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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

birras das crianças


Quando as coisas não lhes agradam, as crianças queixam-se, choram, fazem birra. Não têm outra forma de se manifestar, nem outras ferramentas para o fazer. Têm adultos que agem por elas, no sentido de lhes proporcionarem aquilo de que precisam.
As queixas deixam de ser uma opção quando crescem e passam a ter à mão as mesmas ferramentas das pessoas que delas cuidaram. Portanto, passar a vida adulta a fazer queixas e escolher não utilizar meios de gente crescida para resolver a vida é uma opção discutível.
É imaturo passar a vida ao lado de alguém de quem se diz mal, fazer queixas do patrão e do trabalho e não fazer nada para mudar de emprego ou a situação, protestar contra a injustiça e os políticos corruptos e não sair de casa para ir votar quando chega a altura.
As queixas são pretextos e desculpas para não se fazer o que está certo, o que é lógico e correspondente a quem cresceu e tem ferramentas para resolver as suas questões. Acontece que não há desculpa para não se fazer aquilo que nos apetece e nos parece justo. 
Passar o dia em queixas e protestos é extenuante. Até podemos começar por aí, mas o que vai mudar realmente alguma coisa é agir de acordo com o que queremos. 
Escolher a acção é mudar a nossa vida de um momento para o outro, sair do pesadelo e começar a andar na direcção do que queremos. 
Será assim tão difícil investir nas soluções o mesmo que investimos nas queixas? Será tão extraordinário viver como adultos em vez de estar sempre a fazer a birra das crianças?

terça-feira, 22 de maio de 2012

os xamãs de hoje

Artwork by MMFerreira
 Na secura do materialismo dos dias de hoje, os artistas são os únicos xamãs aceites e autorizados pela sociedade. Repositórios de conhecimentos esquecidos e ligações misteriosas com mundos paralelos de imensa riqueza, materializam-nos em manifestações artísticas que nos devolvem visões surpreendentemente belas, equilibradas e arrebatantes da realidade.
Em oposição a quem considera a arte fútil e inútil, quando vejo as multidões que acorrem a concertos, espectáculos e outras realizações criadas por gente capaz de ver e viver além da parca economia de sobrevivência, regozijo-me sempre com a eterna capacidade para sonhar e reinventar a realidade de que são capazes os artistas.
Toda a gente sabe que a arte não dá de comer porque o ouve repetidamente ao longo de toda a vida. No entanto, poucos são os que resistem ao arrebatamento de uma canção, de uma representação, de uma pintura, de palavras ditas e escritas.
É magia, sim, essa forma de comunicar com o que dentro de nós explode quando se encanta com uma peça artística. É magia essa coisa de pegar em sentimentos, objectos inertes, irracionalidades e transformá-los em coisas que fazem sentido, sendo embora intraduzíveis mesmo quando é nas palavras que desenrolam a beleza pela qual todos suspiram.
É magia essa capacidade de apelar com tanta autoridade ao que dentro de cada ser humano grita por algo mais.
O artista é o xamã que, com olho mágico, escrutina a alma e arranca dela ansiedades incontroláveis, desejos profundos, novas visões. Momentaneamente despojado das amarras materiais, mergulha no inconsciente colectivo como um caçador de pérolas para trazer à superfície minúsculas porções de riqueza.
Pode passar uma vida inteira sem o reconhecimento material do seu trabalho ou dos seus pares, mas dedica teimosamente toda a sua energia ao que é a sua função nesta vida. O seu trabalho aparentemente irracional e louco completa lacunas e é em geral tolerado. De vez em quando, censurado, porque também há quem nele intua a capacidade de uma arma. Não das que tiram vidas, mas das que a renovam e revolucionam.
Sem o peso do controlo humano que onera crenças e religiões, o xamã-artista circula quase livremente entre nós, contribuindo decisivamente para a contínua transformação de ideias e conceitos. É um visionário cujo rótulo de inutilidade é, de facto, o seu melhor escudo contra o controlo do estabelecido.