as estrelas e tudo o que o conhecimento pões ao nosso alcance. 
É um mundo imenso, tudo dentro do tubo de papel da lanterna chinesa. Tudo o que podemos imaginar, conceber, lembrar, incluindo o espaço com as suas constelações, buracos negros e transformações e todas as nossas vidas e as que provavelmente andam por aí sem que saibamos da sua existência.
Imaginemos agora que achatamos a lanterna, com tudo o que lá tem dentro. Ficamos com um disco de papel espalmadinho e pronto para ser guardado em qualquer canto. Diminuiu drasticamente de tamanho, mas o que lá estava dentro continua no mesmo sítio, só que arrumado de outra maneira. E fora dele, continua o resto da vida, tudo o que ainda não conseguimos apreender ou imaginar.
Isso põe tudo em perspectiva, está visto.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

quem tem medo do lobo mau?

Art image by Marita M. Ferreira
O medo sugerido é uma grande arma. Porque se nos pintam um cenário terrível, imaginamos o pior. Nem sequer o que os nossos inimigos conseguem imaginar como pior para nós, mas aquilo que nós próprios sabemos de que temos medo.
É o que acontece quando o Governo e as muitas troikas exteriores nos dizem que a crise está má e ainda vai piorar. Infelizmente, o Governo é democraticamente eleito por nós, para nos governar, mas apenas governa segundo os interesses dos outros. Os governantes são, por isso, pagos por nós, mas assalariados de corporações internacionais. E com elas nos ameaçam, com o maior dos descaramentos.
Ora, o que aconteceria se não aceitássemos o cenário de terror do Governo? Que aconteceria se deixássemos de pagar a dívida que nos impuseram? O apocalipse?
Não. Nem sequer isso. Claro que ficávamos mal, sem o crédito alheio, mas mal já nós estamos e ainda vamos ficar pior. Mas podemos escolher entre ficar mal, mas sermos donos do nosso destino, ou ficar mal e nunca sermos donos de nada, condenados a ser os fantoches de todas ascorporações internacionais que põem e dispõem da nossa vida e do nosso esforço.
O mundo acaba? Não. O País acaba? Não. As dificuldades acabam? Não. Mas acaba a pressão e aquilo com que tem de se lidar é muito mais humano, muito mais pragmático, muito mais certo.
Alguém alguma vez ouviu dizer que um país desapareceu do mapa por não ser capaz de pagar a dívida externa? Não, pois não? As pessoas desse país morreram todas? Desapareceram no espaço escuro? Não. Então o que lhes acontece? Nada, absolutamente nada. Continuam na bancarrota, mas os chupistas escolhem outros países para extorquir e deixam-nos em paz uns tempos.
Por isso, quem tem medo do lobo mau? O Governo? Então que tremam eles dos pés à cabeça. Os outros podem encolher os ombros e abandonar a brincadeira, porque deixou de ter graça.