Há mais marés que marinheiros e há tantos marinheiros (quase oito mil milhões, sempre a crescer) que nos é difícil fazer uma ideia do verdadeiro sentido das marés. Mal mergulhamos numa chega logo outra e outra.
Não admira que nos sintamos arrastados de um lado para o outro sem controlo e sem pé. E com uma irresistível vontade de bater asas e voar. Porque ser marinheiro não basta. Também é bom alapar numa rocha e sentir a segurança de um porto. Ou enterrar a cabeça na areia para não ver nem ouvir nada.
A Natureza não dá descanso, à imagem e semelhança da tempestade de pensamentos em constante desfile em cada mente humana. À cautela, deixam-se aqui de fora as restantes mentes, não vá o diabo tecê-las e conferir o mesmo poder aos animaizinhos, insectos, plantas e por aí fora. Aí é que a porca torcia o rabo e o caos ficava oficialmente estabelecido.
Somos umas coisas inconstantes, sempre a sonhar com ordem e tranquilidade, mas a deixar que a mente assuma livremente todos os nossos desejos, sem qualquer direcção definida. Somos o caos cá dentro, mas não o admitimos dentro de nós e espantamo-nos com o que se manifesta fora.
Uma cambada de inconscientes e marinheiros de água doce é o que somos. A estabelecer que não desejamos a ordem interior, mas a apontar o dedo à de fora. Isso faz-se, minha gente?