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sexta-feira, 24 de julho de 2020

silêncio intermitente


Hoje estou mesmo contente por ser sexta-feira. Esta semana foi exigente. Estou a precisar de um fim-de-semana calmo, contemplativo, silencioso.
(anda por aqui uma daquelas fantásticas máquinas camarárias que limpam ruidosamente os cantos aos passeios) (noutros dias são as máquinas de jardim) (e os autocarros que vão levar as crianças da escola à praia, que não desligam os motores enquanto esperam que as organizem para saírem a passeio) (ontem era uma grua a despejar contentores de recolha de lixo das obras) (para não falar nos berbequins, marteladas e toda a panóplia de ruídos invasivos que o restauro das casas exige) (e os diálogos em voz excessivamente alta entre os empreiteiros e os trabalhadores) (conversas intermináveis ao telemóvel, como se, de facto, o ganho esteja na repetição compulsiva de miudezas)
Agora está em voga o jejum intermitente. O corpo acumula lixo e é preciso depurá-lo. A poluição também é sonora e haveria que a depurar também. Metade das ansiedades ia-se embora com um bom plano de silêncio intermitente.
Parece que não nos fartamos de poluir, de muitas formas diferentes. O ruído é o segmento de poluição mais pesado que existe, porque parece que ninguém dá conta da sua existência.

sábado, 18 de abril de 2020

vermelhos, árvores e vento

"African Walk" by MMF
A memória mais antiga e persistente é de uns passeios ao final da tarde, numa rua de terra batida, entre árvores muito altas. Lembro-me da luz avermelhada, do vento na cara e do cheiro, de solavancos e vozes femininas à conversa. Passeios no carrinho empurrado pela rua principal de Vila Paiva de Andrade, hoje Gorongosa. 
Há por aí fotografias de sestas em cima de uma esteira e ao lado da leão da Rodésia que arreganhava os dentes às visitas que achavam a cena ternurenta e depois preferiam tomar o mazagran com limão no outro extremo da varanda.
As cores dos passeios e a felicidade permanecem, como o encantamento pelas árvores e pelo som que delas traz o vento.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

a tirania do som


Aqui a pensar no poder do som. Há quem diga que as pedras de grandes monumentos como as pirâmides foram transportadas e empilhadas com a ajuda de dispositivos de som. A Bíblia também testemunha que o Verbo deu origem ao mundo. Por outro lado, os países mais desenvolvidos parecem ser muito mais silenciosos do que os festejam as suas desgraças com carnavais e movidas de todo o género.
A falta de consciência sobre o nível de ruído que se produz é, sem dúvida, um sintoma de que algo não vai bem no reino humano. De que não se pausa para escutar nada nem ninguém, quanto mais o som do corpo que habitamos, o que precisamos de ouvir e se abafa em gritarias de todo o tipo.
Gritar é uma coisa desagradável e basta passar por uma escola num intervalo para entender que algo vai mesmo mal quando o que caracteriza um centro de suposta aprendizagem é o volume de som indiscriminadamente produzido pelos jovens estudantes.
O que se anda a ensinar, afinal? Que o mundo é uma cloaca ruidosa e assustadora? Que os conteúdos multimédia mais ruidosos são mais importantes do que os que reflectem sobre temas que nos ajudam a entender o mundo que nos rodeia.
O som tem poder, sim. Sobretudo o de nos alienar, monopolizando um sentido essencial. Mesmo as imagens, sem som, se esvaziam de sentido e são percebidas de forma completamente diferente sem a tirania que nos invade os ouvidos.
Será difícil entender por que razão quem não ouve parece ter uma postura completamente diferente perante a vida? E por que se crê ser necessário viver sob o domínio dos megafones e de infindos discursos sem sentido? 
Em determinado ponto, alguém decidiu que a melhor forma de imposição era a de afogar toda a gente em ruído e assim fechar as portas ao silêncio que nos ajuda a centrar e a pensar de forma correcta.

sábado, 19 de abril de 2014

voo interno



Entender o corpo como uma ferramenta. Verde, vermelho, azul, branco, como quisermos. Instrumento para um voo dos sentidos e para a descoberta de muito mais. O infinito que começa em nós e se desdobra em pregas de espaços e tempos só imaginados por nós. Sou vento, sou voo, sou fogo solto pelos céus. Liberdades sentidas na vibração de uma corda, de uma voz, do fundo de nós. A vida, não como um labirinto, mas como uma nuvem que se estende, espalha e desfaz, encantada pelas paisagens que sobrevoa. Em sintonia.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

desliguem o som!


Por que razão hão-de as pessoas falar tão alto nos cafés e nos restaurantes que se torna insuportável frequentá-los? Será por isso que agora tudo o que é espelunca para servir cafés tem música pimba a escorrer pelos altifalantes? E o barulho que fazem a arrumar a louça e a arrastar cadeiras e mesas? Será normal?
De uma coisa tenho a certeza: é quase impossível garantir um mínimo de silêncio em casa, na rua, nos locais públicos. Outra pergunta: haverá legislação efectiva que impeça as pessoas de enlouquecer com o barulho que toda a gente se lembra de produzir?
Não faço ideia se é normal haver adolescentes retardados com os telemóveis aos berros no metropolitano a debitar música para a carruagem inteira, nem se as pessoas fazem ideia das tristes figuras que produzem quando no meio da rua, em qualquer lado, têm conversas privadas aos gritos para o telemóvel.
Nos condomínios privados, por exemplo, poderia supor-se que haveria outro recato do que o da vizinha aos gritos com os filhos endiabrados, mas é uma ideia enganadora. Da ventilação dos prédios ao barulho dos elevadores, passando pela chinfrineira dos cortadores de relva ou dos aspersores de água nas zonas verdes, é um inferno de ruídos que nunca cessa.
Para tentar de algum modo isolar a minha existência, comprei um MP3 para abafar com música todo o clamor alheio. Só para descobrir que tenho de ligar o som no máximo para ouvir qualquer coisa - e tem de ser algo barulhento, porque a música clássica e o jazz, mesmo no máximo das capacidades do aparelho, não resistem ao ruído exterior.
Achava eu que os portugueses eram inexplicavelmente tensos, irritadiços e mal dispostos. Pudera... Sempre que estou em Portugal, acontece-me o mesmo e, acreditem: é este barulho infernal em todo o lado que dá cabo do nosso ânimo e da nossa disposição.
Por favor: desliguem o som!